Família relata que o professor e ativista, assassinado no último sábado, foi morto asfixiado, e não a facadas
Familiares e amigos, muitos deles cuja amizade foi fruto das mobilizações populares no Espírito Santo, se despediram do professor e ativista Laurenir França, também conhecido como “Alemão” ou “Professor”, assassinado no último sábado (1) dentro de casa, no bairro Mário Cypreste, em Vitória. Diante da brutalidade do crime, como não poderia deixar de ser, o sentimento era de revolta. “Laurenir não vivia no meio da violência, ele combatia a violência”, disse o sobrinho, Evandro França, que lamentou as informações veiculadas na mídia de que o tio foi morto a facadas na rua, pois, conforme relata, ele foi asfixiado em casa.
Evandro conta que a família soube do homicídio somente nessa segunda-feira (3), imediatamente foi ao Instituto Médico Legal (IML) para reconhecer o corpo, e teve que esclarecer para as pessoas como o crime aconteceu. De acordo com a necrópsia, a causa da morte foi asfixia. “As pessoas leram coisas que não aconteceram. Tivemos que desmistificar as informações”, afirma.
A sobrinha de Laurenir, Silvia França de Jesus, relata que o tio estava em casa, deitado, quando um vizinho que morava ali há quatro meses adentrou a casa e o matou asfixiado, muito provavelmente com um travesseiro, já que não havia marcas de violência no pescoço. Após cometer o crime, o assassino abordou outro vizinho e disse “o professor está te chamando”.
Embora tenha achado estranho, pois Laurenir costumava ir para a casa da irmã aos sábados, o vizinho foi até a residência da vítima, a chamou, mas não foi atendido. “Em seguida, o assassino falou ‘esse aí já foi, agora quem vai é você’. Pegou uma faca e tentou agredir o homem que se desvencilhou e conseguiu fugir”, narra Silvia. Posteriormente, o criminoso tentou usar a arma branca para agredir outras pessoas que se encontravam na rua, mas um grupo correu atrás dele, que acabou sendo preso e confessou o crime.
Trajetória
Laurenir foi sepultado ao som de Irá Chegar, cujo refrão é “irá chegar um novo dia, um novo céu, uma nova terra, um novo mar. E nesse dia os oprimidos a uma só voz a liberdade irão cantar”, canção muito presente nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) da Igreja Católica, embora o ativista se declarasse ateu. A escolha da música não foi um equívoco, já que, conforme afirmou o coordenador do Vicariato para Ação Social Política e Ecumênica da Arquidiocese de Vitória, padre Kelder Brandão, Laurenir “era o ateu mais cristão que se tinha notícia”.