O Atlas da Violência 2021 traz dados que mostram que, no Espírito Santo, a maioria das mulheres vítimas de homicídio é negra. De acordo com a pesquisa, das mulheres assassinadas em 2019, 85% eram negras e 15% não negras. A psicóloga e militante do Movimento Negro Unificado (MNU) e do Núcleo Estadual de Mulheres Negras do Espírito Santo, Luizane Guedes Mateus, destaca que a porcentagem de negras assassinadas aumentou se comparado com o levantamento de 2020.
O Atlas do ano passado mostra que do total das mulheres vítimas de homicídio, 79,2% eram negras, enquanto 20,8% não negras. Luizane destaca que essa realidade é reflexo do fato de que as mulheres negras estão na base da pirâmide, com os menores salários, e mais expostas às agressões físicas, psicológicas e patrimoniais. “Estão expostas nas questões econômica, social e da violência”, pontua.
Ela alerta que o Espírito Santo está aquém no que diz respeito ao combate à violência à mulher. “Existem municípios que não têm serviço específico para a mulher, como um Centro de Atendimento às Vítimas de Violência Doméstica, que funciona em Vitória”, denuncia. Para a psicóloga, uma “política pública ampla não abarca o feminino”, não levando em consideração as especificidades da realidade das mulheres.
Luizane faz outro apontamento, que é a necessidade de, dentro da questão do gênero, fazer também o recorte de raça. “Não dá para fazer uma política que não se atenha à cor da pele das mulheres que sofrem mais violência. Precisamos de políticas públicas eficazes, que não seja apenas a presença do braço armado do Estado na periferia”, defende, destacando que as mulheres negras, em grande parte, são pobres e moradoras das comunidades periféricas, onde “a violência é mais latente”.
Dados
Com o índice de 85% das mulheres mortas em 2019 concentrado entre as negras, o Espírito Santo se encontra em sétimo lugar no país nesse quesito. O primeiro colocado é Alagoas, com as negras representando 100% das mulheres assassinadas. Em seguida, vem Amazonas e Sergipe, com 94%. A Bahia ficou em terceiro lugar, com 92%. Tocantins e Pará dividem o quarto lugar, com 91%. Posteriormente vem Ceará (90%) e Rio Grande do Norte (88%).
Na taxa de homicídios por 100 mil, abarcando negras e não negras, o Espírito Santo está em nono lugar, empatado com o Ceará, com 4,8. O índice de Roraima, que lidera a lista, é 12,5, seguido do Acre (7,5), Amazonas (5,7), Pará (5,5), Rio Grande do Norte (5,4), Alagoas (5,1), Bahia e Mato Grosso (5) e Rondônia (4,8).
O Atlas da Violência é elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), com parceria do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN),