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De malas prontas para o Tesouro, servidores confessam que não sentirão saudades da ‘Rainha da Tesoura’

A ida da secretária de Estado da Fazenda, Ana Paula Vescovi para assumir o cargo de secretária do Tesouro Nacional tem sido amparado midiaticamente pelo ajuste fiscal implementado pela política econômica do atual governo Paulo Hartung (PMDB). A saída da secretária ainda não está oficialmente confirmada, mas ela deve substituir o atual secretário, Otávio Ladeira, nas próximas horas.

De acordo com reportagem do Valor Econômico, publicada na edição desta terça-feira (31), o que credenciou Ana Paula, além de ser mulher, para assumir o cargo foi o ajuste fiscal implementado no Estado durante a gestão dela. A publicação aponta que o Estado saiu de um déficit de R$ 1,4 bilhão em 2014 para um superávit de R$ 160 milhões em 2015.

O atual governo, no entanto, faz uma interpretação pessoal da transição do déficit para o superávit. Nos últimos dois anos do governo Renato Casagrande (PSB) os investimentos foram acelerados, com o funcionamento da máquina pública a pleno vapor. Quando Hartung assumiu o governo, em 2015 – depois de ter alardeado durante toda a campanha que o Estado estava à míngua – contingenciou os gastos, implantou corte linear de despesas nos órgãos e secretarias estaduais e parou obras iniciadas no governo anterior.

O resultado das medidas foi, de fato, o superávit, mas a falta de critério para os cortes desagradou trabalhadores, prefeitos e afetou a prestação de serviços à população, que também se mostra insatisfeita com o governo, que não entregou as promessas que fez à população durante a campanha eleitoral.

Os cortes lineares promovidos durante a gestão de Ana Paula à frente da Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz) se refletem, por exemplo, no fechamento de leitos hospitalares, no sucateamento de escolas, no racionamento de combustível para viaturas policiais e na redução do investimento na agricultura.

Segundo o diretor jurídico do Sindicato dos Servidores Públicos do Estado (Sindipúblicos), Amarildo Santos, desde o primeiro mandato do governador Paulo Hartung ele se apresenta como um excelente gestor, mas o custo desta imagem é o sucateamento dos serviços públicos. “O Estado tem uma condição financeira melhor do que outros estados e isso é à custa do servidor”, queixa-se Amarildo.

O sindicalista ressalta que esse superávit foi alcançado em cima dos trabalhadores que, pelo segundo ano consecutivo, estão sem a revisão anual dos vencimentos e sem o auxílio alimentação. Ele afirma que Ana Paula não vai deixar saudades, caso assuma o cargo de secretária do Tesouro Nacional. “Quem perde é a população brasileira. A secretária atende claramente aos interesses do setor privado”, diz ele.

Ana Paula é frequentemente questionada por servidores por defender desenfreadamente renúncias fiscais às empresas financiadoras de campanha, sem exigir nenhuma contrapartida à sociedade. Segundo Amarildo, somente neste exercício financeiro o governador promoveu a concessão de incentivos fiscais sem lei específica ou indicação dos benefícios práticos à sociedade de cerca de R$ 1 bilhão.

O diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde do Estado (Sindsaúde– ES), Valdecir Gomes, aponta que é fácil ser credenciada como gestora eficiente – como é o caso de Ana Paula – quando apenas se promove cortes sem assumir suas consequências. Na área de Saúde, os servidores convivem com o sucateamento dos serviços, falta de equipamentos e de pessoal. “Queremos ver se organizar sem cortes, isso sim seria eficiência”, enfatiza Valdecir.

Ele ressalta que, no caso da dispensa de servidores em designação temporária, ainda que se cortassem os excedentes, as medidas se justificariam. No entanto, em razão de uma virtual economia, não foram renovados contratos com temporários, sem que essas vagas fossem repostas.

Até mesmo motoristas de ambulâncias foram demitidos sem que fossem contratados novos. a falta de motoristas faz com que os pacientes que devam ser transferidos via Central de Vagas permaneçam nos corredores dos hospitais à espera de remoção e acabam por perder a oportunidade de transferência, já que o tempo limite para a ocupação da vaga cedida é de 24 horas.

Exames com dia e hora marcados estão deixando de ser realizados por falta de transporte de pacientes internados. No caso do Hospital Antônio Bezerra de Faria, em Vila Velha, por exemplo, há quatro ambulâncias para atender à unidade, mas apenas um motorista por plantão.

Os próprios motoristas estão transportando até seis passageiros por viagem para tentar na tentativa de diminuir a superlotação ou para que o paciente não perca a consulta e a vaga. No entanto, esse transporte é arriscado, já que alguns dos pacientes têm doenças contagiosas e outros têm imunidade baixa.

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