Quatro delegacias da Serra estão “sem-teto”. Em janeiro deste ano, o prefeito de Serra, Audifax Barcelos (Rede), anunciou que não poderia continuar pagando os aluguéis dos imóveis. O prefeito alegou que o município precisava cortar gastos, e as delegacias foram transferidas para outros locais considerados inadequados pelo Sindicato dos Policiais Civis (Sindipol-ES).
A delegacia de Novo Horizonte, uma das mais movimentadas da Serra, responsável pelo atendimento de 31 bairros, foi transferida para a garagem da Delegacia de Jacaraípe (foto ao lado). Segundo o presidente do Sindipol, Jorge Emílio Leal, é uma situação de desrespeito com os profissionais da polícia judiciária e com a população que busca o serviço.
“Essa dura realidade dos policiais civis capixabas é resultado da péssima política governamental para a segurança pública. As adversidades vão da falta de recursos materiais a humanos. A categoria tem sofrido com a desvalorização, usurpação e desvio de função. Nessa situação, o policial civil fica cada vez mais prejudicado e sua saúde também é afetada”, advertiu Leal.
As unidades policiais de André Carloni e Serra Sede, que também ficaram “sem-teto”, estão funcionando na 3ª Regional, em Laranjeiras.
O espaço físico da delegacia de Laranjeiras, segundo o Sindipol, já não comporta a demanda registrada diariamente. A 3ª Delegacia Regional de Serra é uma das que recordistas de ocorrências do Estado. O local funciona em horário administrativo e plantão.
Com pessoal aquém da demanda, os policiais trabalham sobrecarregados em um espaço apertado, e ainda sim tiveram que acolher outras duas delegacias. A solução emergencial para a falta de espaço foi desativar o alojamento dos policiais plantonistas.
Outra unidade policial que mudou de endereço foi a Delegacia da Mulher. A delegacia especializada da Serra, sediada em Laranjeiras, foi transferida para o bairro Jardim Carapina, onde funciona precariamente em um espaço emprestado no prédio do Detran.
Os problemas das delegacias improvisadas não se resumem ao espaço físico. Sem infraestrutura para suportar a demanda de duas unidades em uma, as delegacias enfrentam problemas elétricos, hidráulicos e de internet, o que gera desconforto para os policiais e para o cidadão que recorre ao serviço.
O usuário, que geralmente chega à delegacia abalado emocionalmente, é recebido em um local que não oferece o mínimo de dignidade: muitas vezes não há onde se sentar, os banheiros são inadequados e até conseguir água para beber pode se tornar uma missão difícil.
Sem contar que, com as mudanças de endereços, os deslocamentos aumentaram para a população. Por exemplo, que morava próximo à delegacia de Novo Horizonte agora tem de se deslocar para a unidade de de Jacaraípe, distante 15 km do antigo endereço.
Segundo o Sindipol, outras duas unidades policiais correm o risco serem transferidas em 2017. São elas: a Delegacia de Crimes Contra a Vida (DCCV) e a Delegacia de Entorpecentes (Deten). “Prejudicar os policiais para cortar gastos é um desrespeito ao profissional e à sociedade”, disse Aloísio Fajardo, diretor do Sindipol. Ele avisou que o Sindipol irá oficiar a Sesp, o Ministério Público Estadual e a Chefia de Polícia para reverter essa situação de calamidade.
A Polícia Civil possui oito delegacias na Serra, mas apenas duas estão em prédios próprios: a 3ª Delegacia Regional e a Delegacia de Jacaraípe. As outras seis funcionavam em imóveis alugados, que eram pagos pela prefeitura, que gastava R$ 25 mil mensais para bancar as locações dos imóveis.
Desde agosto do ano passado a prefeitura comunicou o governo do Estado que não teria condições de pagar os aluguéis, mas o governo não tomou nenhuma providência.