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‘Censurômetro’ da Associação dos Cabos e Soldados volta a denunciar perseguição a policiais militares

Um censurômetro instalado na página eletrônica da Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Estado do Espírito Santo (ACS-ES) informa que o soldado Nero Walker está preso preventivamente há 290 dias, por manifestar sua opinião sobre a política estadual de segurança pública. As audiências do caso são seguidamente canceladas e o jovem permanece detido, numa ação explícita, avalia a categoria, de censura.

Nero Walker foi preso no dia 16 de junho de 2017, no bairro Amarelos, em Cachoeiro do Itapemirim, sul do Estado. Durante a ação da polícia, o soldado iniciou uma transmissão ao vivo em uma rede social mostrando sua própria prisão. No vídeo, argumentou o motivo da prisão  (postagens no Facebook interpretadas pelo Comando da Polícia Militar como perturbação da ordem) e questionou os mandados de prisão e busca e apreensão. Sem abrir o portão de casa, Nero Walker exigiu no dia de sua prisão que os mandados fossem lidos por um policial antes de a prisão ser efetuada.

No último dia 22 de janeiro, data de seu aniversário de 24 anos, sua mãe e irmã fizeram uma homenagem ao soldado, estendendo uma faixa de “Parabéns”. A singela manifestação foi registrada no site da ACS-ES, que chamou atenção para a tentativa de intimidação do governo “ao ato de apenas duas mulheres”. Isso porque, o comando da PM mobilizou todo o efetivo da Companhia Independente de Missões Especiais (Cimesp).

“Enquanto mãe e filha estendiam faixas a cada fechamento de semáforo, na porta do Quartel do Comando Geral, uma viatura da Cimesp fechava a entrada do local. Com armas em punho e fitas de isolamento, as calçadas de acesso ao QCG foram isoladas e por causa deste isolamento, Sandra e Géssica prestaram homenagem ao Soldado Nero do outro lado da calçada”, acrescenta a entidade.

Além da viatura posicionada na porta do Quartel do Comando Geral, continua a associação, um grupo com cerca de 30 militares aguardava em uma quadra dentro do QCG a postos, prontos para descerem e coibirem o ato. “Será que apenas duas frágeis e indefesas mulheres são capazes de abalar a estrutura de uma corporação a ponto do governador ordenar ao comandante geral mandar uma tropa inteira ficar disponível para 'atacar' a qualquer momento?”, questiona.

Mais de 800 indiciamentos

Nero é o caso mais grave da intimidação que se estende a centenas de militares que se manifestam contrariamente à gestão da segurança pública no Estado. São mais de 800 pessoas indiciadas em Inquéritos Policiais Militares (IPMs) desde o movimento reivindicatório promovido por esposas e familiares de militares, que impediu a saída de viaturas dos quartéis, durante quase um mês, em fevereiro de 2017.

O número, adverte o presidente da ACS-ES, sargento Renato Martins Conceição, é apenas o que se tem registrado na Associação, havendo, provavelmente, muitos outros IPMs abertos, que a entidade desconhece. 

O próprio presidente é alvo de um inquérito, além do presidente da Associação dos Oficiais Militares do Espírito Santo (Assomes), tenente-coronel Rogério Fernandes Lima. As duas entidades são as únicas que têm se manifestado contra as medidas estatais que fragilizam a segurança pública capixaba. 

“A gente continua sem poder expressar nossa opinião, sem poder falar em nome da classe livremente”, protesta o sargento Renato. Ele diz que essa censura é extremamente maléfica para a sociedade como um todo.

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