Munah Malek, do Fomes, atribui aumento da violência à falta de políticas públicas e ao “discurso misógino” do presidente
Dados do Núcleo de Enfrentamento às Violências de Gênero em Defesa dos Direitos da Mulher (Nevid) mostram que, em 2021, o Espírito Santo já ultrapassou o número de homicídios de mulheres e de feminicídios registrados em 2020 até o mês de agosto. Essa realidade pode ser um indício de que este ano o Estado irá superar os números registrados no ano anterior em ambos os crimes.
Em 2021, ocorreram 70 homicídios de mulheres, quatro a mais do que no mesmo período no ano anterior. Quanto aos feminicídios, somam 23 até então, ultrapassando os 17 registrados até agosto de 2020.
Os 70 homicídios estão distribuídos entre as regiões metropolitana (27), norte (16), sul (9), noroeste (13) e serrana (5). Os feminicídios nessas regiões totalizam, respectivamente, 7, 2, 4, 8 e 2. Os homicídios de mulheres em 2021 já correspondem a 9,5% dos casos desse tipo de crime, sendo que em 2020 foram 9,2%. A maior parte das vítimas, ou seja, 23%, está na faixa etária entre 35 e 39 anos, enquanto que em 2020, a maioria, que corresponde a 20%, tinha entre 20 e 24.
Os números mostram ainda que, este ano, 59% das vítimas de homicídio foram mortas com arma de fogo, 26% por arma branca e 16% por outros meios. Quanto à cor da pele, 56% eram pardas, 16% brancas, 11% negras e em 17% dos crimes não consta essa informação. No que diz respeito aos feminicídios, assim como nos homicídios de mulheres, a maioria das vítimas se encontram entre 35 e 39 anos, ou seja, 27%. No ano anterior, a maior porcentagem, 23%, estava na faixa etária entre 25 e 29 anos.
As armas brancas, em 2021, foram utilizadas na maioria dos feminicídios registrados até então, com 52,2%. A arma de fogo corresponde a 21,7%, enquanto que em 26,1% dos feminicídios, foram utilizados outros meios. No quesito cor da pele, 60,9% das vítimas eram pardas; 26,1% brancas; 4,3% negras; e em 8,7% dos casos não consta essa informação.
Para a integrante do Fórum de Mulheres do Espírito Santo (Fomes), Munah Malek, o aumento da violência contra a mulher é causada por fatores como o discurso misógino do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e pela falta de políticas públicas. “Não é de se espantar em um país governado por um presidente genocida e misógino que a violência contra as mulheres fosse crescer tanto nesse cenário. Se não existe instrumentos que garantem nossa vida e segurança, não existe outro caminho. O poder público, ao lavar as mãos em relação às políticas para as mulheres, nos joga literalmente entregues à nossa própria sorte”, critica.
Munah destaca que, no Espírito Santo, há apenas uma Casa Abrigo para mulheres em risco eminente de morte. “Não existem espaços de acolhimento provisório, políticas de aluguel social e auxílio moradia para mulheres vítimas de violência, abrigamento provisório e outros espaços de proteção e acolhida para as mulheres refazerem suas vidas. Denunciar não deve ser um passo descolado da necessidade de realmente assegurar a proteção e a vida das vítimas da violência machista”, afirma.
Em 2020, segundo dados da Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp), 102 mulheres foram assassinadas no Espírito Santo. Trata-se de um aumento de 12%, considerando dados da mesma pasta referentes a 2019, que apontaram 91 mortes, segundo informou o Fórum de Mulheres.. “Isolamento social, escolas fechadas, taxa de desemprego nas alturas, falta de auxilio emergencial e fome são elementos que atingem principalmente as mulheres e, mais ainda as negras. A pandemia tornou muitas cativas de seus lares, da vida doméstica e seus agressores”, afirma Munah, destacando os reflexos da pandemia da Covid-19 no aumento da violência contra a mulher.
Assassinatos de mulheres no Espírito Santo aumentaram 12% em 2020
Além da punição aos agressores, devem ser efetivadas políticas públicas, defende o Fórum de Mulheres