A situação de tensionamento entre o Comando da Polícia Militar e a tropa se agrava diariamente, diante de novos fatos que provocam a insatisfação de praças e oficiais. No domingo (23), o discurso do vereador da Câmara de Viana, Cabo Max (PP) esgarçou ainda mais a ferida. Na ocasião, o primeiro-secretário da Mesa Diretora da Casa se manifestou contra a concessão de uma comenda ao governador Paulo Hartung (PMDB).
Desde o movimento de familiares de policiais militares, que em fevereiro deste ano paralisou o policiamento ostensivo por 22 dias, o governo e o Comando fogem do diálogo com a tropa e tomam medidas que provocam descontentamento e tornam a situação de tensão ainda mais acirrada.
De acordo com o Presidente da Associação de Cabos e Soldados do Estado (ACS/PMBM-ES), sargento Renato Martins Conceição, o Comando, na tentativa de se aproximar da tropa, vem promovendo cafés da manhã, chamando policiais que se destacam em alguma ocorrência. A medida, no entanto, não tem surtido efeito. “Infelizmente, a relação do Comando com a tropa está muito desgastada. A tropa vê como se estivesse traída pelo Comando. Acho que esse desgaste não vai deixar de acontecer enquanto não houver uma postura efetiva de preocupação com a tropa”, diz ele.
Desde o movimento dos familiares, houve prisão de praças e oficiais – seis deles permanecem em prisão preventiva há mais de 110 dias –, a aprovação de uma Lei de Promoções que desagradou boa parte do efetivo, redução do quadro de oficiais do setor administrativo e transferências arbitrárias.
O sargento ressalta que, quanto ao reajuste salarial (pleito que também foi negado pelo governo), os posicionamentos do Comando não são no sentido do que a categoria espera ouvir, pelo contrário, são de acordo com o que tem dito o governo, e isso gera desgaste. “É um cenário muito complexo e eu diria que esse comando talvez não consiga reverter isso”.
Ele também diz que o governo precisa reconhecer que existe um problema entre a tropa e o Comando e que ele não se cura com braço forte, mas com diálogo franco, pontuando os problemas e apontando soluções. O presidente da ACS lamenta que o que se fez foi, na verdade, retirar plano de carreira, dificultar as promoções e reduzir cargos. “Deve-se sair desse discurso de dureza, de reestruturação, e entrar no de curar, cuidar e resgatar a moral da tropa”.
Esse aumento na tensão entre policiais e Comando acarreta no adoecimento de praças e oficiais. Renato Martins salienta que não é natural haver tantos policiais morrendo por doenças como câncer, aquelas relacionadas à hipertensão, infarto, derrames e suicídio. “Estamos nos preocupando que essa situação não aumente mais, não se torne endêmico. É preciso investir na saúde do policial”.
Operação
No último fim de semana ocorreu mais uma operação Força Total, em que viaturas e barreiras policiais ficam posicionadas em pontos estratégicos com os giroscópios ligados. O presidente da ACS aponta que o único efeito que a operação produz é a visibilidade da polícia.
“A população vê a viatura e a intenção claramente é que isso proporcione sensação de segurança. Em termos de efetividade, acredito que não exista, porque a criminalidade é fluida”, diz ele, explicando que, se um criminoso verifica que a viatura está sempre parada no mesmo lugar, procura um ponto em que não haja viatura.
“Talvez na tentativa de fazer algum cerco policial em caso de algum crime cometido, pode ser que tenha efeito, mas isso é exceção, não regra. A regra é a criminalidade se mover e se utilizar, inclusive, dessa situação da viatura estar parada, para praticar crimes em locais que sabe que não haverá viatura. O ideal mesmo é o policiamento feito pelas viaturas em patrulhamento”, conclui Renato.