O caso de racismo registrado nas eleições do Sindicato dos Trabalhadores e Servidores Públicos do Espírito Santo (Sindipúblicos-ES), na última terça-feira (11), resultou também num pedido de impugnação protocolado pela chapa de oposição (2) contra a chapa da situação (1), composta pela atual administração da entidade sindical, por uso da máquina no pleito.
De acordo com o documento, registrado nessa quarta-feira (12) junto à Comissão Eleitoral pela Chapa 2, e assinado por Lúcia Helena Reis Costa, o episódio foi registrado no site oficial da entidade sindical, o que tipifica divulgação de propaganda contra a chapa oposicionista, uma vez que a mulher que praticou o ato de injúria racial foi identificada como apoiadora da Chapa 2.
“Tão condenável (quando o ato de racismo), todavia, foi a atitude da atual direção do Sindicato, integrantes da Chapa 1, que utilizaram-se politicamente do ocorrido com fim espúrio de tirar vantagem eleitoral, em desfavor da Chapa 2”, relata do documento.
E continua, em outro trecho, “… Ademais, o uso da expressão “apoiadora da Chapa 2” para qualificação da eleitora envolvida no episódio demarca a intenção de vincular a acusação de racismo feita pela fiscal da chapa da situação à Chapa 2, vinculando o nome da chapa a um ato deplorável, todavia, ainda não apurado; pelo qual, mesmo que venha a ser comprovado, a Chapa 2 não tem qualquer responsabilidade… A notícia assim veiculada transformou o site da entidade sindical num panfleto virtual publicado pela Chapa 1, composta por integrantes da atual gestão”.
No pedido de impugnação, a Chapa 2 pede também anulação do pleito, com base no artigo 77 do Estatuto da entidade sindical, que prevê anulação quando houver vício ou fraude que comprometa a legitimidade da eleição.
Caso de Injúria Racial
Na última terça-feira (11), a estudante de Direito da Universidade Federal do Estado (Ufes), Isabela Mamedi, de 22 anos, que atuava como fiscal de urna para a Chapa 1, foi alvo de injúria racial por parte sindicalizada apontada como apoiadora da Chapa 2, na própria sede da entidade sindical, localizada no Centro de Vitória. “Ela começou a me xingar e, nisso, eu ouvi um ‘negrinha’. Eu pedi pra ela repetir e ela continuou, me chamando de favelada, de negrinha favelada!”, contou Isabela.
O atual presidente do Sindipúblicos-ES, Haylson de Oliveira, chegou a afirmar que a própria entidade sindical orientou a jovem a fazer a queixa de injúria racial e ressaltou que, de qualquer forma, não havia intenção de generalizar o ocorrido para todos os integrantes da Chapa 2. “Foi um episódio isolado. Foi lamentável e que pela primeira ocorreu na sede do Sindicato. Não admitimos nem compactuamos com essa atitude, mesmo que seja cometida por um sindicalizado”.
Segundo Isabela, que prestou queixa na Delegacia da Polícia Civil do Horto de Maruípe, em Vitória, a agressora estava tumultuando o local de votação e tentando fazer campanha. A mulher é identificada com uma antiga afiliada do Sindipúblicos e teria, inclusive, participado da fundação do Sindicato.
O Sindipúblicos-ES também publicou uma nota em que reafirma sua posição intransigente contra qualquer forma de discriminação. “Respeitando nosso Estatuto, encaminharemos o caso à Comissão de Ética, e nos colocamos à disposição das autoridades policiais para que seja devidamente apurado sendo tomadas todas as medidas cabíveis. Por fim, reforçamos para que integrantes e apoiadores das chapas cumpram seu dever cívico e ético de respeito mútuo para que o pleito se finalize sem mais transtornos”, diz trecho da nota.
As eleições no Sindipúblicos-ES está em sua segunda chamada por falta de quórum no primeiro escrutínio, realizado entre os dias 26 a 28 de novembro. A votação segue até a próxima quinta-feira (13), com apuração dos votos na sexta (14). Participam duas chapas, a vencedora estará à frente da entidade por um mandato de três anos, que será iniciado no dia 29 de dezembro deste ano.