Sociedade civil quer denunciar “apagamento’ do crime e pedir punições
O dia 25 de novembro ficou marcado na história do Espírito Santo pelo ataque de um adolescente a duas escolas de Aracruz, no norte do Espírito Santo, culminado em quatro vítimas fatais e 12 feridos. Nessa data, a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, juntamente com entidades da sociedade civil, como Movimentos dos Atingidos por Barragem (MAB) e o Coletivo de Mulheres Dona Astrogilda, realizam uma audiência pública às 10h, como resgate de memória das vítimas e luta por justiça.
A integrante da coordenação nacional do MAB, Juliana Stein Nicoli, informa que é preciso defender que haja justiça não somente para as vítimas fatais, mas também as não fatais, que ainda sofrem com danos psicológicos e físicos, e para toda a comunidade escolar. “Até hoje a comunidade escolar não foi reconhecida como vítima por parte do Estado. Há uma tentativa de apagamento, querem dar um ar de normalidade à escola que não existe na prática entre os funcionários, entre os professores, por toda a comunidade escolar”, ressalta.
Juliana destaca a necessidade de punição, inclusive, para o pai do menor que cometeu o crime, já que a arma utilizada era dele. Ela afirma que a audiência será “um dia de memória, justiça e denúncia”, e destaca que um dos pedidos a ser feito na audiência é que o 25 de novembro seja uma data para rememorar o crime, para que não caia no esquecimento. Em 2023, a Assembleia Legislativa aprovou a mudança do Dia Estadual de Combate à Violência nas Escolas de 8 de maio para 25 de novembro, mas Juliana acredita que é preciso também a realização de atividades escolares de memória das vítimas, justiça e luta contra o fascismo.
Além disso, durante a audiência, haverá a defesa da criação de um memorial às vítimas. A ideia, afirma Juliana, é que seja feito na Escola Municipal de Ensino Fundamental e Médio Primo Bitti, em Coqueiral de Aracruz, uma das unidades de ensino na qual o crime aconteceu. Assim, o colégio deixaria de funcionar naquele imóvel, mas “estamos abertos a discutir a pauta”, declara.
Também faz parte da programação da audiência pública o pré-lançamento do livro Imprensados no tempo da crise – a gestão das afetações no desastre da Samarco (Vale e BHP Biliton) e a crise como contexto no território tradicionalmente ocupado na foz sul do Rio Doce, de Flavia Amboss, uma das professoras assassinadas na escola Primo Bitti. O livro é fruto de sua tese de doutorado, defendida um pouco antes de sua morte, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O lançamento oficial está previsto para março.
O crime
Os ataques foram feitos primeiramente na escola Primo Bitti, onde o atirador havia estudado até junho de 2022, cinco meses antes de o crime acontecer. Após arrombar o cadeado, ele invadiu a escola e acessou a sala dos professores, vitimando fatalmente as docentes Maria da Penha Banhos, Cybelle Bezerra e Flavia Amboss. Outras três professoras baleadas sobreviveram, mas estão com sequelas. Depois, o adolescente seguiu para o Centro Educacional Praia de Coqueiral (CEPC), escola da rede privada de ensino, onde matou a estudante Selena Sagrillo. Mais dois alunos foram baleados, mas conseguiram sobreviver.
O processo em relação ao adolescente autor dos ataques foi concluído pelo juiz Felipe Leitão, da Vara da Infância e Juventude de Aracruz. O magistrado aplicou a medida socioeducativa de internação pelo prazo de até três anos. Caberá ao Juiz da 3ª Vara da Infância e da Juventude de Vitória, com base em pareceres técnicos da equipe do Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo (Iases), avaliar, a cada seis meses, a internação. Foi aplicada, ainda, uma medida protetiva de acompanhamento psiquiátrico durante o período de cumprimento da medida de internação.
O pai do adolescente também é investigado pela Polícia Civil (PC), que averigua suas possíveis contribuições com o crime e quais as relações do adolescente de 16 anos com células nazistas e fascistas que se expandem pelo país. Um dos pontos da investigação é descobrir se o pai ensinou o filho a dirigir e atirar.