Centro Acadêmico de Direito pede revisão do sistema de segurança. PM foi ao local e aulas foram mantidas
Uma mulher mascarada, ainda não identificada, foi a autora da ameaça a faca contra uma estudante ocorrido na manhã desta segunda-feira (10) dentro do banheiro de um prédio do curso de Direito do campus de Goiabeiras da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Esta é a segunda versão que circula entre os gestores da universidade e que, segundo os próprios estudantes, é a verdadeira.
Diante da gravidade do ocorrido, o Centro Acadêmico de Direito Roberto Lyra Filho publicou uma nota, exigindo “uma rápida investigação por parte da Administração Central da Ufes, que envolva o efetivo de segurança interno e as polícias civil e militar”.
A nota também pede que seja feita uma revisão do sistema de segurança universitário, de forma colaborativa, envolvendo toda a comunidade acadêmica e que contemple “treinamento e estratégias individuais e coletivas de autoproteção”.
Os estudantes de Direito orientam ainda que as pessoas “evitem frequentar a Ufes hoje e compartilhar fotos, vídeos ou prints sobre o caso, pois isso não serve como conhecimento da situação, mas tão somente gera pânico, ansiedade e pode, infelizmente, instigar outras ações e com resultados piores”.
E ratificam que o ocorrido “não se trata de um caso de violência doméstica ou familiar, nem há conexão entre as vítimas e a pessoa violadora”, contestando, portanto, a primeira versão do fato, de que o caso teria relação com o ex-namorado da estudante ameaçada com a faca.
Segundo relato dos colegas da estudante, a mulher mascarada estava dentro do banheiro agindo de forma estranha, como se estivesse passando mal, perguntando onde ela estava, que prédio era aquele. A aluna da Ufes então avisou aos colegas o que estava acontecendo. Enquanto uma outra estudante descia também ao banheiro para ajudar, a primeira foi rendida pela mulher mascarada, que levou a faca até seu pescoço e disse que seu namorado iria invadir a universidade com uma arma e disparar contra ela.
Quando a segunda aluna chegou ao banheiro, a primeira conseguiu se desvencilhar da agressora e as duas saíram e correram de volta para a sala de aula, contando o ocorrido. Foi quando o caos se instalou, com os estudantes se jogando no chão ou tentando sair do prédio, havendo então o chamado da polícia, que rapidamente se deslocou para o campus de Goiabeiras.
Ainda segundo os estudantes, a mulher agredida registrou queixa na delegacia e imagens das câmeras de segurança da universidade teriam gravado o momento em que a mascarada entrou no banheiro. A própria aluna agredida, após retornar da delegacia, teria comunicado aos colegas que estava bem, descansando com a família e que estava confiante de que as investigações policiais iriam identificar a autora e resultar na devida responsabilização da mesma.
Notas
Às 10h19, a Universidade publicou uma “Nota sobre suspeita de ameaça a estudante no campus de Goiabeiras”, afirmando tratar-se de “um incidente isolado, não havendo relação com a Universidade ou com sua comunidade”, e que “a estudante foi protegida e encaminhada para cuidados imediatos”. Disse ainda que “o suposto agressor não foi localizado e a Diretoria de Segurança e Logística da Universidade continua apurando a situação” e que “as atividades no campus de Goiabeiras estão mantidas”. A nota, portanto, referia-se ainda à primeira versão do ocorrido, cujo autor teria sido um homem, ex-namorado da vítima.
Às 14h, em uma segunda nota, a Administração Central da Ufes informou que “mobilizou os seguranças que atuam na universidade e a Polícia Militar, que imediatamente compareceram ao local. Também formalizou denúncia à Policia Civil do Espírito Santo e está contribuindo para a elucidação do caso. Todas as imagens captadas pelo sistema de videomonitoramento foram encaminhadas à Polícia Civil, que é órgão responsável pela investigação”.
A Ufes manifestou “preocupação com o ocorrido e reforça que está atenta para manter a segurança da comunidade acadêmica por meio do monitoramento dos espaços e da integração da segurança da Universidade com a Polícia Militar. Também manifesta solidariedade aos estudantes, professores diretamente afetados e familiares, e reafirma seu compromisso de mobilizar todos os esforços para que situações como esta não se repitam na Ufes ou em qualquer instituição educacional. As atividades no campus de Goiabeiras estão mantidas”.
Direitos humanos
A professora do Departamento de Direito, presidente da Comissão Permanente de Direitos Humanos (CPDH-Ufes) e vice-presidente da Associação Nacional de Direitos Humanos, Pesquisa e Pós-Graduação (ANDHEP), Brunela Vincenzi, presenciou o tumulto, que se deu por volta de 8h10. A ação da Polícia Militar, conta, envolveu cerca de oito viaturas. “Quando todos já estavam do lado de fora, a polícia foi revistar o prédio e não encontrou ninguém ferido. A estudante conseguiu se acalmar um pouco, estava em estado de choque, e foi para casa”.
Diante das duas versões, ela afirma que continua acompanhando a apuração dos fatos e a tomada de providências em relação à segurança no campus e acolhimento da vítima e alerta para a necessidade de um trabalho para proteger as mulheres vítimas de violência doméstica que integram a comunidade universitária.
“A universidade precisa estar preparada. A Ouvidoria da Mulher não está funcionando mais. Também é necessário um lugar com apoio psicológico para as vítimas, com possiblidade de acolhimento em sigilo, onde elas possam ser ouvidas sem a presença de outras pessoas, porque são sempre situações muito delicadas. Temos muitos casos de estudantes agredidas por homens também de dentro da universidade”.
A acadêmica ressalta que é fundamental que a universidade não minimize o sofrimento da vítima. Casos de violência ocorrem frequentemente na Ufes e outas universidades do país e, na falta do devido acolhimento e punição dos agressores, provocam a revitimização das agredidas, processo já identificado como comum no Poder Judiciário e em outras esferas da sociedade.
No âmbito acadêmico, inclusive, dois eventos nacionais já foram realizados desde agosto de 2022 e uma proposta de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) está em elaboração por especialistas de vários estados, para orientar todas as universidades sobre a forma correta de lidar com o recorrente problema.