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Sociedade civil repudia agressão policial e detenções no Território do Bem

Ativistas dos direitos humanos foram detidos e agredidos por militares nessa quinta-feira

Leonardo Sá

O Coletivo Beco, o Grito da Cultura e o Conselho Estadual de Juventude (Cejuve) divulgaram notas de repúdio a uma ação policial ocorrida nessa quinta-feira (24), no Território do Bem, em Vitória. Dessa vez, as vítimas foram os defensores dos direitos humanos Luiz Adriano, que tem denunciado a violência policial na região, e sua tia, Marly, coordenadora do Centro de Referência das Juventudes (CRJ) do bairro Itararé.

Em vídeos que circulam nas redes sociais, é possível ver três policiais jogando o jovem no chão enquanto moradores tentam socorrê-lo, mas são agredidos pela polícia com empurrões e balas de borracha. Ambos foram detidos. Marly, inclusive, foi alvejada com balas de borracha ao tentar ajudar o sobrinho. 

O Coletivo Beco manifesta, na nota, solidariedade aos dois e aponta que “foi uma noite de terror com tentativa de captura e silenciamento, que graças à união da comunidade não progrediu para mais um caso de extermínio”. A entidade destaca que Luiz Adriano ficou na viatura durante horas, sem atendimento médico, “após sofrer agressão de vários agentes ao mesmo tempo”.

Também tece críticas “ao silêncio” por parte do Governo Estadual. “Mesmo com a presença da secretária estadual de Direitos Humanos [Nara Borgo], a Polícia Militar contorce narrativas a seu favor e nega o direito ao atendimento médico de Luiz, e o governador [Renato Casagrande] não demonstrou nenhum interesse em se posicionar ou defender a coordenadora de um CRJ – uma política de governo que há anos moe (sic) nossos corpos periféricos e causa danos psicológicos alarmantes em seus funcionários em troca de metas batidas para portfólio da atual gestão”, denuncia o Coletivo.

O Grito da Cultura classificou o ocorrido como “mais um episódio lamentável da violência policial”. “A polícia entrou na favela e tocou o terror, sim, foi isso que a polícia fez, não foi operação, não foi inteligência, foi terrorismo, é o braço armado do estado cometendo crimes! Tiro, mortes, torturas, violências e prisões indevidas”, diz a nota divulgada nas redes sociais do Grito, que acrescenta: “essa tem sido a dinâmica em vários territórios periféricos do Estado. Ou seja, uma atuação coordenada, planejada para ser desse modo. Não é o acaso, é projeto de poder. Com um braço o Estado cria pseudopolíticas públicas e, com o outro, extermina a periferia e o povo preto”.

Os artistas se manifestaram não somente por meio do Grito da Cultura, mas também de forma individual. O chargista Mindu Zinek divulgou uma charge na qual mostra Marly sendo algemada e o governador Renato Casagrande “brincando de influencer”, referindo-se ao fato de que todas as sextas-feiras pela manhã ele grava um vídeo fazendo algum prato dizendo “sextou, mas não sextarei”.

Mindu Zinek

O Cejuve, por meio de nota, destacou que “o Espírito Santo possui atualmente o maior investimento em políticas de juventude no Brasil, uma conquista que reconhece a importância do desenvolvimento e do protagonismo da nossa juventude”. Entretanto, afirma, “os recentes acontecimentos evidenciam os desafios que ainda enfrentamos na capacitação das forças de segurança para que estas atuem de forma humanizada e em consonância com os direitos fundamentais”.

O colegiado destaca que, em conjunto com a Secretaria Estadual de Direitos Humanos (SEDH), acompanha de perto as investigações e apura todos os fatos relacionados ao caso. “Não podemos permitir que a polícia, sob a gestão do secretário de Segurança Pública e Defesa Social, e do chefe da Polícia Militar, opere com total impunidade em nossos territórios e em relação aos nossos jovens. É imperativo que lutemos por um Estado que atue como um aliado na promoção da justiça social, e não como um agressor que perpetua a violência e a opressão”, diz o Cejuve.

A nota encerra com o Cejuve reforçando “nosso compromisso com a defesa dos direitos dos jovens capixabas e com a promoção de uma sociedade justa, onde as políticas de juventude sejam respeitadas e onde o diálogo prevaleça sobre a violência.

Posicionamento da secretária

A secretária estadual de Direitos Humanos, Nara Borgo, se pronunciou nas redes sociais, após receber questionamentos. Ela afirmou que, por volta das 22h, advogados e pessoas da comunidade entraram em contato relatando o que estava acontecendo. “Fui para lá porque precisava garantir que aquelas pessoas que estavam ali, detidas, pudessem ter acesso aos advogados e advogadas. O acesso é um direito fundamental, estive lá para garantir que tivessem esse acesso”.

A gestora disse, ainda, que “não arredei o pé de lá. Fiquei lá até 3h30 da manhã. Até quando tive certeza que as pessoas que iriam para o camburão, onde elas estavam, fossem ser ouvidas pelo delegado com seus respectivos advogados”.

Violência Policial

Os últimos meses têm sido de muita violência policial no Território do Bem. Em setembro, aconteceram oito mortes em ações policiais na Capital, três delas nessa localidade. As primeiras vítimas foram Breno Passos Pereira da Silva, de 23 anos, e Matheus Custódio Batista Quadra, de 26, alvejados em São Benedito no dia 9. Breno, de acordo com moradores do bairro São Benedito, foi assassinado em um beco, quando a polícia chegou atirando. Matheus foi alvejado cerca de 30 minutos depois, quando, ao fugir da polícia, entrou na casa de uma moradora. Os policiais, então, adentraram a residência, o algemaram e disparam contra ele.

A última morte foi de Davi, de 16 anos, conhecido na comunidade como Dan, que levou um tiro na cabeça ao sair de casa para comprar refrigerante. Moradores, que preferiram não se identificar por medo, afirmaram que não houve confronto com a corporação. Os relatos são de que, por volta das 17h, as viaturas rondavam a parte de baixo do bairro Bonfim. Depois subiram a Escadaria do Trabalhador, foram para o Bairro da Penha e São Benedito. Alguns policiais se esconderam na mata. Ao ver as viaturas, um grupo de jovens correu. Davi, que tinha saído para comprar refrigerante, acabou correndo também. Foi quando os policiais que estavam na mata dispararam vários tiros em direção aos rapazes, acertando a cabeça de Davi.

Pessoas da comunidade, então, foram até o local, onde, afirmam, avistaram policiais com o pé na cabeça do rapaz. Elas relataram que pediram para enviar Davi para o hospital, mas os PMs ameaçaram atirar contra os moradores que estavam ali. “Quando pegaram o corpo e desceram com ele na escadaria, a cabeça batia nos degraus. Uma parte do cérebro do menino caiu. Jogaram no camburão como se fosse um lixo”, denunciaram. O ocorrido motivou manifestações nas comunidades de Consolação, Gurigica e Bairro da Penha.

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