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‘Reunião-maratona’ não avança e PM segue parada

Uma verdadeira reunião-maratona. Foram 12 horas de uma conversa carregada de muita tensão entre interlocutores do governo do Estado e a comissão formada por mulheres de policiais militares. Apesar das longas tratativas – já havia ocorrido uma reunião no dia anterior com mais de mais de três horas de duração – as mulheres deixaram o Palácio da Fonte Grande, por volta das duas horas da madrugada desta sexta (10), inconformadas com a intransigência do governo. Algumas choravam, lamentando o fracasso das negociações. 
 
Um acordo proposto pelo governo (veja abaixo), previa, como condição principal, que os policiais voltassem às ruas às seis horas desta sexta-feira, o que não ocorreu em razão do impasse nas negociações. 
 
As mulheres que participaram diretamente da reunião ou acompanhavam do lado de fora da sala resumiram as negociações como uma guerra de nervos. Com o passar das horas, a tensão foi aumentando e os interlocutores do governo tentavam vencer as mulheres, já esgotadas, pela pressão e pelo cansaço. 
 
O secretário de Direitos Humanos, Júlio Pompeu, assumiu informalmente o comando das negociações, à frente dos outros três representantes do governo – Zé Carlinhos da Fonseca (Casa Civil), Eugênio Riccas (Controle e Transparência) e Paulo Roberto (Fazenda). De posse dos números do governo, Pompeu tentava convencer as mulheres que o governo não poderia atender às reivindicações do movimento porque infringiria a Lei de Responsabilidade Legal (LRF). 
 
A estratégia do governo na condução das tratativas deixou claro que os interlocutores do Palácio Anchieta foram para a reunião com uma acordo pronto na manga. A negociação foi mais uma encenação. O acordo imposto ao movimento, além da volta imediata dos policiais às ruas, previa que os eventuais crimes praticados por policiais seriam devidamente apurados. 
 
Esse termo do acordo, a investigação de eventuais crimes cometidos pelos policiais, corroborava com a  informação divulgada pelo governo de que havia uma lista de mais de 300 policiais que estariam sob investigação por incitar o movimento. A anistia dos policiais eram um dos pontos que as mulheres apontavam como “inegociáveis”. 
 
Enquanto as mulheres tinham a expectativa de sair do Palácio da Fonte Grande com uma solução negociada para o impasse, o governador Paulo Hartung (PMDB), concomitantemente à reunião, era entrevistado pela jornalista Míriam Leitão na Globo News
 
Na entrevista, com direito a panelaço da população em diversos bairros da Grande Vitória, o governador adotava uma narrativa nada conciliadora em relação à paralisação da PM. Hartung, como dissera na entrevista coletiva que fez na quarta (8), voltou a chamar os policiais de chantagista. “Eles estão sequestrando o direito da população e pedindo resgate”. Confirmando o teor do acordo proposto às mulheres, Hartung adiantou que não podia conceder reajuste ou reposições porque romperia a LRF.
 
O governador licenciado também afirmou que muitas das reivindicações dos policiais não eram verdadeiras. Ele “corrigiu” a posição do Espírito Santo no ranking nacional de salários pagos às PMs e desmentiu que não há reajuste há sete anos. “Essa é uma manipulação grotesca”. Hartung subiu mais o tom quando revelou qual seria a posição do governo sobre policiais envolvidos no movimento grevista. “Se depender de mim, não vai sobrar pedra sobre pedra”, avisou. O governador também disse que parte dos oficiais também estariam envolvidos no movimento. “Isso é corporativismo de baixa qualidade”.
 
Mais claro impossível. O tom da entrevista deixou claro que o governo não estava disposto a negociar com as mulheres. A reunião foi uma tentativa de desmobilizar o movimento na pressão, mas a partir da coletiva, quando Paulo Hartung, mesmo licenciado, decidiu assumir a condução da crise e passou a determinar a estratégia do governo, ficou claro que o governador não estava disposto a ceder nas negociações. 
 
Repercussão
 
Do lado do governo, o secretário Júlio Pompeu, depois de 12 horas de reunião, se sentiu à vontade para dizer que o governo fez o que podia para buscar uma solução negociada para o impasse. Ele passou a adotar o discurso de que o governo lavou as mãos e avisou que o governo segue trabalhando pela restauração da ordem pública com o auxílio das Forças Nacionais e Exército.
 
As mulheres dos policiais, frustradas com o desfecho das negociações, se queixaram muito da maneira como as tratativas foram conduzidas. Elas alegaram que desde o início das negociações o governo já sabia o que queria. “Eles foram para reunião com uma proposta pronta. Eles não queriam negociar nada”. 
 
Proposta do governo recusada pelo movimento
 

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