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Piedade: poder público não concretizou plano de ação firmado com a comunidade

Júri do assassinato de irmãos findou capítulo de uma história que sempre se repete diante da falta de políticas públicas

A condenação dos assassinos dos irmãos Ruan Reis e Damião Marcos Reis, em júri popular finalizado nessa quinta-feira (6), certamente era esperada pela comunidade da Piedade, no Centro de Vitória, da qual faziam parte e onde foram mortos a tiros. Contudo, entra ano e sai ano, outros anseios dos moradores não se tornam realidade, como a implementação de políticas públicas em diversas áreas, iniciativas que consideram essenciais, inclusive, para que não haja mais Ruans e Damiões a perder suas vidas. Uma prova desse descaso do poder público é a não implementação do Plano de Ação 15, traçado em junho de 2020.

Por meio do Plano, o Governo do Estado e a Prefeitura de Vitória estabeleceram compromissos com os moradores da Piedade, após uma visita técnica que ocorreu diante da revolta dos moradores com o assassinato de mais um jovem na comunidade, Fabrício Santos de Almeida, em 11 de junho de 2020, motivando uma manifestação contra a violência e por políticas públicas. Ele foi o nono jovem da região assassinado no período de apenas dois anos. Entre essas vítimas, estavam Ruan e Damião.

Vanessa Darmani

Uma das reivindicações é na área da saúde, pois os moradores querem ampliação do atendimento com mais psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, médicos e agente de saúde. Entretanto, informa Pauliane de Souza, que atua na assistência comunitária do Instituto Raízes, a comunidade ganhou um agente de saúde, mas a quantidade de profissionais continua muito reduzida diante da demanda.

O plano também contempla ações de infraestrutura, como avaliação dos postes para troca de lâmpadas queimadas, o que foi feito pouco depois de sua criação, mas, conforme relata Pauliane, para que seja concretizado de maneira periódica, é preciso que os moradores abram um chamado e se disponibilizem a acompanhar os trabalhadores da prefeitura. Caso não acompanhem, normalmente o problema não é resolvido, com a alegação de que o poste não foi encontrado.

Ainda na infraestrutura, os moradores reivindicaram demolição das casas abandonadas. Algumas foram derrubadas, mas Pauliane informa que ainda há outras de pé, que servem de esconderijo para criminosos, aumentando a insegurança na região. Outra ação relacionada à questão da infraestrutura é a realização de mutirões para troca de lâmpadas, que não têm sido feitos periodicamente.
No Plano 15 também consta a promoção de atividades culturais e esportivas. A transformação de um espaço conhecido como Terreirinho em área de lazer é uma das ações defendidas pelos moradores na área cultural. Contudo, não saiu do papel. A única medida executada pela prefeitura no local foi acimentar, e mais nada.
Dentro do eixo de cultura e esporte, foi feita a reforma quadra, que passou a ser administrada pelo Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Carlita Correa Pereira. Mas a falta de banheiro dificulta a utilização do espaço pela comunidade tanto para atividades esportivas quanto para realização de festas, por exemplo, demandando aluguel de banheiro químico, o que onera os moradores.
Pauliane aponta como uma evolução somente o fato de o CMEI ter passado a funcionar em horário integral, o que começou somente este ano. De acordo com ela, isso é importante para possibilitar a permanência das mulheres no mercado de trabalho. No quesito segurança pública, afirma a responsável pela assistência comunitária do Instituto Raízes, as prometidas rondas da Polícia Militar (PM) acontecem somente em dia de tiroteio.
Julgamento
Oito réus foram denunciados pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES) no caso do assassinato dos irmãos Rhuan e Damião. Quatro deles iriam a júri popular a partir dessa quarta-feira (5), mas somente três foram julgados, pois a advogada de um deles apresentou um atestado e não compareceu. Alan Rosário do Nascimento, o Gordinho, Rafael Batista Lemos, o Boladão, e Gean Gaia de Oliveira, o Chocolate, receberam, individualmente, uma pena de 60 anos de prisão em regime fechado, sendo 30 anos por cada uma das mortes. O julgamento foi no Fórum Criminal de Vitória.
O crime
Em entrevista coletiva realizada pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES) dias antes do julgamento, o promotor Rodrigo Monteiro afirmou que os assassinatos causaram grande comoção, porque os dois irmãos não tinham ligação com o crime e eram engajados socialmente. Foi informado que os réus respondiam por crimes como homicídio, tráfico de drogas e roubo. Eles eram moradores da região.
Redes Sociais

Alguns deles, entre 2012 e 2013, foram expulsos da comunidade por traficantes rivais. Chegaram a ser presos e arquitetaram o plano de retomada do tráfico local. Quando saíram da prisão, se aliaram com uma facção criminosa que atua na região de São Benedito e Bairro da Penha, onde conseguiram armas e apoio para as pessoas trabalharem com eles e decidiram retornar ao tráfico da região da Fonte Grande, Moscoso e Piedade.

Também foi dito que o grupo criminoso invadiu a comunidade para tentar assassinar o chefe do tráfico local. Na ocasião, capturaram Ruan, que estava limpando o quintal de casa, e o levaram para o alto do Morro da Piedade. Como os réus estavam vestidos de policiais, o irmão dele, Damião, foi atrás do grupo para tentar a liberação de Ruan. Ambos foram assassinados com mais de 20 tiros.

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