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‘Governo federal trabalha para destruir imagem dos Correios’

No Dia do Carteiro, presidente do Sintect-ES aponta que há pouco a comemorar diante da ameaça de privatização

Em 25 de janeiro comemora-se no Brasil o Dia do Carteiro, em alusão à data em que iniciaram-se os serviços postais no país, em 1663. Porém, os trabalhadores do setor enfrentam tempos difíceis ao encontrar uma política deliberada de precarização do trabalho e preparação de terreno para a privatização da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. O cenário é descrito por Toni Braga, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Empresa de Correios, Prestação de Serviços Postais, Telégrafos, Encomendas e Similares do Estado do Espírito Santo (Sintec-ES).

Toni Braga, presidente do Sintect. Foto: Divulgação/Sintect

“É um fato que já vem acontecendo aos poucos há alguns anos, mas agora com esse governo se acentuou muito mais”, afirma, em referência ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido) e sua política econômica capitaneada pelo ministro da Economia Paulo Guedes, que fala explicitamente na intenção de privatizar o órgão público. “Hoje se vê os reflexos na execução das atividades do carteiro. A cúpula da empresa vem criando vários mecanismos em que o próprio trabalhador não consegue exercer as atividades, a empresa vem boicotando o próprio monopólio, de modo que o carteiro não consegue sair com todas entregas que precisa e sai apenas com os serviços mais lucrativos como Sedex”, relata o líder sindical.

Ele cita também que os trabalhadores vêm tendo que atender mais distritos/bairros que anteriormente e alternando os dias de entrega entre eles. “Estão trabalhando para destruir aquela imagem que os correios e os carteiros já tiveram na sociedade”.

Toni Braga acrescenta que no último acordo coletivo da categoria foram retiradas cerca de 50 cláusulas que garantiam direitos aos trabalhadores. Além disso, a empresa promoveu um plano de demissão incentivada, para induzir os trabalhadores a pedirem as contas e aumentar o desmonte da empresa. Ele conta que a profissão de carteiro, que era cobiçada pelas boas condições de trabalho e da empresa, hoje encontra muitas pessoas desmotivadas ou estressadas devido às atuais políticas. “Nós como sindicato buscamos mostrar que isso é reflexo de um governo, de uma política que está sendo implementada contra nossos direitos, mas que isso pode ser revertido”, considera o presidente do Sintect-ES.

O dirigente pontua que a empresa tem mudado os cálculos sobre o número de trabalhadores para as entregas, sobrecarregando com mais trabalho alguns e deixando outros ociosos. “Isso não vem sendo tão sentido ainda por conta dos trabalhadores afastados por serem no grupo de risco, depois de ação judicial do sindicato. Quando a pandemia acabar e tiverem que regressar, vão sentir o impacto. Vão usar como argumento para privatizar, dizendo que tem empregado demais. Mas a gente sabe que é pura falácia para inviabilizar a atividade fim dos Correios”.

A situação dos trabalhadores diante da pandemia de Covid-19 é emblemática. Toni conta que no Espírito Santo, a empresa distribuiu apenas três máscaras por funcionário no início da pandemia e após o sindicato acionar a justiça. Ele denuncia que em algumas agências há profissionais de limpeza apenas em dois ou três dias da semana, aumentando o risco de contaminação entre profissionais e clientes da ECT. Outra reclamação é sobre a postura da empresa em casos de suspeita ou confirmação de infecção entre trabalhadores, considerada inadequada, com falta de testes a todos e demora no afastamento do trabalho. No Espírito Santo, a violência crescente contra carteiros durante seus trabalhos, com constantes assaltos, tem sido também uma preocupação para a categoria.

No plano nacional, a meta da Secretaria de Desestatização, Desinvestimento e Mercados do Ministério da Economia é enviar o projeto de privatização dos Correios para o Congresso Nacional assim que o novo presidente da Câmara assumir no início de fevereiro, com meta de concluir o processo de privatização ainda este ano ou no máximo nos primeiros meses de 2022.

“Hoje o papel fundamental dos Correios é seu viés social. Eles querem colocar os Correios numa ótica empresarial, capitalista. O correio faz integração em todo país, tem o chamado subsídio cruzado, em que as regiões de maior lucro ajudam a atender o restante do país, a sustentar locais em que pela ótica meramente financeira não valeria a pena ter uma unidade. Mas o cidadão tem o direito de enviar e receber correspondências e de ter um endereço, que é responsabilidade dos correios também. São questões de cidadania”.

Para Toni, o governo federal tenta vender a imagem de que os funcionários públicos possuem regalias, mesmo no caso dos trabalhadores dos Correios que muitas vezes ganham pouco mais de R$ 1 mil por mês. “Eles sabem que só vão conseguir privatizar se a população não conseguir mais entender o papel da empresa nem reconhecer a boa imagem que o carteiro tem”.

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