O Comando-Geral da Polícia Militar convocou, nesta terça-feira (18), um contingente de 266 praças e oficiais da Polícia Militar de todo o Estado para um evento no Palácio Anchieta. Com quase um ano de atraso, a cerimônia marcaria a promoção desses policiais militares. No entanto, nesta quarta-feira (19), a Circular n° 99/2017 comunicou o cancelamento do evento, que aconteceria na manhã desta quinta-feira (20).
Depois do movimento dos familiares de policiais militares que paralisou o policiamento ostensivo por 22 dias em fevereiro passado em todo o Estado, o clima na corporação nunca voltou a ser o mesmo. A insatisfação aumentou com a aprovação do Projeto de Lei Complementar (PLC) 21/2017, a Lei de Promoções de Praças e Oficiais, considerado pela maioria dos policiais prejudicial à categoria.
A convocação dos praças e oficiais para o evento foi considerada por uma parcela dos policiais uma tentativa de o governo transmitir que não há nenhuma animosidade entre o Comando da PM e a tropa. A cerimônia também teria o intuito de promover o governo.
O presidente da Associação dos Oficiais da Polícia Militar (Assomes), tenente-coronel Rogério Fernandes, lembra que, apesar do discurso do governo de que tudo vai bem, episódios como o ocorrido no 1º Batalhão de Polícia Militar (BPM) nesta terça-feira demonstram que há grande insatisfação na tropa. O oficial se referia ao episódio envolvendo militares que se recusaram a assinar um termo de cessão de imagem para a gravação de um vídeo institucional do governo.
O tenente-coronel lembra que o policial quer valorização salarial, já que tem obrigações consigo e com a família. “As promoções prometidas para essa quinta-feira (20) já eram para ter ocorrido desde o ano passado, não são presentes do governo, mas são justas e merecidas pelos militares pelo transcurso de suas carreiras. O nível de insatisfação é tão grande que não temos certeza se essas promoções serão capazes de diminuir a insatisfação com a desvalorização salarial e a falta de perspectivas das carreiras dos oficiais e praças da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar”, conta ele.
O presidente da Assomes defende que haja um diálogo real entre o governo e a tropa para avanço nos pleitos, principalmente no tocante às carreiras e às condições de trabalho. “Medidas paliativas não retomarão o ânimo dos policiais militares, e os índices de violência e criminalidade demonstram isso todos os dias para a sociedade. O número de homicídios e crimes contra o patrimônio, especialmente furtos e roubos de veículos, não param de crescer. Por mais que o governo gaste milhões com publicidade e propaganda, o povo capixaba está atento ao que está acontecendo e o tratamento dado aos policiais militares e cobrara no momento certo. Ninguém vai se deixar enganar. Ninguém vai se deixar enganar”, conclui Rogério Fernandes.
De acordo com o deputado estadual Josias da Vitória (PDT), o governo quer tirar proveito de tudo para se promover publicitariamente, mas teria percebido, na última hora, que seria um risco convocar uma tropa insatisfeita para se deslocar de todos os cantos do Estado para um evento que tinha tudo para dar errado.
O deputado salienta que a Lei 467/08, a atual Lei de Promoções, é clara em determinar que a aprovação para a promoção se dá no momento em que a vaga é aberta. Ele lembrou que essas promoções estão pendentes desde outubro de 2016. “Além de não cumprir a lei, querem exibir os militares”, disse.