Fissuras abertas na área ambiental, com Rigoni, consolidam “tragédia anunciada”
A audiência pública promovida pela Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa nessa quarta-feira (30), para finalmente conhecer o projeto de privatização dos parques estaduais, anunciado com pompa e circunstância pelo governo do Estado, mas com atropelos às comunidades envolvidas, mostrou que as fissuras abertas no processo são profundas – com toda razão! – e estão bem longe de serem cicatrizadas. Presente ao encontro, que ecoou toneladas de insatisfações, o secretário de Estado de Meio Ambiente, Felipe Rigoni, usou depois as redes sociais para proferir acusações aos presentes de “desrespeito”, “ofensas à sua honra e à de sua família, e ao fato de ser cego”. Sugeriu, ainda, interesses ideológicos e políticos de quem se insurge contra o projeto, neste ponto, mais uma jogada harmoniosa e ensaiada com a Federação das Indústrias do Estado (Findes), que fez questão de comparecer para, mais uma vez, avalizar ações da gestão estadual que atendam aos seus próprios interesses, como tem sido há décadas no Espírito Santo, independentemente de quem esteja no comando do Palácio Anchieta. Se a corda já estava arrebentada e os ânimos para lá de exaltados, a publicação de Rigoni, com muitas reações nos comentários, sacramenta o abismo entre a pasta e a sociedade civil organizada. Sabe a máxima da “tragédia anunciada”? Desde que Rigoni foi anunciado para o cargo, com a marca de padrinho do sal-gema e defensor do mercado financeiro, com o agravante de não ter qualquer histórico na área, a previsão era essa. O governador Renato Casagrande (PSB) não deu ouvidos na época, e segue sem dar ouvidos agora! A considerar a sucessão de “tratoradas” e medidas antiambientais, a “bomba” até demorou para explodir! E, ao que tudo indica, é só o começo! O movimento “fora, Rigoni” está aí para provar.
Quem desrespeita quem?
Sobre o “desrespeito” citado pelo secretário, é exatamente o sentimento que predomina nas comunidades excluídas do processo, que souberam de um projeto que vai mudar drasticamente suas vidas pela imprensa. Quilombolas, pescadores, movimentos sociais…grupos já exaustos de tantos atropelos e de não terem voz…
Segue…
… “ofensas à honra e à família” e capacitismo, de fato, não são toleráveis, mas colocar na conta de todos os presentes à reunião é uma tentativa de desqualificar uma luta legítima e justa. É mais um erro na conta do secretário, com consequências que agravam ainda mais a situação.
Sem ‘parabéns’
Rigoni também reclamou de vaias…mas, aí, meu caro, “ossos do ofício”! Cargos públicos, medidas impostas, falta de diálogo…já diz a frase: “Quem não aguenta o trote, não monta o burro”. Ele também exalta ter ficado lá por cinco horas…obrigação, secretário, não vai ganhar “parabéns”, não!
Goela abaixo
O projeto de concessão de parques à iniciativa privada é, sim, um absurdo, patrocinado com milhões de reais de dinheiro público. Tirolesa, piscina flutuante, bangalôs, pousadas, decks flutuantes e estacionamentos em áreas de relevância ambiental e de pescadores são algumas das intervenções, que vão descaracterizar áreas tradicionais e ameaçar o que deveria ser prioridade: a preservação. Um combo completo de retrocesso e cafonice.
Relações perigosas
O processo evidencia outras questões tão absurdas quanto. Uma delas, que a Findes já teve acesso ao projeto, enquanto as comunidades atingidas, até hoje, não! Assim como nem mesmo as deputadas envolvidas, Iriny Lopes (PT) e Camila Valadão (Psol). Aliás, importante dizer: o debate dessa quarta só aconteceu por aticulação de Iriny. Rigoni ignorou a demanda.
Relações perigosas II
Outras perguntas que não querem calar: quem são os empresários envolvidos e disponíveis para o projeto? Dá para acreditar que ninguém sabe de nada, ainda? Está tudo amarrado, é questão de tempo e todos os pontos se ligarão. Pode anotar…
Conveniências
O caminho do secretário até o cargo, vale lembrar, foi depois de uma tentativa mais do que frustrada de disputar o governo do Estado contra o próprio Casagrande. Ele teve que recuar e tentar a reeleição à Câmara dos Deputados, ficando pelo caminho. Em busca de acomodação, voltou para os braços do governador, virou cabo eleitoral no segundo turno, e abocanhou a Seama.
Reincidente
A nomeação de Rigoni foi o segundo “desastre” de Casagrande na área ambiental. Foi ele, também, quem deixou à frente do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), por anos, o “homem da Vale”, Alaimar Fiuza. Fez dobradinha por um tempo com Rigoni, mas “pediu para sair”. Ele segue no governo, na Cesan, mas…que tem coisa nessa saída, ah, tem!
Nas redes
“É incrível como um acontecimento tão emotivo, importante e marcante pode ser apresentado aqui de forma tão distorcida e tendenciosa. O que presenciamos foi um dos atos ambientais mais importantes das últimas décadas do Espirito Santo (…) é triste, lamentável e profundamente desrespeitoso com pessoas que vieram de tão longe, de tantas comunidades, resumir a audiência ao que o secretário do Meio Ambiente sentiu (…)”. Walter Có, biólogo, em resposta a Rigoni.