quinta-feira, novembro 14, 2024
22.7 C
Vitória
quinta-feira, novembro 14, 2024
quinta-feira, novembro 14, 2024

Leia Também:

Comando da PM usa transferências compulsórias para punir policiais

Em nova investida contra o movimento de familiares de policiais militares, que há 19 dias bloqueiam as saídas dos batalhões, o Comando da Polícia Militar iniciou a transferência de oficiais e praças entre batalhões. Em alguns casos, os policiais militares foram transferidos para municípios distantes mais de 200 quilômetros daqueles em que já atuam.

A maioria das transferências segue a mesma lógica, há casos de policiais transferidos do 7º Batalhão, em Cariacica, para o 2º Batalhão, em Nova Venécia, no noroeste do Estado; do 1º Batalhão, em Vitória, para o 13º Batalhão, em São Mateus, no norte do Estado; e do Batalhão de Trânsito (BPTran), também em Vitória, para o 14º Batalhão, em Ibatiba, na região do Caparaó.

De acordo com o presidente da Associação dos Oficiais da Polícia Militar do Estado (Assomes), major Rogério Fernandes, a transferência de policiais militares é uma discricionariedade do Comando, mas a o departamento jurídico da Assomes vai analisar cada caso de oficial transferido para se cabe alguma ação judicial no sentido de reverter a decisão do Comando Geral.

O major ressalta que a associação vai ouvir os oficiais transferidos e gostaria de, também, ouvir o Comando para saber a motivação das transferências. Segundo ele, se for comprovado que as transferências foram imotivadas, a Assomes acionará a Justiça para reverter.

A transferência se junta a outras medidas tomadas pelo Comando Geral para pressionar para o fim do movimento. No Diário Oficial desta quinta-feira (23) foram publicadas diversas portarias mudando todo o alto escalão da Polícia Militar.

Dentre as mudanças está a Corregedoria da Polícia Militar. O então corregedor, coronel Ilton Borges, agora será comandante de Polícia Ostensiva Norte.

As mudanças atingem os cargos que serão responsáveis por apurar os Inquéritos Policiais Militares (IPM) abertos contra os 2,5 mil policiais, o que corresponde a 25% do efetivo.

As transferências e trocas no comando se juntam a outras estratégias para tentar criminalizar o movimento das mulheres dos policiais e os próprios militares.

Com o fim das tratativas, com o governador Paulo Hartung fechando a porta para a negociação, o governo agora passa a ideia que os policiais que “não querem voltar ao trabalho” serão eliminados. Isso também mostra que não vai haver nenhum acordo, já que o discurso é cada vez mais duro em relação aos “amotinados”. A narrativa de criminalizar o movimento funciona tanto para intimidar a corporação e as mulheres quanto para colocar a sociedade contra a paralisação.

No entanto, tudo o que foi levantado pelo governo, que apontou que crimes poderiam ser atribuídos a policiais militares – incêndios a ônibus; agressão ao frei Beto Engel, no Convento da Penha; supostas ameaças ao secretário de Estado de Segurança Pública, André Garcia; e a ameaça entre os próprios policiais militares – não tiveram ainda comprovação de autoria. A tática também passou pelo anúncio da extinção do Batalhão de Ronda Ostensiva Tática Motorizada (Rotam) e do Batalhão de Missões Especiais (BME), apontando as unidades como radicalizadas.

Essas medidas criam a condição para tirar mais de 2 mil policiais do serviço, mas não se sabe como a tropa reagirá a uma punição coletiva, o que pode gerar nova crise. Quando se adota o discurso da criminalização, abre-se caminho para colocar uma parcela dos policiais como criminosos e quando pede a prorrogação de permanência das Forças Armadas por mais 30 dias, o governo acredita que conseguirá desmobilizar as mulheres, o que liberaria as viaturas dos batalhões, o que dá efeito visual convincente, mesmo que não haja todo o efetivo nas ruas.

Mais Lidas