Ato será na próxima segunda, resultado de mobilização da comunidade para denunciar ações violentas nas periferias
Moradores do Território do Bem, juntamente com o Coletivo Beco, realizarão na próxima segunda-feira (29) o Ato Contra a Opressão Policial, resultado de mobilização da comunidade para denunciar ações violentas nas periferias de Vitória.
Os manifestantes se concentrarão às 5h, na praça do Bairro da Penha. De lá, passarão pelo Departamento da Polícia Militar (DPM). O restante do trajeto não foi informado pelos organizadores.
De acordo com a integrante do Coletivo Beco, Crislaine Zeferina, o grupo está providenciando álcool em gel e máscaras para os participantes, entretanto, é recomendável que as pessoas levem suas próprias máscaras.
A realização do ato foi decidida em reunião na última terça-feira (23), no Bairro da Penha, organizada pelo Coletivo Beco. O encontro teve como objetivo criar ações coletivas de combate à violência policial nas periferias de Vitória. Um dos participantes da reunião, o presidente do Conselho Estadual de Juventude, Miguel Intra, afirma que as informações sobre violações de direitos humanos obtidas durante a reunião serão encaminhadas ao comitê de denúncias criado em 10 de junho para serem compartilhadas com a Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Sesp), Secretaria Estadual de Direitos Humanos (SEDH) e movimentos de direitos humanos.
O comitê foi criado após uma reivindicação dos moradores do Território do Bem, quando, em dois de maio deste ano, a Polícia Militar (PM) adentrou o bairro Bonfim atirando a esmo em busca de um traficante. Na ocasião, moradores tiveram bens materiais destruídos e foram agredidos verbalmente. Miguel relata que os depoimentos feitos pelos moradores na reunião do dia 23 foram muito impactantes.
“Eu saí de lá extremamente chocado. Foram impactantes todas as falas sobre o que está acontecendo no Território do Bem. E essa não é uma realidade somente de lá, mas de muitas outras periferias de Vitória e de outros municípios do Espírito Santo”, afirma. O presidente do Conselho Estadual de Juventude destaca que, durante a reunião, ouviu relatos de invasão de casas, xingamentos às mulheres e de casos em que os policiais rasgaram as roupas das mulheres, deixando-as nuas.
Uma das falas que mais o impactou, segundo Miguel, foi a de uma mulher que falou que “eles [os policiais] precisam parar de atirar no coração. Poxa, porque não atiram no pé? Eles querem matar mesmo”. Miguel recorda que após essa fala, outra mulher que participava do debate afirmou que se os jovens estão envolvidos com o tráfico, a polícia tem que prender, e não atirar, não matar.
Para Crislayne, a primeira fala mostra que os moradores estão “tendo que escolher onde a violência dói menos, porque a morte já está programada”.
Violência policial em São Benedito
Na quarta-feira (24), um dia depois da reunião, a PM adentrou o bairro São Benedito novamente atirando a esmo, como apontam os moradores. Crislaine relata que quando isso aconteceu havia pessoas nas ruas, como crianças brincando e trabalhadores que estavam chegando do serviço. A integrante do Coletivo Beco afirma que não se sabe o porquê da ação da PM. “Se a gente perguntar eles não informam e ainda agridem verbalmente. Para a polícia, o desacato acontece somente para o lado dela, como se eles não desacatassem a sociedade”, desabafa.
Crislaine afirma que, desta vez, os policiais atiraram a esmo nas ruas, e não nos becos, como é de costume. Para ela, isso prova que a violência policial tem expandido sua atuação para espaços cada vez maiores do Território do Bem. “A violência policial é uma política que acontece há anos. A gente tenta potencializar o Território, mas o Estado nem quer saber o que a gente está fazendo para buscar potencializar também”, relata.
Após o ocorrido em São Benedito, Crislaine postou um vídeo nas redes sociais no qual faz um apelo à população para se mobilizar com o objetivo de cobrar providências do governador Renato Casagrande (PSB) e do secretário estadual de Segurança Pública e Defesa Social, Alexandre Ramalho.
Crislayne também fez um apelo para que os deputados estaduais Iriny Lopes (PT) e Fabrício Gandini (Cidadania), o deputado federal Helder Salomão (PT) e o senador Fabiano Contarato (Rede) intermediassem diálogo com o Governo do Estado. Segundo ela, Gandini se comprometeu a fazer isso, a assessoria de Contarato falou que encaminhará a demanda para o senador, e os deputados Iriny Lopes e Helder Salomão ainda não entraram em contato.