Toni Braga, do Sintect-ES, aponta dificuldade de acesso a testes e no isolamento de setores com casos suspeitos
Um dos serviços considerados essenciais neste momento de pandemia, os Correios não só seguem em funcionamento como vivem o boom do e-commerce a partir do isolamento social. A situação dos trabalhadores que estão expostos aos riscos durante sua jornada, entretanto, está longe da ideal, de acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos (Sintect-ES).
O presidente da entidade, Toni Braga, afirma que a Empresa de Correios e Telégrafos (ECT), de caráter público, apareceu logo com um discurso apontando para várias atitudes de combate à Covid-19, mas as iniciativas arrefeceram logo, especialmente depois do primeiro discurso do presidente da República Jair Bolsonaro minimizando a doença e alegando que seria apenas “uma gripezinha”.
O sindicato teve que acionar a Justiça para que a empresa disponibilizasse máscaras e álcool em gel de forma individual para cada trabalhador. Foi garantido aos trabalhadores em grupo de risco que trabalhassem de forma remota em suas casas, porém não foi aceita a proposta de redução de carga horária e rodízio de funcionários para diminuir a exposição, nem o afastamento dos funcionários que dividem o lar com pessoas de grupos de risco, o que aumenta o risco de transmissão para estes.
Para quem segue trabalhando, uma das principais dificuldades está em conseguir realizar os testes com o plano de saúde da ECT em caso de sintomas e suspeita de coronavírus. Um trabalhador relatou que teve que pagar do próprio bolso pelo teste, já que embora assintomático, havia convivido com um familiar que contraiu a doença. Após a confirmação da infecção, não teria sido feito o isolamento de todo o setor em que ele trabalhou, como recomendam as normas.
“Os trabalhadores foram obrigados a voltar ao trabalho normalmente. Fizemos a intervenção e a empresa concedeu os testes para esses trabalhadores, mas queria obrigar a continuar trabalhando até saírem os resultados”, afirmou Toni.
A higienização das agências também é uma preocupação constante, já que nos últimos tempos a precarização tem aumentado dentro de uma processo de sucateamento da ECT, no qual foram reduzidos os contratos de terceirizadas que cuidam da limpeza, restringindo o número de funcionários no setor e tempo de permanência nos locais, o que prejudica a higienização neste momento crítico.
O Sintect-ES pede que os trabalhadores e clientes denunciem quando encontrarem situações inadequadas em que não se cumpram as recomendações de saúde. Também aponta problemas nas gestão em alguns locais do Estado, em que carteiros no interior foram deslocados para atender a demanda em outros próximos, diminuindo os serviços locais ao mesmo tempo em que aumentam a possibilidade de trazer o vírus na volta a seus locais de moradia.
Além da exposição dos funcionários nas agências, os carteiros nas ruas também estão em risco. A empresa suspendeu a necessidade de coleta de assinatura nas entregas de pacotes, mas em muitas situações eles ainda precisam entrar em contato com outras pessoas, foram a exposição até seus locais de trabalho.
Toni Braga relata casos em que os trabalhadores foram convocados pela empresa para realizar entregas aos sábados e feriados para dar vazão à demanda. Isso porque, com o fechamento do comércio em vários estados do Brasil, os serviços de e-commerce, vendas pela internet, cresceram 81% no mês de abril, segundo levantamento da Compre & Confie.
Mas o presidente do Sintect-ES lembra que nem todos esses pedidos são essenciais. O sindicalista considera que dessa maneira, o trabalhador se expõe a maiores riscos para atender pedidos que são lucrativos para a empresa de Correios, correspondendo à visão do atual governo sobre a estatal, de colocar o lucro nos interesses estratégicos da nação, já que por sua capilaridade em todo território nacional, os Correios são e podem ampliar sua contribuição para enfrentar as dificuldades nesse momento de crise.
A classificação dos Correios como serviço essencial só confirma toda a campanha que os sindicatos da categoria vêm fazendo no Brasil na luta contra a privatização da ECT e pela valorização do serviço em seu caráter público.
“A gente já vem sofrendo com sucateamento para direcionar para a privatização”, denuncia. “Há falta de efetivo, de equipamento e de respeito da empresa com os trabalhadores, isso acaba evidenciado ainda mais diante de todas essa situação. Revela o que já viemos defendendo, a questão estratégica da empresa. Uma hora vai ser descoberta uma cura para a doença, uma vacina, e quem tem porte para distribuí-la em todo território nacional?”, pergunta Toni, ressaltando o papel que os Correios já vêm cumprindo na logística de transporte de insumos, testes e outros materiais importantes neste momento.