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Coletivos de mulheres convocam protesto e pedem justiça por socióloga em Anchieta

Assassinato de Luciana Antonini, que também era ativista social e ambiental, é denunciado como mais um caso de feminicídio no município

Coletivos de mulheres convocam para esta quinta-feira (22), em Anchieta, sul do Estado, uma manifestação por justiça para Luciana Antonini, ativista, ambientalista, socióloga e mestra em geografia, cujo corpo foi encontrado nesse sábado (17) na Praia da Ponta dos Castelhanos, com sinais de estupro. O protesto será às 16h, na Praça da Vila Samarco, Centro do município.

Segundo a militante do coletivo local Mulheres que Lutam, Fabbyanna de Carvalho, será feita uma encenação, além de instaladas cruzes no local. Um varal de roupas também denunciará que não há justificativas para a violência sexual, e mulheres soltarão balões pretos, em demonstração de luto; lilás, por remeter ao feminismo; e, no final, brancos, sinalizando um pedido de paz.

Outros coletivos fazem parte da organização, como o Fórum de Mulheres do Espírito Santo (Fomes). Quem quiser participar do ato, é obrigatório o uso de máscara e álcool em gel, devido à pandemia da Covid-19.

O protesto também irá recordar casos de feminicídio registrados no município este ano. Um deles, da recepcionista Lúcia Márcia Pastor Correa, assassinada em sete de fevereiro a facadas pelo ex-marido, na praia da Guanabara. O outro é o da empresária Euzineia Loyola, no mês de agosto, estrangulada dentro da piscina.

Fabbyanna considera que, em Anchieta, a violência contra a mulher é muito enraizada e aponta que faltam políticas públicas com foco no combate e prevenção a essa problemática. “A cidade é muito provinciana. As mulheres têm dificuldade de falar no assunto, que sofrem violência. É como se tivessem vergonha, pois a cidade é muito pequena, todo mundo fica sabendo, falando, mas não se dispõe a ajudar. Para elas, é melhor silenciar”, afirma. O Centro de Referência em Atendimento à Mulher de Anchieta está fechado há anos, como alerta.

Em sua última publicação feita no Facebook, há quatro dias, Luciana Antonini denunciou a cultura do estupro por meio de um vídeo no qual mulheres debatem sobre a tendência de culpar a vítima de abuso sexual pelo crime cometido contra ela.

Repúdio e indignação

Heloísa Dias, do Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (RBMA) e que atua como ponto focal da RBMA no Espírito Santo, diz que a Reserva recebeu com repúdio e indignação a notícia do assassinato e do estupro de Luciana Antonini, que atuou na RBMA defendendo questões ambientais. A RBMA pede apuração e punição ao responsável.

Heloísa destaca, ainda, que é preciso averiguar se o crime não tem relação com o fato de Luciana ter sido ativista, uma vez que, no atual contexto, essas pessoas têm sido ameaçados. Ela salienta que a RBMA se indigna com o feminicídio e tantas outras formas de violência e salienta que o próprio presidente Jair Bolsonaro, por meio de suas falas, incentiva uma política de incentivo ao extermínio das mulheres, dos negros, dos povos tradicionais e do meio ambiente.

Luciana também atuou na Cáritas, organização da Igreja Católica que atua em causas humanitárias. O secretário regional da Cáritas Brasileira no Espírito Santo, Rafael Aquiles Kofler, ressalta que ela fazia atividades como elaboração de projetos para captação de recursos e ações ambientais, a exemplo das voltadas para as questões climáticas, fazendo “um trabalho valoroso e tendo como uma de suas características a simplicidade”.

Em sua página nas redes sociais, a Cáritas Regional Espírito Santo afirmou que “não dá para expressar nossa indignação frente à violência contra a mulher. Novamente aconteceu”. Disse também que Luciana era “uma pessoa da paz e sempre comprometida com a defesa das pessoas mais vulneráveis”, e que a Cáritas segue “em sua memória, ainda tristes, mas comprometida com seu legado”.

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