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Carta de repúdio à ação da PM contra padre Kelder é entregue a Casagrande

Dois bispos do Estado assinam documento, junto com 44 participantes do Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base

Os bispos Dom Lauro Sérgio Versiani Barbosa, da diocese de Colatina (noroeste do Estado); e Dom Luiz Fernando Lisboa, da diocese de Cachoeiro de Itapemirim (região sul), juntamente com o restante da comitiva capixaba que participou do 15º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base realizado em Rondonópolis, Mato Grosso, de 18 a 22 de julho, divulgaram, nesta terça-feira (25), uma carta de repúdio à tentativa de intimidação contra o padre Kelder Brandão por parte da Polícia Militar (PM). O documento foi entregue ao governador Renato Casagrande (PSB).

Dom Lauro e Dom Luiz são, respectivamente, presidente e vice-presidente da Regional Leste 3 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), da qual as dioceses do Espírito Santo fazem parte. Eles assinam a carta com mais 44 integrantes da comitiva.

“É inadmissível que os poderes do Estado usem de suas estruturas na tentativa de silenciar, de forma truculenta, os gritos dos que defendem o povo mais sofrido e com menor acesso às políticas públicas”, diz a carta. No documento consta, ainda, que Jesus “convoca a olhar pelos pobres, excluídos e marginalizados”, atitude que “carrega o risco da incompreensão e da desconfiança”.
Contudo, “de certo modo, o Espírito Santo em nós, nos prepara para isso. Não obstante, também nos impulsiona – por voz profética – a denunciar as injustiças e os abusos dos poderes instituídos, quando, no uso de suas atribuições, desrespeitam o direito à liberdade e à vida plena e pressupõe, de forma preconceituosa, que aqueles que defendem os mais fracos e marginalizados possam ser coniventes com práticas e costumes ilegais”.
O texto termina destacando que “é sempre tempo de lembrar que a missão da Igreja é a defesa da vida, certos de que: ‘Se calarem a voz dos profetas, as pedras falarão’ (Lc 19,40), uma vez que a truculência nunca calou a ação de Deus, manifestada em seus profetas de ontem, de hoje e, muito certamente, de amanhã. Nossas causas valem mais que nossas vidas!”.

O Intereclesial de CEBs reúne representantes das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) de todo o Brasil para melhor articulação e partilha de experiências, como desafios, sofrimentos e conquistas, e fazer encaminhamentos.
Intimidação
Na última semana, policiais militares entraram no pátio da comunidade matriz Imaculada Conceição, em Itararé, no Território do Bem. A comunidade faz parte da paróquia Santa Teresa de Calcutá, na qual o padre Kelder Brandão atua como pároco. 

O ocorrido foi encarado como uma tentativa de silenciar o sacerdote, que tem feito críticas às operações violentas das forças de segurança pública nas comunidades periféricas.

A ação da PM motivou a realização de uma missa de desagravo, idealizada pelos movimentos sociais. A missa foi celebrada pelo bispo auxiliar da Arquidiocese de Vitória, Dom Andherson Franklin, na própria comunidade, nesse domingo (23). Ao final, foi lida uma nota assinada por 119 entidades, entre elas, uma internacional, a Justiça Global, que destacou o histórico de atuação do padre Kelder na defesa dos direitos humanos.
Leonardo Sá

O sacerdote, após a leitura da carta, classificou a ação da PM como “uma ação obscena, ilegal, imoral, da Polícia Militar, que com os portões fechados, na calada da noite, entrou fortemente armada neste espaço com cães farejadores sabe-se lá à procura de quê e pra quê”. Destacou, ainda, que os policiais fizeram isso sem mandado judicial, sem conversar com ele, com alguém da comunidade, com o arcebispo Dom Frei Dario Campos nem com o bispo auxiliar.

“Transformamos o escândalo em ato de desagravo, de resistência à violência da polícia, que está acostumada a fazer isso na casa dos mais pobres, dos mais necessitados e vulnerabilizados”, disse. E fez um convite: “que a nossa voz se junte a tantas outras vozes das nossas periferias e digamos todos juntos ‘somos todos periféricos! Vidas pobres importam!”.

Logo após a missa em Itararé, teve início uma em São Paulo, celebrada pelo padre Júlio Lancelotti, e que contou com a presença do padre da Arquidiocese de Vitória, Vitor Noronha. A missa não foi motivada pelo ocorrido em Itararé, mas padre Júlio enviou uma saudação especial a Kelder, “que está sendo duramente perseguido por estar do lado dos pobres, por estar do lado dos que mais sofrem. Queremos manifestar ao padre Kelder todo nosso apoio e pedir ao ministro dos Direitos Humanos que tenha especial atenção aos defensores dos direitos humanos. O Brasil é um dos países do mundo que mais mata defensores de direitos humanos”.


‘Estão tentando intimidar o padre Kelder, mas não vamos aceitar’

Movimentos farão missa em desagravo à entrada de policiais com cães farejadores nas dependências de igreja em Itararé


https://www.seculodiario.com.br/seguranca/estao-tentando-intimidar-o-padre-kelder-mas-nao-vamos-aceitar

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