Enquanto se prorroga o tempo de ação das Forças Armadas no Estado – embora a Procuradoria Geral da República (PGR) não recomende a prorrogação indefinida desse prazo, visto que as Forças Armadas não têm caráter de substituir as forças de segurança estaduais – o governo continua com a estratégia de apertar o cerco contra o movimento de policiais militares que bloqueiam as portas dos batalhões desde 4 de fevereiro.
O governo, que já avisou que não volta à mesa de negociações enquanto os bloqueios persistirem nos quartéis, batalhões e unidades da PM, segue com a estratégia de tentar criminalizar os policiais militares que resistem a voltar para as ruas. Já são 2.580 policiais, ou 25% do efetivo, respondendo a Inquérito Policial Militar (IPM). O índice é, coincidentemente, um pouco menor que o que o governo afirma não ter voltado ao policiamento ostensivo (30%).
Com o fim das tratativas, com o governador Paulo Hartung fechando a porta para a negociação, o governo agora passa a ideia que os policiais que “não querem voltar ao trabalho” serão eliminados. Isso também mostra que não vai haver nenhum acordo, já que o discurso é cada vez mais duro em relação aos “motinados”. A narrativa de criminalizar o movimento funciona tanto para intimidar a corporação e as mulheres quanto para colocar a sociedade contra a paralisação.
No entanto, tudo o que foi levantado pelo governo, que apontou que crimes poderiam ser atribuídos a policiais militares – incêndios a ônibus; agressão ao frei Engel, no Convento da Penha; supostas ameaças ao secretário de Estado de Segurança Pública, André Garcia; e a ameaça entre os próprios policiais militares – não tiveram ainda comprovação de autoria. A tática também passou pelo anúncio da extinção do Batalhão de Ronda Ostensiva Tática Motorizada (Rotam) e do Batalhão de Missões Especiais (BME), apontando as unidades como radicalizadas.
Essas medidas criam a condição para tirar mais de 2 mil policiais do serviço, mas não se sabe como a tropa reagirá a uma punição coletiva, o que pode gerar nova crise. Quando se adota o discurso da criminalização, abre-se caminho para colocar uma parcela dos policiais como criminosos e quando pede a prorrogação de permanência das Forças Armadas por mais 30 dias, o governo acredita que conseguirá desmobilizar as mulheres, o que liberaria as viaturas dos batalhões, o que dá efeito visual convincente, mesmo que não haja todo o efetivo nas ruas.