A falta de sintonia entre o governo e o movimento é apontada como uma das principais causas para o prolongamento da crise – responsável por mais de uma centena de mortes, furtos e casos de violência na Grande Vitória e pelo interior. Por isso, saíram de cena o secretário de Segurança Pública, André Garcia, e o governador em exercício, César Colnago (PSDB), que endureceram suas falas contra o movimento na coletiva desta quarta-feira (8). Nos seus lugares, o governo decidiu escolher novos interlocutores para conduzir a negociação.
Foram escolhidos, os secretários Júlio Pompeu (Direitos Humanos), Eugênio Ricas (Controle e Transparência), Paulo Roberto Ferreira (Fazenda) e José Carlos da Fonseca Júnior (Casa Civil). Eles vão ficar à disposição “todos os dias da semana, em horário integral” para se reunir com representantes dos militares. Todas as reuniões devem acontecer no Palácio da Fonte Grande. Um novo encontro já está marcado para a tarde desta quinta-feira (9).
A mudança na estratégia de negociação fica mais clara com a liderança informal de Júlio Pompeu, que já foi convocado pelo governo na tentativa de interlocução com estudantes que promoveram ocupações na secretaria de Educação no final do ano passado. Com passagens pelo terceiro setor, o professor de ética da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) se notabilizou pela mediação de conflitos sociais. Na atual crise, tão desafiador quanto a costura de um acordo será a mudança da imagem de falta de dialogo do atual governo.
Logo após a primeira reunião com familiares dos militares, Pompeu buscou um discurso conciliatório, onde pediu bom senso aos manifestantes – que exigem a “anistia irrestrita” aos policiais supostamente envolvidos no motim, além de um reajuste salarial de 48%, equivalente a reposição das perdas nos últimos anos. Essa fala do secretário vai de encontro ao antigo posicionamento do governo que atacou o movimento, inclusive, com ameaças de punição aos militares responsáveis pela paralisação – motim é crime previsto no Código Militar, cuja pena varia de quatro a oito anos de reclusão.
Além da convocação do “especialista” em negociações, o governo chamou outros atores com papéis determinados para atuar neste comitê permanente. Paulo Roberto deve exercer o papel de conscientizar os manifestantes sobre as contas do governo, enquanto Ricas deve reforçar a abertura dos dados – fora buscar a empatia do movimento, já que ele também é da classe policial (delegado da Policia Federal). Já Zé Carlinhos deve atuar na interlocução política com os militares, já que o próprio governo insinuou a interferência de políticos nas negociações.
No contexto político, a saída de cena de Garcia é vista também como uma forma de reduzir o desgaste à sua imagem nesta crise. Desde os primeiros dias da manifestação, o posicionamento do secretário de Segurança foi visto como um empecilho à negociação, tanto pelas ameaças de punição aos militares quanto à negativa de conversa com os familiares de PMs. Isso fez que um grupo de deputados estaduais pedisse a saída de Garcia, entre eles, o ex-presidente da Assembleia Legislativa, Theodorico Ferraço (DEM), que considerou a queda do secretário como imprescindível para o restabelecimento do diálogo entre governo e a Polícia Militar.