Mobilização foi motivada pela morte de três jovens em ações da PM
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O coletivo Flexal Resiste realiza, neste domingo (16), a 1ª Marcha Contra o Extermínio da Juventude de Flexal 2. A manifestação, com concentração às 9h, no Campo do Apollo, foi motivada pela morte de três jovens da comunidade em ações policiais no ano de 2025. Os manifestantes vão percorrer as ruas do bairro e depois voltar para o campo, onde haverá ações de grafitagem.
Amanda Nogueira, uma das integrantes do coletivo, relata que na segunda semana de janeiro, policiais militares adentraram a casa de um jovem, o mataram e disseram que houve confronto. O rapaz, afirma, era envolvido com o tráfico, mas Amanda destaca que “isso não é motivo para matar alguém”. “No Brasil não tem pena de morte, mas a polícia chega matando, exterminando”, critica.
Amanda defende que pessoas envolvidas no tráfico “devem ser punidas da forma legal”. As outras duas mortes aconteceram no dia 6 de fevereiro. Um jovem, chamado André, levou três tiros nas costas. A outra vítima se chamava Thierres, que levou um tiro de fuzil na cabeça. A integrante do Flexal Resiste relata que um helicóptero desceu no Campo do Apollo e chegaram cerca de 30 policiais em viaturas, que adentraram um beco atirando.
Os rapazes correram em direção ao mangue, onde havia mais policiais, e foram baleados. Também nesse caso, a Polícia Militar (PM) alegou que houve confronto. “Que confronto é esse que a pessoa leva tiros nas costas? Ele estava fugindo. Como dois traficantes entram em confronto com cerca de 30 policiais?”, questiona. Amanda afirma que ações policiais desse tipo não eram comuns na região, como acontece em Vitória, a exemplo do Território do Bem. Por isso, a comunidade quer se organizar para “cortar o mal pela raiz”.
O Flexal Resiste foi criado este mês, segundo Amanda, “para lutar contra toda forma de violência em Flexal 2”. Nessa segunda-feira (10), o coletivo se reuniu com a comunidade no Campo do Apollo para falar sobre a marcha. Amanda denuncia que, durante a reunião, policiais ficaram “encarando” como forma de intimidar, e pararam somente com a chegada da vereadora de Cariacica, Açucena (PT).
Violência policial
Um caso recente de violência policial, que ganhou bastante repercussão no Espírito Santo, é o do vistoriador de veículos Danilo Lipaus Matos, de 20 anos, morto com cinco tiros no peito durante uma abordagem policial no dia 31 de janeiro, em Colatina, na região noroeste. Ao todo, foram disparados 44 tiros, sendo 15 efetuados pelo sargento Renan Pessimílio, mais 15 pelo soldado Eduardo Nardi Ferrari, 12 pelo cabo Rodrigo de Jesus Oliveira, e dois pelo soldado Ramon Lucas Rodrigues Souza.
“O caso de Colatina é um bom exemplo para dizer que a câmera pode prevenir o uso desproporcional da força policial. Somente a certeza de que não há monitoramento e transparência na ação da força pública leva alguém a disparar 44 tiros contra uma pessoa sozinha num carro, desarmada, sem dívida com a polícia, aparentemente uma pessoa da comunidade, que todo mundo conhecia. Então, é um exemplo claro que não é possível permitir que essa política, que é pública, paga com recursos públicos, não tenha mecanismos de monitoramento e fiscalização”, ressalta o ativista do Movimento Nacional de Direitos Humanos no Espírito Santo (MNDH/ES), Gilmar Ferreira.
Em Cachoeiro de Itapemirim, no sul, também houve recentemente um caso de agressão policial. Um vídeo enviado para Século Diário nessa segunda-feira (10), mostra um PM dando chutes em um homem rendido e algemado. Segundo a denúncia, o caso teria ocorrido nesse domingo (9), por volta das 12h, na parte de trás da Praça de Fátima, no Centro.
As imagens, capturadas de cima, mostram policiais retirando um homem, sem camisa, de um local em que, aparentemente, ele estava rendido. Um dos agentes segura o homem pelas costas, e outros três caminham atrás dele. No meio do caminho, o policial que carrega o homem detido começa a dar chutes na parte inferior das pernas dele, e o joga contra um muro, quando também dá joelhadas nas nádegas do detido. Outro policial ajuda a segurá-lo contra a estrutura de concreto nesse momento.
Depois, o homem é levado para um camburão, quando o mesmo policial que o carregava inicialmente lhe dá outros chutes. Em seguida, os policiais ficam analisando uma moto estacionada, que seria do homem preso. Não é possível identificar quem são as pessoas envolvidas e o contexto da abordagem, e o governo, questionado, não informou sobre a ocorrência.
Em setembro do ano passado, oito mortes foram registradas em ações policiais na Capital, três delas no Território do Bem. As primeiras vítimas foram Breno Passos Pereira da Silva, de 23 anos, e Matheus Custódio Batista Quadra, de 26, alvejados em São Benedito no dia 9. Breno, de acordo com moradores do bairro São Benedito, foi assassinado em um beco, quando a polícia chegou atirando. Matheus foi alvejado cerca de 30 minutos depois, quando, ao fugir da polícia, entrou na casa de uma moradora. Os policiais, então, adentraram a residência, o algemaram e disparam contra ele.
A última morte foi de Davi, de 16 anos, conhecido na comunidade como Dan, que levou um tiro na cabeça ao sair de casa para comprar refrigerante. Moradores afirmaram que não houve confronto com a corporação. Os relatos são de que, por volta das 17h, as viaturas rondavam a parte de baixo do bairro Bonfim. Depois subiram a Escadaria do Trabalhador, foram para o Bairro da Penha e São Benedito. Alguns policiais se esconderam na mata. Ao ver as viaturas, um grupo de jovens correu. Davi, que tinha saído para comprar refrigerante, acabou correndo também. Foi quando os policiais que estavam na mata dispararam vários tiros em direção aos rapazes, acertando a cabeça de Davi.
Pessoas da comunidade, então, foram até o local, onde, afirmam, avistaram policiais com o pé na cabeça do rapaz. Elas relataram que pediram para enviar Davi para o hospital, mas os PMs ameaçaram atirar contra os moradores que estavam ali. “Quando pegaram o corpo e desceram com ele na escadaria, a cabeça batia nos degraus. Uma parte do cérebro do menino caiu. Jogaram no camburão como se fosse um lixo”, denunciaram. O ocorrido motivou manifestações nas comunidades de Consolação, Gurigica e Bairro da Penha.