A nova gestão do Sindicato dos Ferroviários (Sindfer) está em plena campanha de filiação, com uma meta ousada: filiar até 80% dos cerca de 8 mil empregados da Vale que se encontram na ativa. “Ousada, mas não impossível, pelo contrário”, analisa o presidente do Sindfer Wagner Xavier.
De fato, em menos de um mês, mais de 700 trabalhadores se associaram ao Sindicato, sendo 300 somente nos dois primeiros dias da campanha “Eu acredito no Sindfer renovado”, lançado na última terça-feira (11). “Os trabalhadores nunca confiaram tanto em uma diretoria sindical como agora. E o ritmo crescente de filiação é prova desse inédito voto de confiança”, disse.
A campanha irá sortear brindes diversos para os novos associados bem como para os responsáveis pelas sindicalizações. “Todo mundo participa”, explica Wagner, “sócios novos e antigos”, disse. Os prêmios incluem viagens, Iphones, bicicletas, TVs de led, entre outros.
A campanha é permanente e fará, periodicamente, ações in loco, com stands montados em locais estratégicos, como os que foram instalados em frente aos restaurantes da Vale localizados no Porto, na Oficina de Vagões e no restaurante Central. Além do Complexo de Tubarão, a campanha irá também a outros pontos ao longo do trajeto da Estrada de Ferro Vitória – Minas (EFVM).
“Quem defende os trabalhadores, é de luta, apresenta serviços aos associados e tem o respeito e a credibilidade da categoria não precisa de taxas ou impostos compulsórios para se manter. Nosso objetivo é tornar o Sindfer autossustentável nos próximos anos. E a adesão em massa dos trabalhadores à campanha de sindicalização prova que esse objetivo é plenamente possível”, finalizou Wagner.
Na entrevista a seguir, o presidente do Sindfer fala sobre como a entidade, nessa nova gestão, está agregando a segurança ambiental e a transparência das isenções fiscais às tradicionais pautas trabalhistas:
Século Diário: Quais as pautas prioritárias da atual direção do Sindfer?
Wagner Xavier: Manutenção dos postos de trabalho, manutenção e avanço dos benefícios existentes, luta contra a adoção da carteira Verde Amarela aos menores aprendizes, blindar os empregados da Vale do desmonte dos direitos e garantias trabalhistas em curso desde a reforma de Temer, em novembro de 2017.
SD: A questão ambiental, que envolve o rompimento de barragens e a poluição por pó preto, é um ponto a ser trabalhado pela atual gestão?
WX: O trabalhador da Vale não é alguém isolado da sociedade em que vive. Se morador de Vitória, sofre como todo o conjunto da população com as partículas em suspensão provenientes do minério de ferro transportado pela Vale. A luta do Sindfer por mais e melhores salários e condições de trabalho não pode estar dissociada da luta geral da sociedade por mais qualidade de vida, sobretudo a qualidade do ar que respiramos e da água que bebemos ou nos banhamos, no mar. Por muitos anos, gestões passadas fizeram vista grossa aos graves problemas ambientais e de saúde provocados pelo pó preto. A direção atual, eleita em outubro, está em consonância com a sociedade na exigência do aprofundamento de medidas que combatam a emissão dessas partículas, por parte da Vale.
Quanto às barragens, cabe ao Sindicato reforçar a luta por mais e melhores medidas de saúde, proteção e segurança no trabalho. Sobretudo valorizando o trabalho realizado por nossos cipeiros. Os acidentes criminosos de Mariana e Brumadinho fizeram mais do que agredir o meio ambiente: mataram, às centenas. Trabalhadores e moradores morreram pela falta de cuidados da Vale com normas básicas de segurança no trabalho. Um sindicalismo que se pretende sério e ético não pode fazer vista grossa a esses dramas humanos e ambientais.
SD: Como os crimes com barragens da Vale estão repercutindo no sindicato e junto aos trabalhadores?
WX: Enquanto a tragédia não bateu na porta de cada trabalhador, enquanto a dor humana não feriu fundo o coração dos trabalhadores, o discurso ambiental era algo distante e abstrato. Mesmo Mariana, que não chegou a vitimar trabalhadores, até então falava-se da questão ambiental como uma realidade paralela a do trabalhador. Até que a barragem da Mina do Feijão se rompeu, levando com ela, quase três centenas de vidas, em sua maioria trabalhadores diretos ou indiretos da Vale. Aí a discussão do meio ambiente escancarou a porta de cada um de nós. Passamos a ser vítimas dos seguidos descasos e omissão à questão ambiental. O desprezo ao meio ambiente mata. Mata a fauna, a flora e gente. A ficha caiu e acordamos para essa realidade. Depois do fatídico 25 de janeiro do ano passado, o trabalhador da Vale nunca mais foi o mesmo.
SD: A caixa-preta de incentivos fiscais de que goza a Vale no governo do Estado também diz respeito ao trabalho da diretoria do Sindfer?
WX: Defendemos que se abram todas as caixas-pretas. E que os incentivos fiscais tenham que condicionar como contrapartida investimentos da Vale, no mínimo proporcionais ao que deixou de pagar aos cofres públicos, em ações que promovam a melhoria da qualidade do ar que respiramos, por exemplo. A empresa tem uma dívida para com o contribuinte capixaba e essa dívida tem que ser revertida na forma de mais e melhor qualidade de vida para o povo do Espírito Santo.