As mortes e a má qualidade da alimentação registradas no sistema prisional do Estado são as motivações de uma manifestação convocada para o próximo dia cinco de outubro, às 8h30, na Praça Costa Pereira, Centro de Vitória. O protesto será realizado pela Frente Estadual pelo Desencarceramento do Espírito Santo, juntamente com familiares de detentos, e outras entidades têm sido contatadas para aderir à mobilização.
Segundo o integrante da Frente, Fernando Colombi, no que diz respeito à alimentação, várias denúncias apontam para a má qualidade da comida. Por isso, foi feita uma pesquisa entre os familiares, disponibilizando um formulário nas redes sociais. A iniciativa obteve respostas de 205 pessoas com queixas em relação ao alimento servido. “Estão servindo comida estragada, os detentos estão passando fome, há relatos de que alguns emagreceram demais”, diz.
Fernando relata que, diante das denúncias, o Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) foi acionado pela Frente. Por meio do diálogo, ficou constatado que as reclamações em relação à comida servida nas unidades prisionais feitas ao conselho se assemelhavam às recebidas pela Frente.
A familiar de um detento, que preferiu não se identificar, afirma que um dos problemas enfrentados pelos apenados é o horário das refeições, que consideram inadequados. Ela relata que o café da manhã é às 4h; o almoço, às 11h; e a janta às 16h. Como há um intervalo grande entre a última refeição e a primeira, a familiar afirma que isso estimula o comércio de remédios e drogas na cadeia, pois os presos preferem dormir por causa da fome.
A fome é motivada não somente por causa dos horários, mas pelo próprio fato de a comida estar estragada. “É comum servir galinha crua, comida com resto de barata e com um cheiro muito ruim. A forma como a comida é feita dever ser péssima, pois quando atrasam o jantar e servem, por exemplo, às 17h, é o suficiente para a comida estragar”, denuncia.
Mortes
Antônio Fernando recorda que, antes da crise sanitária, o Espírito Santo chegou a registrar em alguns anos zero mortes violentas de detentos. Para ele, a limitação de visitas impede a fiscalização por parte dos familiares dos apenados, uma vez que impossibilita o acesso a informações, como ameaças, impedindo que a família possa procurar alternativas junto à direção do presídio.
As inspeções dos órgãos de controle também ficaram dificultadas, alerta o advogado. A própria distância dos familiares devido à restrição de visitas, acredita Antônio Fernando, contribui para abalos emocionais e, consequentemente, aumento das tensões, aliado “a um tratamento cruel e degradante”. De acordo com ele, o sistema penitenciário capixaba é mais rigoroso do que os presídios federais, onde estão os detentos considerados mais perigosos do país.
Grande parte dessas mortes violentas, informa Antônio Fernando, decorre de linchamentos. Um desses casos é o de um detento assassinado por outros que deviam a ele dinheiro da compra de mariola. O advogado, que cuida do processo de indenização por parte da família, relata que, diante da ausência de comida, alguns presos criam um mercado paralelo de venda de alimentos.