Comunidades judaicas do ES e RJ cobram combate ao “recrutamento de jovens em células nazistas” no País
A Polícia Civil do Espírito Santo (PCES) investiga quais as possíveis contribuições do pai do atirador que atacou duas escolas em Aracruz, na última sexta-feira (25), para que o crime fosse consumado, e quais as relações do adolescente de 16 anos com células nazistas e fascistas que se expandem pelo país.
Em entrevista ao Jornal Nacional, o delegado-chefe da PCES, delegado-geral José Darcy Santos Arruda, afirmou que um dos pontos da investigação é descobrir se o pai ensinou ao filho a dirigir e atirar. “Vamos investigar não só se o pai o ensinou a dirigir, como se foi ele que instruiu a utilizar arma. Se for comprovado que o pai, de certa forma, teve concurso para esse tipo de comportamento, certamente responderá também”.
Em entrevista ao jornal Estadão nesse sábado (26), o tenente da PM declarou seu pesar à atitude do filho. “Meu filho cometeu algo terrível, que nunca poderia ao menos imaginar”, e também confirmou ter postado em suas redes sociais a capa do livro Minha luta, de Adolph Hitler, em que o ditador nazista da Alemanha expõe suas ideias antissemitas e genocidas. O livro, ainda utilizado como referência por grupos neonazistas em todo mundo, é proibido em diversas localidades, inclusive no Rio de Janeiro, por meio de lei municipal.
Diante da forte repercussão nacional da postagem, com denúncias de influência do pai na ação do filho, ele declarou ao Estadão: “Você quer saber de livro da biografia de Hitler. Livro péssimo. Li e odiei”. Mas não comentou o fato de o filho ter pregado uma suástica na roupa usada no crime nem sobre como teve acesso à sua arma e ao carro da família.
‘Apologia ao nazismo é crime’
As comunidades israelitas do Espírito Santo e Rio de Janeiro se manifestaram sobre o crime em Aracruz, que já fez quatro vítimas fatais, cobrando medidas enérgicas contra o crime de apologia ao nazismo.
Em nota de pesar, a Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro (Fierj) ressaltou que “o discurso de ódio, a apologia ao nazismo e o recrutamento de jovens em células nazistas devem ser combatidos pelo Estado brasileiro, pois não estamos tratando de fatos isolados. Há informações sobre o crescimento desses grupos, também, em mais unidades da federação”.
A nota conta que a atuação junto às autoridades policiais, Ministério Público e Judiciário do Rio de Janeiro conseguiu encaminhar denúncias e “obteve decisão favorável à retirada do livro Minha Luta da prateleira de plataforma virtual”.
A entidade alerta que “é necessário um planejamento de ações e recursos para apoiar investigações que venham desmantelar as células nazistas, identificar quem as financia e punir os responsáveis” e que “apoia a legislação do município do Rio de Janeiro que veda a comercialização dessa obra e é favorável à instituição de uma lei federal com o mesmo propósito”.
Assinada pelo presidente da Fierj, Alberto David Klein, a nota ressalta que “apologia ao nazismo, no Brasil, é crime e deve ser tratada como tal. O atentado de Aracruz não pode ficar impune e nem ser esquecido”.
No Espírito Santo, a Congregação Israelita Capixaba (Cicacpi) postou em suas redes sociais uma nota de repúdio, em que levanta questionamentos sobre a banalização das manifestações e crimes de cunho nazista em várias partes do país.
“Como entender que, em pleno século XXI, o ódio e o preconceito sejam vistos de forma quase corriqueira em nossa sociedade? Precisamos abrir espaço para falar sobre o que aconteceu. Em Santa Catarina, cantaram o hino nacional em uma manifestação fazendo gestos nazistas. Já tivemos professor de História vestido de nazista em Vitória e, o mais recente caso, do garoto que sai matando inocentes levando consigo símbolos do nazismo. O que é faltando para que essas pessoas entendam o que foi o nazismo e o horror que isso causou?”, indaga o presidente da Cicapi, Douglas Miranda.