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Moradores de Nova Venécia pedem implantação de Delegacia da Mulher

Em audiência pública realizada nessa quinta-feira (30), a Comissão de Segurança da Assembleia Legislativa se comprometeu a encaminhar ao Poder Executivo reivindicações dos moradores de Nova Venécia, no noroeste do Estado. Eles pediram a instalação de uma Delegacia da Mulher no município, além da ampliação do funcionamento da atual delegacia de polícia para 24 horas por dia. A reunião foi realizada na Câmara de Vereadores, para debater a violência contra a mulher na região.

“Temos que dar um basta nisso. A violência contra as mulheres não é só em Nova Venécia, mas no Estado inteiro. Precisamos criar políticas públicas para combater isso. Com a Lei da Maria da Penha já existem as medidas protetivas. Infelizmente, o Estado não está presente em todos os distritos e em todos os municípios”, observou o deputado Gilsinho Lopes (PR), presidente do colegiado. Gilsinho também fez referência às nomeações de escrivães e delegados concursados que estão pendentes, pois há falta de servidores nesta área em todo o Estado.

O deputado Padre Honório (PT), que propôs a realização da audiência pública, explicou que a reunião é resultado “do clamor da própria região, principalmente em função de um caso recente, quando uma jovem foi espancada. Ele reiterou os pedidos da população, uma vez que a delegacia mais próxima fica em Colatina, na região no noroeste, ou em São Mateus, no norte do Estado, mas “Nova Venécia é uma cidade polo”, lembrou.

Violência física e psicológica

As falas da comunidade giraram em torno da necessidade de se combater a violência contra a mulher em todos os campos de atuação social. A avaliação é de que o problema não está apenas dentro do ambiente doméstico, mas em todos os seguimentos sociais.

A agente de saúde e membro do Conselho Estadual de Mulheres Luzia de Fátima Silva, declarou que sofreu violência de seu ex-marido e que não teve apoio da família. E que no caso dela, por ter sido mulher camponesa, a falta de apoio é maior ainda. “Eu reclamava e meu pai perguntava se eu estava passando fome. Os homens não vão dar dinheiro para o ônibus para as mulheres virem a uma reunião como esta, e neste horário”, relatou.

Luzia Silva enfatizou que a violência que fica é invisível. “Os tapas e as marcas no corpo saem, mas as marcas na alma ficam. A violência marca o corpo, mas principalmente a alma das mulheres. Eu, branquinha desse jeito, já sofro, imagine a mulher negra”, finaliza.

Maria Aparecida Sian Capaz, do Movimento de Mulheres Camponesas do Espírito Santo, enfatizou que as mulheres do campo são as que mais sofrem violência. “Ela vai ficar uma semana com o olho roxo e ninguém vai ver”, disse, se referindo à distância entre as casas na roça.

A advogada criminalista Jaqueline Cazoti também pontuou a pluralidade da violência contra a mulher. “A violência física é um alto grau de violência, mas temos outras formas de violência, a psicológica e emocional. Até mesmo a financeira. Quando o indivíduo devia proteger a mulher no seio de seu lar, ele a aprisiona”.

A advogada ressaltou que as medidas protetivas têm de ser aplicadas e “não permitir que o homem envie nem mesmo um sinal de fumaça para a mulher”. Mas por outro lado, em muitos casos, “a própria mulher retira na delegacia a denúncia ou as medidas protetivas, alegando dependência econômica do companheiro”, explicou.

Patrimonialismo

A gerente de proteção à mulher da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), Daniella de Souza Figueiredo, disse que a violência contra a mulher é complexa, “é o epicentro de outras mazelas sociais. Outras violências fora da família, como o consumo de drogas, crimes, isso tudo tem origem de como se deu o convívio dentro da família”.

Figueiredo afirmou que a mulher só foi vista como propriedade depois que o homem conheceu a propriedade na sociedade. Segundo defendeu, a mulher virou objeto. De acordo com a gerente, antes, elas eram vistas como pessoas sábias. Participavam na produção e eram respeitadas.

O defensor público Ricardo Rosa opinou que o homem considera a mulher uma extensão de sua propriedade, e classificou o comportamento como “patrimonialismo”. Ele defendeu o “diálogo no lugar de pena. Muito melhor seria levar o casal para um psicólogo”.

O delegado Líbero Fenello fez um balanço das investigações e resolução dos crimes contra as mulheres na região, especialmente em Vila Pavão, na região noroeste. “Não é só um problema de marido e de mulher. Temos o contexto familiar, no trabalho, na escola, é um problema de toda a sociedade”.

Esse aspecto também foi lembrado pelo presidente da Câmara de Vereadores de Nova Venécia, Antônio Emílio. Ele reafirmou que violência nenhuma se justifica pelas diferenças entre as pessoas. “Só a cultura e o investimento social podem diminuir esse abismo que existe nas classes sociais”.

Não-violência

O professor do Ifes Arilson Teixeira chamou a atenção para as várias culturas de sociedades diversas onde a as mulheres tinham papel importante e não secundário. Ele se referiu à instituição do 25 de novembro como o Dia Internacional da Não-Violência contra a Mulher e às conferências mundiais promovidas pela Organização das Nações Unidas (ONU).

O dia 25 de novembro foi reconhecido Dia Internacional da Não-Violência contra a Mulher pela ONU em homenagem a “Las Mariposas” (As borboletas), apelido utilizado em atividades clandestinas pelas irmãs Minerva, Pátria e Maria Tereza Mirabal. Elas foram perseguidas e presas juntamente com seus maridos. Depois de postas em liberdade, após uma visita a seus maridos na prisão, seus corpos e do motorista, foram encontrados no fundo de um precipício, estranguladas e com ossos quebrados.

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