Medo, roubos diários, sensação de vulnerabilidade. Servidores efetivos do Hospital Infantil de Vila Velha, o Himaba, expõem mais um aspecto negativo da Gnosis, Organização Social (OS) que assumiu a gestão da entidade em outubro de 2019.
A unidade está sem segurança desde que a Gnosis substituiu a OS anterior, o Instituto Gestão e Humanização (IGH), também citado em várias denúncias e irregularidades. Antes disso, a vigilância patrimonial era feita com “uma empresa conceituada no mercado capixaba”, como informam os servidores.
Agora, contam, são apenas alguns porteiros: um na recepção central, um na entrada do quarto dos médicos, um na recepção do pronto-socorro e um outro na recepção na entrada de material e comida para dentro do hospital. “Só tem isso a segurança patrimonial”, critica um servidor que pediu para não ser identificado, com medo de perseguição, como já aconteceu em outras ocasiões de denúncia. “Os bandidos descobriram que lá não tem vigilância à noite, então eles vão lá fazer a festa. Todo plantão tem roubo de uma bicicleta”, aponta.
A situação, afirmam os denunciantes, provoca uma sensação de vulnerabilidade e medo entre os trabalhadores, principalmente quando se leva em conta que o Himaba, assim como outros hospitais públicos, são locais de desova temporária de veículos roubados, fato conhecido da polícia, alegam. “Os bandidos levam carros roubados pra dentro do pátio do hospital. Chegando lá, eles abandonam. No dia seguinte, eles voltam pra ver se o carro está lá, se o carro não foi rastreado, eles pegam e levam”, descreve um servidor.
Antes da Gnosis, argumentam os trabalhadores, a segurança armada do hospital prestava apoio aos servidores em relação a esse hábito. “Eu já trabalhei no hospital infantil e já vi gente entrar lá e atirar dentro da emergência do Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória [Hospital Infantil de Vitória]”, relata.
“A partir do momento que você chega no hospital, com um pátio escuro daquele, você pode ser sequestrado ou assaltado”, conta outro servidor, que diz ter tido o baú da moto arrombado e ter conhecimento de vários colegas que tiveram bicicletas roubadas.
Na gestão passada, explica, haviam vigilantes no pronto-socorro, na recepção central, na entrada de materiais, além de duas duplas armadas, uma no plantão diurno e outra no plantão noturno. “Eles faziam a ronda no pátio, todos se comunicavam com os vigilantes internos, então já houve casos de amenizar briga entre pessoas que se encontravam dentro do hospital por vários motivos, pessoas que chegavam lá ameaçando profissional, eles davam apoio. Hoje já não tem mais”, lamenta.
Além da extinção da segurança patrimonial, os servidores reclamam do número de demissões que a Gnosis e as outras OSs têm feito. “Eu nunca vi um hospital que tanto demitiu. Eles demitiram todos os dias. Todos os dias. Chegaram já alguns casos de demitir 15 funcionários de uma vez só, eu nunca vi um hospital que demitiu tanto. Demitir por telefone, é um a coisa de doido”, assombra-se.
Outra área muito afetada além da segurança, avaliam, é a limpeza. “É um funcionário só para limpar o pronto-socorro! A pessoa tem que limpar cinco enfermarias! Tem uma área que é restrita para pacientes que ficam ali confinadas, esperando vaga na psiquiatria. Tem uma área lá que é uma área de observação, que o paciente fica esperando até sair a vaga, é muito grande, é trabalho escravo para menina da limpeza”, conta.
O novo contrato para a administração da unidade com o Instituto Gnosis foi anunciado em outubro do ano passado, após confirmação dos rombos provocados pela Organização Social IGH (Instituto de Gestão e Humanização) no Himaba, de pelo menos R$ 37 milhões, fruto de má gestão e irregularidades. Na época, porém, o Sindicato dos Trabalhadores do Estado (Sindisáude) criticou o governo por “trocar seis por meia dúzia”, já que o Instituto Gnosis responde a uma série de irregularidades no Rio de Janeiro, como desvio de verbas e superfaturamento em preços de remédios.
Nova substituição
A contratação do Gnosis foi feita de forma emergencial, pelo prazo de 180 dias, até a realização de chamamento público definitivo, cujo edital – 001/2020 – foi publicado no Diário Oficial do Estado nesta segunda-feira (17).
O processo é aberto a todas as pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujas atividades sejam dirigidas à saúde.
Os envelopes com as propostas devem ser entregues no setor de Protocolo da Sesa em até 30 dias após a publicação deste edital, das 8h às 17h. A documentação deve estar em envelope lacrado e devidamente identificado, na Rua Engenheiro Guilherme José Monjardim Varejão, 225, Edifício Enseada Plaza, Enseada do Suá, Vitória/ES. CEP: 29050-260.
O edital completo pode ser acessado em www.saude.es.gov.br, aba Organizações Sociais/OS/Editais/Edital HIMABA 2020.