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​Um ano do massacre de Aracruz: ato vai cobrar justiça e reparação

Mobilização terá início na frente da escola Primo Bitti, de onde os manifestantes seguirão até o Centro 

O atentado a duas escolas de Aracruz, no norte do Estado, que deixou quatro vítimas fatais e 12 feridos, completa um ano neste sábado (25). Nessa data, o Fórum Antifascista, o Fórum de Mulheres do Espírito Santo (Fomes) e o Coletivo de Mulheres Dona Astrogilda realizarão um ato na cidade. A concentração será às 7h, em frente à Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio (EEEFM) Primo Bitti, uma das unidades de ensino onde o crime aconteceu. No local haverá faixas, cartazes e místicas. Às 9h, os manifestantes marcharão até o Centro do município.

O objetivo, afirma a professora da Primo Bitti e integrante do Fórum Antifascista, Leilany Santos Moreira, é cobrar por justiça e reparação às vítimas. As entidades também querem da  gestão Renato Casagrande (PSB) respostas sobre as investigações, além de cobrar medidas e politicas que possam atender às demandas das famílias, estudantes e profissionais da educação.


Leilany relata que o governo paga indenizações para as famílias das vítimas fatais que foram assassinadas na Primo Bitti, para oito feridos e 20 pessoas entre os demais professores e terceirizados. As audiências de negociação, afirma, são individualizadas e não é permitido às vítimas e familiares falar os valores. Contudo, segundo ela, a informação que circula é que para as famílias das vítimas fatais as indenizações giram em torno de R$ 50 mil e 70 mil. Para os demais, entre R$ 3 mil e R$ 5 mil.

Os montantes são considerados insuficientes diante dos gastos que as vítimas e familiares têm e ainda terão com medicamentos, tratamentos médicos e psicológicos. Outra crítica é ao fato de que trabalhadores que não estavam na escola no momento do crime, mas também sofreram abalos psicológicos, devido à ligação afetiva com a unidade de ensino e com as vítimas fatais, não serão indenizadas.

Quanto ao andamento das investigações sobre os ataques, Leilany informa que está em sigilo, mas que a reivindicação é que os pais do adolescente de 16 anos que cometeu o crime respondam criminalmente e que se apure a participação do rapaz em células nazistas. A professora recorda que “o pai do menino tinha livros nazistas e publicizava o material, o que no Brasil é crime, e isso pode ter incentivado a atitude do filho”. Para ela, “esse menino não planejou sozinho, não aprendeu a atirar sozinho. A arma era do Governo do Estado, um dos ataques foi em uma escola do estadual, o governo tem que se responsabilizar”, cobra.
Outras demandas são de que o governo do Estado efetive uma política de prevenção a novos ataques e que a Prefeitura de Aracruz garanta políticas de saúde mental nos postos de saúde, já que os problemas psicológicos têm crescido em meio à comunidade escolar. “Quem se sente indignado com o que aconteceu e com a forma como as gestões municipal e estadual conduzem as questões, venha participar”, convoca. 

Leilany relata que, na escola e até mesmo na cidade, existe um apagamento do ocorrido, pois não se toca no assunto. Uma das ações que comprovam isso é o evento realizado nesta semana na Primo Bitti, a “Semana pela Paz e Respeito à Diversidade”. Leilany relata que mesmo com essa temática e com realização justamente na semana em que o atentado completa um ano, o evento não toca no ocorrido e tem um tom festivo, com apresentação de grupos de danças folclóricas e bandas.
De acordo com a professora, há, inclusive, uma criminalização dos estudantes e da escola por moradores de Aracruz. Muitas pessoas classificam os alunos da Primo Bitti como “mal-educados e sem disciplina”, como se o que tivesse motivado o adolescente a cometer o crime tivesse sido o fato de ter essas características, portanto, como se qualquer aluno dali pudesse fazer o mesmo. “Os alunos sentem o peso, a carga de estudar ali”, lamenta.
A integrante dos Fórum Antifascista destaca ainda que, após o atentado, houve maior adoecimento da comunidade escolar, mais afastamento de professores por problemas psíquicos e mais casos de ansiedade entre os alunos, além de imperar um “clima de medo”. O ataque mudou também a rotina das trabalhadoras da limpeza. Segundo Leilany, elas entravam uma ecada sala para fazer a limpeza. Agora, entram acompanhadas de mais uma ou dois, pois já aconteceu de alguém entrar sozinha e passar mal.


Live

O atentado em Aracruz também será tema de uma live a ser realizada na próxima segunda-feira (27), com transmissão pelo canal da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Espírito Santo (Adufes) no YouTube. O tema será “1 ano do massacre em Aracruz: Fascismo, Mapa do Ódio e Violência Contra as Mulheres”. O debate é organizado pela Adufes, pelo Fomes e pelo Grupo de Estudos e Pesquisa em Populações Pesqueiras e Desenvolvimento (Geppedes).
Leilany será uma das participantes, tratando do tema “Memória e Justiça em um ano do Massacre de Aracruz”. A doutoranda do Programa de Pós- Graduação em Ciencias Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Natália Carvalho Medici Machado, falará de Misoginia e Violência na Internet: ecossistema de ódio. A outra debatedora será a jornalista, especialista em segurança pública e integrante do Fomes, Inês Simon, que falará sobre Violência Contra as Mulheres: misoginia e feminicídio.


O crime

Os ataques foram feitos primeiramente na EEEFM Primo Bitti, onde o atirador havia estudado até junho do ano passado. Após arrombar o cadeado, ele invadiu a escola e acessou a sala dos professores, vitimando fatalmente as docentes Maria da Penha Banhos, Cybelle Bezerra e Flavia Amboss. Outras três professoras baleadas sobreviveram, mas estão com sequelas. Depois, o adolescente seguiu para o Centro Educacional Praia de Coqueiral (CEPC), escola da rede privada de ensino, onde matou a estudante Selena Sagrillo. Mais dois alunos foram baleados, mas conseguiram sobreviver.

O processo em relação ao adolescente autor dos ataques foi concluído em sete de dezembro pelo juiz Felipe Leitão, da Vara da Infância e Juventude de Aracruz. O magistrado aplicou a medida socioeducativa de internação pelo prazo de até três anos. Caberá ao Juiz da 3ª Vara da Infância e da Juventude de Vitória, com base em pareceres técnicos da equipe do Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo (Iases), avaliar, a cada seis meses, a internação. Foi aplicada, ainda, uma medida protetiva de acompanhamento psiquiátrico durante o período de cumprimento da medida de internação.

O pai do adolescente também é investigado pela Polícia Civil (PC), que averigua suas possíveis contribuições com o crime e quais as relações do adolescente de 16 anos com células nazistas e fascistas que se expandem pelo país. Um dos pontos da investigação é descobrir se o pai ensinou o filho a dirigir e atirar. Além disso, a Corregedoria da PM instaurou um Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD) contra o tenente, que foi afastado das atividades operacionais e vai permanecer nas administrativas no decorrer do processo.

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