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Enquanto mortes de irmãos seguem sem respostas, mais uma execução é registrada no Morro da Piedade

O Morro da Piedade, no Centro da Capital, foi palco mais uma vez da violência nessa segunda-feira (28). Outro morador, Lucas Teixeira Verli, de 19 anos, foi assassinado, fazendo crescer as estatísticas de homicídios contra negros e moradores de regiões periféricas. O crime ocorreu dois meses depois de outro que causou comoção no Estado: a execução dos irmãos Damião Reis, 22 anos, e Ruan Reis, 20, alvejados com mais de 40 disparos no dia 25 de março deste ano. Eles também viviam na comunidade. 
 
O assassinato dessa segunda-feira (28) tem características semelhantes a dos irmãos. De acordo com relato de moradores, um grupo com mais de 20 criminosos chegou ao bairro atirando contra as residências por volta das 20h40. Lucas, que jantava na varanda de sua casa, foi alvejado com vários tiros, inclusive no rosto.  Entre os atiradores, homens com máscaras para esconder os rostos. 
 
O crime do jovem Lucas Verli pode ter entrar na lista dos sem solução, assim como os de Damião e Ruan. Passado pouco mais de dois meses, a Polícia Civil capixaba não identificou os autores da execução dos irmãos e provavelmente não o fará. Mas o silêncio da Polícia não é o único nesse contexto. Governo do Estado e Prefeitura da Vitória, acionados pelos movimentos sociais em busca de solução para fazer cessar as mortes de jovens negros e para maior atenção aos morros da Capital, aguardam, até o momento, confirmação de audiências solicitadas com o governador Paulo Hartung e com o prefeito da Capital, Luciano Rezende (PPS).
 
 
“A única coisa que foi feita pela Prefeitura foi uma capina na Piedade; os morros de Vitória continuam abandonados. O prefeito até se manifestou, dizendo que queria nos receber pessoalmente, mas essa data ainda não foi confirmada. Já do governo do Estado, nenhuma resposta. Mesmo com tamanha repercussão do crime, tudo continuou do mesmo jeito”, disse Lula Rocha, coordenador do Círculo Palmarino, que completou: “Por falhas da investigação, o delegado nos informou que não tem provas suficientes para identificar os autores”.   
 
No dia 28 de março, após um ato público no Centro contra as mortes dos irmãos Damião e Ruan, um grupo de quatro jovens militantes protocolou um documento que pedia audiência com o governador para discutir políticas públicas para combater o racismo e em favor de mais oportunidades para a juventude periférica. Integravam a comissão Crislayne Zeferino, vice-presidente do Conselho Municipal de Juventude Negra de Vitória e integrante do Movimento Negro Unificado; Myrella Frós, moradora da Piedade; Grasielly Cardoso, estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal do Estado (Ufes); e Luiz Augusto, da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes). 
 
Números
“A cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado no Brasil. E essas mortes não são investigadas. Durante a greve da PM no ano passado; foram mais de 200 homens assassinados. Desse total, 70% jovens e negros, e ninguém deu nenhuma satisfação da autoria. É muito sangue na mão do Estado. É muito crime naturalizado”, desabafou Wellington Barros, presidente do Conselho Municipal de Vitória de Direitos Humanos durante no protesto do dia 28 de março. 
 
Jocelino Júnior, uma das vozes mais atuantes no campo social da Piedade, presidente do Instituto Raízes da Piedade, também denunciou à época o descaso com os morros da Capital. “Temos duas escolas na Piedade e só isso. Nosso lixo não é recolhido todo dia, as ruas estão esburacas e cheio de mato. Estamos há poucos metros do Palácio Anchieta, onde todos os dias se gasta muito com lanches. Em nossa comunidade, tem criança que só come duas vezes por dia na escola porque em casa não tem comida! Tenham Piedade de Nós”, bradou Jocelino.  
 
Segundo Lula Rocha, no Espírito Santo, os crimes tipificados como extermínio de jovens negros saltaram de 25 (2015) para 50 (2016), de acordo com o Atlas da Violência. 
 
A previsão é de que, no próximo ano, deverão ser divulgadas novas estatísticas e, ao que tudo indica, o Espírito Santo amargará um aumento nesse tipo de violência com o grande número de execuções registradas durante a greve da PM. “O Estado não divulga esses dados; ao contrário, são escondidos. Durante a greve da PM em 2017, foram mais de 200 homicídios, a maior parte de jovens e negros. Depois disso, continuamos acompanhando novos casos; alguns até não divulgados pela mídia”, explicou Lula. 

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