Reunião com a secretária de Direitos Humanos foi garantida após protesto contra violência policial
Após manifestação realizada nessa quinta-feira (8), a secretária estadual de Direitos Humanos, Nara Borgo, se comprometeu a receber os moradores do Território do Bem, em Vitória, que querem discutir com o poder público sobre as ações violentas da Polícia Militar (PM) na região. Contudo, os moradores não estão plenamente satisfeitos, pois a reivindicação deles é a presença também do governador Renato Casagrande; do comandante-geral da Polícia Militar, coronel Douglas Caus; e do secretário estadual de Cultura, Fabrício Noronha.
O protesto, cujo nome foi “Não acredite em contos de fardas, estamos sofrendo com a violência policial”, teve início no Bairro da Penha, passou pelas avenidas Marechal Campos e Vitória, adentrou em Jucutuquara e findou em Maruípe. A ideia era ir até o Palácio Anchieta, mas como o governador afirmou estar com Covid-19, os manifestantes optaram por não ir, pois não seriam recebidos por ele naquele momento.
Moradores que não quiseram se identificar por medo de represálias afirmam que a motivação para a manifestação foi a morte de quatro jovens em menos de 10 dias no Território do Bem no mês de janeiro. Duas mortes foram no bairro Bonfim. Eles relatam que a PM chegou atirando, os rapazes correram para dentro de uma casa, e os policiais os mataram. Outro foi no Alto Itararé, onde a polícia atirou na perna do jovem, que caiu e foi assassinado. Por último, um assassinato no Bairro da Penha. O jovem, segundo os moradores, correu dos tiros e foi para um beco. Já cercado pelos policiais, pediu, de joelhos, para que não o matassem, mas ainda assim foi morto.
Os moradores afirmam que os policiais envolvidos nas quatro mortes são os mesmos, o que faz as pessoas questionarem se estão sendo pagos para isso. “O problema é a PM. A Polícia Civil [PC], quando sobe aqui, faz o trabalho dela e pronto. Não temos reclamação. A Polícia Militar agride verbalmente, fisicamente, e nos leva à morte. As pessoas precisam entender que por trás desses jovens assassinados há sonhos, muitas famílias que não têm condições de dar uma vida melhor para seus filhos. A obrigação é do Estado e da família. A família não tem condições e o Estado não faz sua parte”, critica um morador, que explica que a presença de Fabricio Noronha seria para reivindicar ações culturais no Território.
Nesta semana, o Instituto Conexão Perifa, que atua no Território do Bem, encaminhou ao Ministério Público do Espírito Santo (MPES) um documento no qual solicita a apuração das mortes registradas em janeiro na região, resultado de ações da PM. No documento, são apontadas cinco mortes. O Instituto reivindica, ainda, que o órgão ministerial se reúna com os representantes da Segurança Pública do Espírito Santo, “para proibir as chacinas que vêm acontecendo em nosso território”, e pense “em uma política de paz nas comunidades, zelando pela vida de todos os moradores”.
O órgão ministerial assumiu o compromisso de buscar abertura de diálogo com o Centro de Apoio Operacional Policial para tratar do assunto, além de sinalizar para a possibilidade de criação de uma comissão formada por moradores do Território do Bem e representantes do MPES, que também é uma reivindicação do instituto.