O professor e pai de um motorista de aplicativo que acusou de agressão quatro policiais militares fez um desabafo nas redes sociais, expressando temer retaliações por parte dos denunciados. Segundo David Batista, por volta das 6h dessa segunda-feira (29), um dos PMs que participaram da abordagem estava em frente a sua casa, olhando para a placa do carro e residência. O caso envolvendo o motorista ocorreu na madrugada de 13 de novembro.
Rafael Maforte Batista mora ao lado da casa do pai, e reconheceu o policial. Em suas redes sociais, David relata que “um dos policiais denunciados estava em frente à minha casa. Talvez seja pelo fato de que o carro de meu filho está em meu nome. Ele deve ter conseguido o endereço pelo Detran-ES [Departamento Estadual de Trânsito do Espírito Santo]. Estou apreensivo e, portanto, peço encarecidamente a ajuda de vocês de todas as formas que puderem”.
Na publicação, endereçada ao governador Renato Casagrande (PSB), ele afirma ter “medo de que a situação só venha a público quando não tiver mais necessidade de se proteger da agressividade gratuita de serviços abusivos da segurança pública”.
Rafael relata que, na madrugada de 13 de novembro, foi abordado no bairro Porto Novo, em Cariacica, por quatro policiais de “forma truculenta, agressiva”, sendo que um estava com uma touca ninja.
O motorista estava descendo a ladeira, quando começou a ser seguido pela viatura, apagada. Ao chegar a um local plano, parou o carro e, conforme relata, saiu do carro a pedido dos policiais, que o abordaram com palavras de baixo calão e mandaram que encostasse na parede, questionando porque não havia parado o veículo antes. O motorista afirmou que, como a viatura estava apagada, não conseguiu perceber de imediato que se tratava da polícia; que não ouviu eles ordenarem que descesse, pois estava ouvindo música no carro; e que esperou chegar em um local plano.
Ao colocar as mãos na parede, Rafael denuncia que levou chutes na canela e um dos policiais falou “abre as pernas! Tá tirando onda com a minha cara?”. “Nunca tinha passado por uma abordagem policial. Confesso que nem sabia como proceder, por isso, apenas encostei a mão na parede”, diz. Depois, os policiais perguntaram várias vezes para Rafael se ele usa droga, e o motorista respondia que estava trabalhando. Também perguntaram sua idade. A vítima disse que tinha 26, em seguida, ouviu dos policiais que “não aprendeu bosta nenhuma da vida”.
Rafael também teve o porta luvas do carro quebrado e recebeu uma multa no valor de R$ 3 mil por alta velocidade e por dirigir de chinelo, embora afirme que não dirigia de maneira veloz e que estava descalço, tendo colocado o calçado somente para descer do carro. O motorista diz temer por ele e sua família, já que acredita que os policiais já sabem que foram denunciados na Corregedoria e na Polícia Civil (PC) e isso levou um deles a aparecer em frente à sua casa.
Rafael relata ainda que moradores do bairro afirmam que, na mesma madrugada em que foi abordado, um outro homem foi agredido pela PM com socos no rosto ao testemunhar uma abordagem na mesma região.
Um caso semelhante aconteceu também em Cariacica no dia 22 de outubro. Três casais que foram a um show na Matrix Music Hall, no bairro Rio Branco, foram agredidos por PMs. Eles relatam que, ao descer dos carros, um dos rapazes foi abordado por policiais militares, que começaram a revistá-lo, mas sem nem ao menos dizer o motivo. “Já iniciaram com agressão verbal, chamaram de vagabundo, disseram ‘filho da puta’, coloca a mão na cabeça”, disseram os agredidos, que não quiseram se identificar por medo de represálias.
Eles relataram que, logo em seguida, um outro rapaz também foi revistado. Ao chamá-lo para a revista, um policial teria dito “vem, negão ‘filho da puta! Coloca a mão na cabeça”, e chutado suas pernas. A reação do rapaz, afirmam, foi dizer “não precisa disso, nós somos trabalhadores”, obtendo como resposta um “cala a boca”, um aperto no pescoço e um soco no estômago, o que motivou sua esposa a filmar a agressão com o celular.
As vítimas contaram que, ao perceber que estavam sendo filmados, os policiais teriam pedido para ela parar, dizendo “vai pra lá, piranha! Vai pra lá, vagabunda!”, além de ameaçar dar um soco. Em seguida, um dos policiais teria não só jogado spray de pimenta como também batido nela com o próprio spray. As vítimas recordaram ainda que outro rapaz, que também filmava a agressão, saiu em defesa da moça questionando “vai esculachar com a menina? Vai bater em mulher?”.
O questionamento fez com que um dos policiais fosse na direção dele, que correu, fazendo com que o policial desse um tiro em sua direção, que não o acertou. A esposa do rapaz que fugiu também estava filmando a abordagem e correu da polícia após ter recebido ordem para que apagasse as filmagens. Eles relataram que, depois disso, os PMs teriam se dirigido ao primeiro rapaz abordado naquela noite e questionado “quem era a piranha loura de óculos?”, referindo-se à moça que havia fugido com as filmagens.
A mando dos policiais, o rapaz foi procurar o casal que havia fugido para recuperar as imagens, mas não os encontrou. “Ele retornou com muito medo de que fizessem algo e, para tentar evitar isso, disse que havia câmeras na rua, e apontou para uma câmera em uma casa. Aí ameaçaram a gente dizendo que se usássemos as filmagens para alguma coisa iriam nos pegar até mesmo dentro de nossas casas”, afirmaram, destacando que agora o medo se tornou algo que faz parte de seus cotidianos.
Na ocasião, foi feita uma representação na Corregedoria da PM reivindicando que o governador; o secretário estadual de Segurança Pública, Alexandre Ramalho; e o comandante geral da PM, Coronel Douglas Caus, se manifestem. As vítimas aguardam o resultado das apurações para mostrar ação nas esferas civil e criminal.