Os números são provenientes de boletins de ocorrência da Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp), compartilhados por meio do Convênio de Cooperação Técnica nº 001/2015, firmado por meio da coordenação do Núcleo de Enfrentamento às Violências de Gênero em Defesa dos Direitos das Mulheres (Nevid).
Ao todo, foram 26 homicídios de mulheres no Espírito Santo no primeiro trimestre. No subnúcleo da Grande Vitória, além de Vila Velha, com nove assassinatos, estão Cariacica (2) e Serra (4). No mapa constam também os subnúcleos do norte e noroeste do Estado, que são os de Linhares, com quatro vítimas; e São Mateus e Colatina, com uma cada. Há ainda, no sul, o subnúcleo de Cachoeiro de Itapemirim, que registrou duas mortes. Outro subnúcleo é o de Guarapari, que registrou três.
Val Nunes, integrante do Nossa Voz Mulheres, coletivo feminista que atua em Vila Velha, relata que a maior parte desses crimes acontece nas comunidades periféricas da cidade. “A informação não chega até a periferia. As campanhas educativas, sobre como e onde denunciar, e até mesmo identificar formas de violência, pois muitas vezes as coisas são muito naturalizadas, têm sido feitas principalmente pela internet, e várias mulheres periféricas não têm acesso”, aponta.
Val conta que, durante período da pandemia, atuou como educadora social em um Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) de uma comunidade de Vila Velha, que prefere não identificar, e era alta a demanda de mulheres solicitando ajuda para ter acesso à internet para acompanhar aulas online. Outro problema que contribui para que relacionamentos abusivos culminem em assassinatos, afirma Val, é a dependência financeira. “A pandemia aumentou o desemprego e o subemprego entre as mulheres, fazendo com que viesse do marido a principal fonte de renda. Como terminar um relacionamento, principalmente se há filhos para criar?”, questiona.
Para contribuir com a mudança da realidade de violência contra a mulher em Vila Velha, o Nossa Voz Mulheres irá começar, em maio, uma atividade educativa nas escolas da cidade. Será por meio de palestras, rodas de conversa e oficinas artísticas para conversar com adolescentes sobre as mais diversas formas de violência, como denunciar e sexualidade. “Ainda hoje, muitos rapazes pedem para as meninas deixarem transar sem camisinha como uma prova de amor, e muitas permitem. Queremos conversar sobre os perigos de uma relação desprotegida”, explica.
Val considera que essa realidade é incentivada pelo que chama de “mito do amor romântico”. “A gente cresce ouvindo nas músicas, vendo nas novelas, filmes, desenhos, sobre o amor romântico. É como se o único objetivo na vida de uma mulher tivesse que ser encontrar um príncipe encantado, que a cuide, proteja. A mulher acaba não se enxergando como um ser que deve buscar seus ideais, é uma narrativa que diz que ela precisa de alguém para ser amada, e não que ela deve se amar. Para manter essa relação, muitas acabam se submetendo a diversas formas de violência”, afirma.
Crescimento da violência
No início de março, foi divulgado pelo governo do Estado que, no primeiro bimestre de 2022, foram registrados 164 homicídios no Espírito Santo, o menor número da série histórica. Entretanto, quando se trata do homicídio de mulheres, o Estado registrou um aumento de 57,1%, considerando o mesmo período do ano passado. Em janeiro e fevereiro de 2021, 14 homicídios de mulheres foram registrados no Espírito Santo. Este ano, só em janeiro, o Estado já tinha alcançado esse número, chegando a 22 no fim de fevereiro. Os dados são do Observatório da Segurança Pública da Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp).
Durante todo o ano de 2021, o Observatório indica que 106 mulheres foram vítimas de homicídio no Espírito Santo, sendo 38 casos confirmados como feminicídio, quando a vítima é morta por ser mulher. O mês mais violento foi outubro, quando a Sesp registrou 18 homicídios de mulheres no Espírito Santo. O rastro da violência também tem sido maior ano após ano. Em 2019, foram 91 casos, e em 2020, 102 registros, chegando a 106 em 2021.
Defensoria Pública
Ela acrescenta que “é preciso ter atendimento para todas as mulheres, principalmente as mais vulneráveis. A Defensoria não chega a todos municípios”, e destaca que a DPES faz atendimento para as mulheres vítimas de violência nos Centros de Referência, mas que esse tipo de serviço não é prioridade nesses locais.