Wesley Scooby, do Sindfer, questiona política da Vale de precarização, que leva trabalhadores à exaustão
Um dia depois de uma manifestação dos trabalhadores em frente à sede da Vale, em Vitória, Wesley Scooby, vice-presidente do Sindicato dos Ferroviários do Espírito Santo e Minas Gerais (Sindfer), se manifestou em um duro pronunciamento na Assembleia Legislativa durante audiência sobre a repactuação para um novo acordo referente ao crime socioambiental no Rio Doce. Apontando a terceirização dos trabalhos pela mineradora, ele mostra preocupação de que a precarização possa causar novos acidentes envolvendo a Vale.
Ele também aponta a redução de pessoal nas áreas administrativas, implicando maiores funções para quem está no “trecho”, ou seja, realizando os trabalhos de campo. “Além de estarem três pessoas fazendo trabalho que antes era de cinco profissionais, por exemplo, esses trabalhadores ainda precisam levar serviço para o hotel para fazer coisas burocráticas. Poderiam estar descansando, mas acabam indo exaustos para o trabalho, com acúmulo de funções. Isso aumenta o risco de acidente”, alerta o vice-presidente do Sindfer.
Wesley aponta como pequeno o risco de colisão, porém observa que erros humanos podem causar descarrilhamento ou outros acidentes, capazes de atingir grandes proporções, já que os trens passam dentro de cidades e por regiões de preservação natural, transportando, diariamente, milhares de pessoas e também minérios e outras cargas que poderiam ter impacto ambiental.
“O desgaste gerado pelo acúmulo de funções e tarefas pode fazer com que ocorram acidentes de grandes proporções de uma hora para outra. Por conta disso, é um setor que não deveria ocorrer terceirização nem redução do quadro. A ferrovia transporta pessoas, e eles estão assumindo o risco”, protesta o dirigente.
No setor ferroviário, o sindicato já contabilizou 70 demissões somente nesses primeiros meses de 2022. Wesley Scooby aponta uma contradição na proposta da Vale de aumentar o quadro de mulheres na empresa. “O Sindfer apoia essa ideia. Mas desde que se criem novos postos de trabalho e não demitindo homens e contratando mulheres com salários menores”, acusa.
Para ele, a empresa vem descontando os custos que precisa responder por conta dos crimes socioambientais de Mariana e Brumadinho no trabalhador. “Para pagar esses custos, precisa tirar de algum lugar. E não está sendo dos lucros e dividendos dos acionistas nem dos altos salários de seus cargos de alto escalão. Estão terceirizando e expondo os trabalhadores a regimes exaustivos”.
O sindicalista aponta que em outros tempos, com a empresa com lucro de R$ 126 bilhões, os funcionários estariam comemorando e a empresa reconhecendo esse trabalho. “Mas pelo contrário, os ferroviários estão chorando. Essa é a recompensa por ajudar a reeguer a empresa depois de acontecimentos tão negativos. É uma empresa bilionária, mas age como miserável com os trabalhadores e como se estivesse amargando um terrível prejuízo”.