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Comissão de Justiça e Paz repudia megaoperação em Jesus de Nazareth

A Comissão de Justiça e Paz (CJP) da Arquidiocese de Vitória divulgou nota pública repudiando a megaoperação feita na última quinta-feira (17), no bairro Jesus de Nazareth, em Vitória, que mobilizou 380 policiais, incluindo Polícia Militar, Civil, Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal.
 
A nota ressalta que os moradores se transformaram em pretensos criminosos e viram suas casas serem alvos de mandado de busca e apreensão genérico e anticonstitucional. “O simples fato de residir em um bairro de menor poder aquisitivo justificou a ‘fundada suspeita’ de que todos ali estariam envolvidos na criminalidade”.
 
A operação, que teve duração de oito horas, teve início antes das 6h da manhã, com interdição de parte da Avenida Beira Mar para a incursão no bairro. Para a CJP, o aparato demasiadamente ostensivo e claramente desproporcional usado pelas forças de segurança – para, ao final, prenderem seis pessoas – é evidência de que o objetivo da operação foi puramente simbólico. “Ali se evidenciou sim o processo de criminalização da pobreza, que avança em acelerada marcha na sociedade brasileira”.
 
A entidade também ressalta que o governo não está interessado em enfrentar as verdadeiras causas da violência e, com a operação, revela a verdadeira face – esvaziada de verdade – do programa “Ocupação Social” nas periferias.
 
“A ação espetaculosa das polícias no bairro Jesus de Nazareth traz à luz a hipocrisia do sistema de segurança e justiça, quando imprime o rótulo da criminalidade indistintamente a toda a população de um bairro apenas pela sua classificação sócio-econômica, sem considerar que é nos bairros nobres da Capital que vivem os que verdadeiramente se enriquecem com o tráfico no atacado, sonegação, fraudes em licitações, propinas e atividades mais rendosas do crime organizado”, diz a nota da CJP.
 
A comissão acredita que a ação pirotécnica das forças de segurança do Estado não teve como foco o verdadeiro combate à criminalidade, apenas serviu para lançar uma cortina de fumaça diante da gravíssima crise pela qual passa a segurança pública no Espírito Santo desde a paralisação da Polícia Militar, em fevereiro deste ano, lançando algumas regiões do Estado a uma situação de barbárie. “E o bode expiatório acaba sempre sendo a população mais pobre e indefesa, que deveria ser protegida pelo Estado, nunca atacada e vilipendiada”.
 
Nota na íntegra
 
A Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Vitória, na sua missão de defender incondicionalmente a vida, vem a público manifestar indignação e perplexidade com a recente operação policial realizada no Bairro de Jesus de Nazaré. Fazemos isso para reafirmar a opção preferencial da Igreja pelos pobres, consagrada em seus documentos oficiais, e por compreender que é no rosto do excluído que reconhecemos o rosto do Cristo sofredor (cf. Mt, 25, 31-46).
 
Segundo a imprensa local, a operação contou com a presença de 380 policiais oriundos das diversas Instituições Estaduais e Federais (PM, PC, PF, PRF) que atuam em território capixaba e se dirigiu indistintamente a todo território daquele Bairro. Cercados por terra, céu e mar, todos os moradores transformaram-se em pretensos criminosos e viram suas casas serem alvo de mandado de busca e apreensão genérico e anticonstitucional. O simples fato de residir em um Bairro de menor poder aquisitivo justificou a “fundada suspeita” de que todos ali estariam envolvidos na criminalidade. O aparato demasiadamente ostensivo e claramente desproporcional utilizado pelas forças de segurança para ao final prenderem 06(seis) pessoas é a evidência mais contundente de que o objetivo da operação foi, antes de tudo, simbólico. Ali se evidenciou sim o processo de criminalização da pobreza, que avança em acelerada marcha na sociedade brasileira. 
 
Tal operação demonstra que o governo não está preocupado em enfrentar as verdadeiras causas da violência e revela a verdadeira face, esvaziada de verdade, de seu principal projeto de “Ocupação Social” das periferias, tão alardeado nas mídias corporativas. 
 
A ação espetaculosa das polícias no Bairro Jesus de Nazaré traz à luz a hipocrisia do sistema de segurança e justiça, quando imprime o rótulo da criminalidade indistintamente a toda a população de um bairro apenas pela sua classificação sócio-econômica, sem considerar que é nos bairros nobres da capital que vivem os que verdadeiramente se enriquecem com o tráfico no atacado, sonegação, fraudes em licitações, propinas e atividades mais rendosas do crime organizado. Ninguém poderia imaginar que uma operação como essa ocorresse em bairros nobres, até porque os criminosos que conseguem renda suficiente para viver nesses bairros compartilham o mesmo território de moradia com políticos, magistrados, proprietários de meios de comunicação, ocupantes de escalões superiores do poder público, grandes empresários, etc. 
 
Portanto, acreditamos que a ação pirotécnica e aviltante das forças de segurança do Estado não teve como foco o verdadeiro combate à criminalidade, senão que apenas serviu para lançar uma cortina de fumaça diante da gravíssima crise pela qual atravessa a Segurança Pública do Espírito Santo desde a greve da polícia militar, que lançou o estado, em Comissão de Justiça e Paz Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo algumas regiões, a uma realidade de barbárie. E o bode expiatório acaba sempre sendo a população mais pobre e indefesa, que deveria ser protegida pelo Estado, nunca atacada e vilipendiada. 
 
O enfrentamento e controle do crime não podem ser realizados usando como recurso o abuso, a prepotência e o arbítrio que negam o Estado Democrático de Direito, naturalizando o Estado como Violador dos Direitos Humanos e da Constituição da República Federativa do Brasil. Se as autoridades de segurança desejam mostrar serviço, deveriam começar por arrumar a própria casa, conferindo dignidade ao servidor policial, abstendo-se de práticas não republicanas e marcadas pelo caráter de pessoalidade, respeitando os textos da Constituição Federal e da Declaração Universal dos Direitos Humanos e entendendo, de uma vez por todas, que pobreza não é sinônimo de criminalidade e que questão social é bastante diferente de questão policial.
 
Como seguidores de Cristo, pugnamos que nossas autoridades se dediquem diuturnamente pela construção da paz que, sabemos, só será possível quando efetivamente houver justiça! 
 
Vitória, 21 de Agosto de 2017.
 
COMISSÃO DE JUSTIÇA E PAZ DA ARQUIDIOCESE DE VITÓRIA
 

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