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Familiares de policiais adotam nova estratégia para fortalecer movimento

Diante da tentativa dos governos do Estado e Federal de sufocar o movimento das mulheres e familiares de policiais militares, que desde o dia 4 de fevereiro ocupam as entradas dos batalhões de todo o Estado, as integrantes do movimento adotaram uma nova estratégia a partir de agora para fortalecer o movimento e pressionar para que o governo retome às negociações.

De acordo com uma das integrantes, que prefere não se identificar, há um esforço enorme do governo – principalmente depois da chegada ao Estado dos interlocutores nacionais – de pôr fim definitivo ao movimento para anunciar que a ordem pública está restabelecida. No entanto, as mulheres permanecem nas portas dos quartéis, ou seja, o governo não pode dizer que o movimento acabou.

A tática adotada nesse sábado (11) pelo governo para dar a ideia que o policiamento seria restabelecido foi convocar os policiais para se apresentarem na rua e até “buscá-los” no Quartel do Comando Geral (QCG), em Maruípe, Vitória, usando helicópteros. O governo tem divulgado que de ontem para hoje conseguiu convocar externamente mais de 1,2 mil policiais (600 no sábado e 845 no domingo). A informação, no entanto, é questionada pelo movimento. Os interlocutores do movimento afirmam que esse número, na prática, é muito menor. “O governo está superestimando os números para impressionar a população”, disse uma liderança. 

 
Há outro problema com a apresentação nas ruas dos policiais. As fardas, equipamentos e coletes balísticos estão nos batalhões, que agora estão inacessíveis. Desta forma, muitos dos policiais estão se apresentando à paisana, o que os impede de fazer o policiamento ostensivo. de outro lado, os que estão indo para as ruas não têm condições psicológicos para realizar o policiamento ostensivo.

As mulheres também adotaram uma nova estratégia para fortalecer o movimento. No fim do turno, os PMs que estavam nos quartéis e eram impedidos de saírem para o policiamento, deixaram os locais e os que assumiriam os turnos foram barrados na entrada. Isso quer dizer que os batalhões foram esvaziados. No QCG, em Maruípe, por exemplo, só há os policiais que fazem as guardas dos presos e o pessoal do administrativo e o mesmo acontece em outros batalhões.

Segundo a representante do movimento, tirar os policiais de dentro dos batalhões foi uma medida tomada diante do terrorismo que os militares vinham sofrendo dentro das unidades. “Eles não aguentavam mais a pressão. O que fizeram com eles foi terrorismo”, disse uma das interlocutoras do movimento.

 
Essa informação de que o governo estaria “teatralizando” a volta dos policiais foi levantada em reportagem do jornal O Globo (12/02/17). Segundo o jornal carioca, os policiais fardados, a maioria oficiais, que se apresentam estão sendo destinados para o policiamento de rua, mas os que se apresentam sem farda ou equipamentos (armas e coletes) não podem fazer o policiamento. Como esse material de trabalho está nos batalhões e o acesso agora está obstruído pelas mulheres, eles permanecem sem trabalhar do mesmo jeito.
 
Um policial disse à reportagem de O Globo que os militares que se apresentaram ao trabalho são oficiais que ganham bem, mais de R$ 9 mil, mas que eles (praças e soldados) continuam apoiando o movimento das mulheres. “É um teatro do governo [dizer que todos voltaram ao trabalho]”, disse o policial.
 
Na pressão

O modo coercitivo de mandar os policiais para as ruas, a pressão que eles têm sofrido nos últimos dias e as ameaças de punições cada vez mais severas fez com que muitos desses militares “surtassem”. Informações dão conta que foram levados 28 policiais militares para o Hospital Estadual de Atenção Clínica (Heac), o antigo Adauto Botelho, e outros 70 foram levados para o Hospital da Polícia Militar (HPM) com quadro de surtos causados por forte estresse. As informações não foram confirmadas pelos hospitais e tampouco pela Secretaria de Segurança, que decide para quais veículos de imprensa passa informação. Aliás, a comunicação do governo tem sido muito falha desde o início da crise na segurança.

Negociação

Nenhum representante do governo estadual ou federal voltou a procurar os familiares dos policiais militares para negociar. No entanto, as mulheres não aceitam mais negociar com o grupo criado pelo governo, representado pelo secretário de Estado de Direitos Humanos, Júlio Pompeu; de Controle e Transparência, Eugênio Ricas; de Fazenda, Paulo Roberto Ferreira; e o secretário-chefe da Casa Civil, José Carlos da Fonseca Jénior. O Comitê Permanente de Negociações, como foi chamado, fracassou nas tratativas de acordo com o movimento.

As mulheres só aceitam voltar a negociar diretamente com o governador Paulo Hartung (PMDB), tendo o Ministério Público Estadual (MPES) como observador e com os advogados do movimento.

Para a negociação avançar, o governo tem de atender à pauta do movimento de maneira abrangente, com propostas concretas, o que não teria acontecido até o momento. “Enquanto não houver avanço concreto, o movimento será mantido. Estamos ainda mais unidos”, disse a representante.

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