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Sobe para 203 o número de moradores que deixaram a Piedade devido à violência

Desde o ano de 2010, quando os conflitos do tráfico se intensificaram no bairro da Piedade, no Centro de Vitória, 203 pessoas deixaram a comunidade, o que corresponde a 60 residências desocupadas. Os dados são da ONG Grupo Raízes da Piedade, que divulgou mais uma nota na tarde dessa sexta-feira (15). Apenas neste ano, segundo a organização, 114 pessoas se mudaram do bairro, o que representam 36 casas vazias desde janeiro. 
 
De acordo com o comunicado, ainda na tarde dessa sexta-feira (15), foi realizada reunião com a Prefeitura de Vitória, moradores e o Instituto Raízes. Resultado do encontro, a Prefeitura garantiu que, para este sábado (16), realização de mutirão de limpeza, recolhimento de entulhos, pintura de corrimões e vias do Morro da Piedade.
 
Além dessas intervenções imediatas, serão avaliadas e planejadas outras medidas de melhorias para o bairro e equipamentos que atendem à comunidade, como a ampliação e funcionamento do Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Carlita, com a ideia de ampliar o horário para tempo integral; reorganização dos atendimentos na unidade de saúde do bairro; articulação do CRAS com ações coletivas e sociais; início de práticas esportivas na quadra poliesportiva do bairro e reuniões periódicas para acompanhamento da situação do bairro.
 
Policiamento
O Grupo Raízes da Piedade deve se reunir nos próximos dias para avaliar o trabalho que a Secretaria de Segurança Pública vem realizando no bairro. De acordo com informações que a ONG tem colhido com moradores, há uma preferência de que o policiamento fixo, caso implantado, esteja no meio da comunidade e não apenas no pé do morro, como costuma ocorrer. De acordo com a entidade, ainda há um clima de medo e muitas das famílias que permanecem na comunidade lá estão porque não têm como custear aluguel em outro bairro. 
 
Neste ano, pelo menos, quatro jovens foram assassinados no morro, incluindo os irmãos Damião, 22 anos, e Ruan, 20, crimes que alcançaram grande repercussão no final de março deste ano. Neste mês, Walace de Jesus Santana, 26 anos, foi a vítima mais recente. Foi assassinado próximo ao projeto social Raízes da Piedade, cancelando uma festa junina prevista para o domingo (10). Além do assassinato, os criminosos invadiram a casa da mãe do jovem, onde também morava sua avó de 93 anos, e colocaram fogo nos cômodos. Além dos três jovens, Lucas Teixeira Verli, de 19 anos, por sua vez, foi assassinado no dia 28 de maio. 
 
Falhas de investigação
A maior parte dos crimes não é solucionada. De acordo com o presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Estado do Espírito Santo (Sindipol/ES), Jorge Emílio Leal, não há policiais suficientes para elucidar os crimes. 
 
“O trabalho na Piedade deveria ser conjunto entre, pelo menos, dois setores da PC/ES Divisão de Homicídios e Delegacia de Tóxicos e Entorpecentes. Infelizmente, sabemos que crimes em periferias não são investigados com o mesmo empenho de casos como o da médica Milena Gotardi e das crianças assassinadas no norte do Estado. São casos midiáticos e de grande repercussão, que também servem de trampolim político, por isso, os gestores da segurança, que são políticos, priorizam esse tipo de crime”.
 
Dados do Atlas da Violência 2018, referentes ao ano de 2016, revelam que o Espírito Santo, apesar de ter alcançado redução nos índices de homicídios em todas as faixas etárias e sexos, teve um acréscimo no número de mortes violentas por causa indeterminada de 172% entre 2006 e 2016 (terceiro no ranking, perdendo apenas para o Distrito Federal e Ceará) e de 7,6% de 2015 para 2016. Para os pesquisadores, esse fato pode “contribuir para ocultar uma maior taxa de agressões letais” e também são indicativos de falhas na investigação.

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