Cleia Louza Rebouças, em entrevista à TV Gazeta Norte, disse que vítima foi morta algemada e já havia sido ameaçada pelos PMs
Cleia Louza Rebouças, mãe de Carlos Eduardo Rebouças Barros, de 17 anos, assassinado por policiais militares em Pedro Canário, norte do Estado, nessa quarta-feira (1), contestou, em entrevista à TV Gazeta Norte, a versão da PM sobre o ocorrido. Ela afirma estar revoltada com a morte e com o fato de que o rapaz estava algemado quando os disparos foram efetuados e denuncia que os policiais envolvidos no crime já haviam ameaçado a vítima de morte, bem como seu irmão gêmeo, que, por isso, saiu da cidade.
O assassinato aconteceu no bairro São Geraldo e foi flagrado por uma câmera de segurança. O rapaz aparece sentado. Depois se levanta, é baleado e seu corpo é levado para um terreno atrás do muro. No mesmo dia, cinco policiais suspeitos – dois cabos e três soldados – de praticarem o crime foram detidos, pelo crime de homícidio, e ouvidos no 13º Batalhão da PM, em São Mateus. Nesta quinta-feira (2) passarão por audiência de custódia.
No Boletim de Ocorrência, os policiais alegam que houve resistência por parte da vítima, com tentativa de puxar uma arma da cintura, o que contraria as imagens. Disseram ainda que o rapaz, ao perceber a presença da PM, tentou fugir pelo telhado da casa da vizinha, desobedecendo os policiais, que ordenaram que parasse. A vítima, segundo os policiais, teria efetuado quatro tiros contra eles, o que motivou seis disparos contra o rapaz, que foi contido e ficou perto do muro, como mostram as imagens.
Neste momento, segundo o BO, foi ordenado que a vítima se virasse para uma revista pessoal, mas ela tentou sacar uma arma. A partir daí, a PM efetuou dois disparos, fazendo o rapaz cair com a arma na cintura. Ainda segundo os policiais, foi dito a ele para que não a pegasse. Depois, afirmam que foi feito, sem sucesso, contato com o Samu. Por isso, a vítima foi levada para o Hospital Menino Jesus.
Repúdio
Entidades da sociedade civil cobram providências. O Movimento Negro Unificado (MNU) recordou a fala do governador Renato Casagrande (PSB) durante o segundo turno das eleições 2022, quando afirmou que “bandido tem que fugir do Espírito Santo. Mesmo! Se não fugirem, se estiverem aqui, serão alcançados, presos ou vão para o IML [Instituto Médico Legal]”.
“Essa não foi a fala de qualquer um, foi do governador do Estado do Espírito Santo. Em um Estado onde a morte é autorizada, situações como a ocorrida hoje em Pedro Canário, quando um jovem foi executado à queima roupa no meio da rua pela Polícia Militar, passam a ser ‘naturais’. ‘Bandido bom é bandido morto’, pois no fim das contas, os números que crescem são os dos mortos em ‘confrontos’. Qual a cor de quem morre nos ‘confrontos’?! Quais mães choram?! Queremos responsabilização, câmeras nas fardas policiais e uma discussão mais ampla, com a presença da sociedade civil!! É pedir demais governador?!”, questionou.
Repercussão
A vice-presidente da Comissão, a deputada estadual Iriny Lopes (PT), também se pronunciou. “Recebi, com consternação, imagens de uma execução a sangue frio praticada por um policial, em Pedro Canário, contra um homem que estava algemado e completamente dominado, que não oferecia no momento dos disparos nenhum risco a integridade física dos policiais. Como deputada estadual e vice-presidenta da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, requeiro o afastamento imediato de todos os policiais envolvidos no caso. Também acompanho o fato junto ao Conselho Estadual de Direitos Humanos. Por fim, exijo apuração rigorosa desse crime por parte do governo do estado. As imagens não deixam dúvidas de que se trata de uma execução”, disse.