As mortes de um agente do Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo (Iases) e de um soldado do 7º Batalhão da Polícia Militar (PM), nesse domingo (24), vítimas da Covid-19, alertam para a propagação do vírus em meio aos profissionais da segurança pública do Espírito Santo. Além disso, a Associação dos Investigadores da Polícia Civil (Assinpol) denuncia a falta de medidas de prevenção entre os trabalhadores.
Em nota, a PM informou que o policial Jean Zanon Venturim Ronconi estava afastado de suas atividades profissionais desde oito de maio por causa de sua infecção pelo coronavírus, sendo transferido no dia 15 do mesmo mês do Hospital da Polícia Militar (HPM), em Vitória, para o Hospital Jaime dos Santos Neves, na Serra. Já o agente socioeducativo Ademir Ferreira dos Santos, segundo o Iases, estava afastado de suas atividades desde o dia três de maio, quando apresentou sintomas da doença.
No dia 13, informa o Iases, o servidor procurou um pronto atendimento no município de Cariacica, sendo transferido no dia seguinte para o Hospital Dr. Jayme. O instituto informa que 31 servidores e um interno testaram positivo para o novo coronavírus, e que o adolescente apresentou sintomas no dia 11 de maio, sendo conduzido a um pronto atendimento, onde recebeu atendimento médico, foi testado para Covid-19, e retornou à unidade para isolamento respiratório. Após cumprir as orientações médicas, afirma o Iases, não apresentou mais sintomas.
O instituto explica que ele retorna ao convívio aos poucos a partir desta terça-feira (26), mantendo as práticas de higienização e distanciamento físico. Já os servidores se recuperam em isolamento residencial, apresentando sintomas sem agravamento. O Iases afirma seguir protocolo de testagem estabelecido pela nota técnica 29/2020, da Secretaria de Estado de Saúde (Sesa), referente a servidores das forças de segurança e da população privada de liberdade. Os testes são realizados quando há aparecimento de sintomas, informa.
Servidores do Iases afirmam que a maioria dos trabalhadores infectados trabalha nas unidades, tendo contato direto com os internos, o que faz com que os servidores acreditem que haja um número maior de adolescentes infectados do que o informado. Outro fator que colabora com essa crença é o fato de que as testagens estão sendo feitas somente com quem apresenta os sintomas.
Eles defendem, ainda, que é preciso fazer a testagem principalmente em adolescentes das unidades onde há casos de servidores e internos infectados. Os trabalhadores ressaltam que adolescentes com Covid-19 podem transmitir a doença para seus familiares ao retornar para casa depois de cumprir medida socioeducativa privativa de liberdade, devendo ser testados antes de voltar para os lares.
Na Polícia Civil não há nenhum caso de morte por Covid-19, relata o presidente da Associação dos Investigadores da Polícia Civil (Assinpol), Antônio Fialho Garcia Júnior. Entretanto, ele afirma que há mais de 20 contaminados, entre delegados, escrivães, agentes e investigadores. O presidente relata que não está sendo realizada nenhuma medida de prevenção à Covid-19 entre a PC e faltam Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), como álcool em gel e máscaras.
“Adquiriram seis mil máscaras descartáveis. Se dividir entre os dois mil policiais, dá uma média de três para cada um, ou seja, é material só para um dia de trabalho”, informa. O presidente da associação também critica a ausência de testagens. “A esposa de um policial foi infectada. Por causa disso ele resolveu fazer o teste e viu que também havia sido infectado. Como não tinha os sintomas, não sabia, por isso, estava indo ao trabalho”, conta Antônio.
O presidente da associação afirma não recomendar a ninguém ir a uma delegacia. “Quer se sentir seguro? Não vá a uma delegacia, você pode sair de lá infectado. Não tem a higienização necessária, não tem proteção de acrílico, está mais insalubre do que os hospitais”, diz. Segundo Antônio, parte dos poucos equipamentos de proteção fornecidos não é apropriada, como álcool em gel 46, em vez de 70%.
A Assinpol destaca, ainda, que reivindica que a Covid-19 seja reconhecida como acidente de serviço, uma vez que, ao pegar doença comum, a pessoa pode ser prejudicada em sua vida funcional no futuro, sendo negada progressão, por exemplo. A entidade já denunciou a situação para o Ministério Público do Espírito Santo (MPES), Secretaria de Estado de Justiça (Sejus) e chefia da Policia Civil.
“Atuamos em um serviço essencial, deveríamos ser testados e receber EPIs. Queremos que o Estado nos proporcione o direito de trabalhar dignamente”, critica Antônio.