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​Greve da PM completa quatro anos sem apoio do Estado para familiares das vítimas

Entidades cobram investigação das 300 mortes registradas no período que marcou a maior crise da segurança pública capixaba

Passados exatos quatro anos da greve da Polícia Militar (PM) no Espírito Santo, que marcou a maior crise da Segurança Pública capixaba, a pandemia da Covid-19 não possibilita a realização de manifestações nesta data, como foi feito nos últimos três anos. Porém, para que não passe em branco, um grupo de 10 entidades divulgou nesta quinta-feira (4) uma nota na qual denuncia que, desde 2017, os familiares das pessoas mortas durante a greve, que foram mais de 300, não receberam apoio do poder público estadual. 

Militares aquartelados no quartel de Maruípe. Foto: EBC

O documento aponta que nem o governo de Paulo Hartung, responsável pelo caos registrado na época, nem o atual, de Renato Casagrande, efetuou política de investigação dessas mortes. “Sequer houve reparação dos familiares em virtude da ação violenta impetrada por agentes do aparato estatal de segurança. Não se sabe quem matou, onde e em quais circunstâncias”, diz a nota, destacando, ainda, que as pessoas mortas eram “vidas negras, jovens e pobres. Vidas que o racismo elege como descartáveis” e que as políticas que os mais pobres receberam de ambas gestões foram de “criminalização da pobreza, de continuação do extermínio dos jovens pobres e negros”.

As entidades recordam que quando aconteceu a greve da PM o Espírito Santo vivia o auge das políticas “austericidas neoliberais do Governador Paulo Hartung”, que, conforme relatado na nota, sucatearam políticas públicas e aprofundaram a destruição das condições de trabalho de servidores públicos, além de terem feito “uma política de segurança genocida com o privilégio de um suposto sucesso econômico em detrimento da proteção de toda e qualquer vida”.

O grupo defende que as mais de 300 famílias dos mortos durante a greve têm direito ao luto, à responsabilização do Estado e a viver em segurança. “Não aceitamos que a memória dessa violência estatal seja apagada. Neste contexto de pandemia da Covid-19, continuam os mais pobres, em sua maioria negros e negras, pagando com suas próprias vidas o preço dos regimes neoliberais que garantem segurança e benesses para uma minoria, ampliando as desigualdades sociais e a fome da maioria dos brasileiros”, diz a nota.
A greve da PM, em 2017, durou 21 dias, começando em quatro de fevereiro e finalizando no dia 25, período em que a PM ficou aquartelada no quartel de Maruípe. Das vítimas na região metropolitana, mais de 80% foram homens; quase 90% negros e pardos, e mais de 50% jovens com idade entre 18 e 29 anos, havendo ainda 10% de menores de idade. Os números não são oficiais e são estimados com base em informações repassadas pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) às organizações da sociedade civil que lutam pelos direitos das vítimas.


As entidades que a assinam o documento são o Centro de Defesa dos Direitos Humanos da Serra (CDDH), Círculo Palmarino, Comissão para Promoção da Dignidade Humana da Arquidiocese de Vitória, Comitê Popular de proteção dos Direitos Humanos no Contexto da Covid/ES, Fórum Capixaba de Lutas Sociais, Fórum de Mulheres, Fórum Estadual da Juventude Negra do Espírito Santo (Fejunes), Fórum Igrejas e Sociedade, Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH/ES) e Movimento Negro Unificado (MNU).

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