Um aglomerado de trabalhadores se formou na entrada do edifício da Petrobras na Praia do Canto, em Vitória, nessa quinta-feira (22). A razão era a votação da categoria dos petroleiros sobre o Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) proposto pela empresa, que recebeu oposição do Sindicato dos Petroleiros do Espírito Santo (Sindipetro-ES). O resultado divulgado nesta sexta-feira (23) foi a rejeição da proposta da Petrobras por mais de dois terços dos 899 votantes. Foram 597 votos contra o acordo (66,4%).
Outro ponto importante da votação foi a aprovação da greve por mais da metade dos trabalhadores. A greve deve ser nacional caso haja ataques ao patrimônio jurídico coletivo da categoria durante o processo de negociação, em data que seria definida pela Frente Única dos Petroleiros (FUP) e seus sindicatos.
O curioso é que a votação no Espírito Santo aconteceu no dia seguinte em que no mesmo prédio esteve o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, defensor e entusiasta da privatização da empresa, e também no dia posterior em que fontes do jornal Valor Econômico informaram sobre a intenção do governo Jair Bolsonaro de privatizar a empresa até 2022.
Diante dessa situação, o clima interno na empresa não é nada bom, informa o Sindipetro-ES. O assédio aos trabalhadores é intenso e foi ampliado diante da votação da categoria. “A empresa estava pressionando e ameaçou todos os gerentes e cargos de confiança para não aprovarem o acordo”, diz Priscila Costa Patrício, diretora de Comunicação e Imprensa do Sindipetro-ES e diretora de Segurança, Meio Ambiente e Saúde da FUP.
Mesmo assim, a empresa saiu derrotada no pleito. O sindicato também vem sofrendo coação da empresa e do poder judiciário por conta de sua atuação. “A empresa aposta na estratégia do medo e do individualismo, para que cada um pense só em si. Mas estamos atuando para unir os trabalhadores e está funcionando”, afirma, considerando que algumas das atitudes que tem acontecido não ocorriam nem nos tempos da ditadura.
Sobre o Acordo Coletivo, Priscila considera que aponta para a retirada de direitos consolidados dos trabalhadores da empresa e no enxugamento de custos com vistas à privatização. No próprio edifício da empresa, um dos andares está sendo desocupado pelos trabalhadores da BR Distribuidora, recém-privatizada pelo atual governo por um valor que equivale a menos de três vezes o lucro anual da distribuidora.
A dirigente critica que o ACT apresenta proposta de reajuste salarial abaixo da inflação, propõe aumento do valor pago pelos trabalhadores pelo plano de saúde participativo, amplia possibilidades de terceirização de vários serviços, incluindo o de fiscalização de contratos, mudança no pagamento de horas extras, que afeta principalmente a área operacional. Foram retiradas da proposta do acordo as cláusulas que versavam sobre concurso público, no sentido de garantir que os novos trabalhadores não pudessem ser contratos com menos direitos que estão vigentes para os atuais empregados da empresa.
O rumo da empresa aponta para maior precarização e terceirização, deixando a gestão das plataformas nas mãos de empresas afretadas, que não possuem profissionais concursados e podem fazer subcontratações, terceirizações e quarteirizações. “O risco é que tenhamos pessoas trabalhando a 200 km da costa sobre uma bomba flutuante recebendo um salário mínimo. Esse é o mundo defendido por Bolsonaro e por quem ele colocou à frente da Petrobras”, reclama Priscila.
Ela lembra que já aconteceram acidentes graves por conta de imperícia e falta de capacidade técnica de operadores subcontratados. No caso do Espírito Santo, a sindicalista alerta para locais como São Mateus, que é lugar de grande exploração terrestre de petróleo e já possui dificuldades em relação à qualidade da água ou de Aracruz, onde o governo pretende privatizar a Transpetro, que armazena esferas de gás liquefeito de petróleo (GLT). “Deixar isso nas mãos de empresas que só visam ao lucro pode aumentar a possibilidade de tragédias como vimos acontecer com a Vale e Samarco”.