À medida que a pandemia e seus contornos políticos avançam, se acentuam as diferenças gritantes entre Assumção e Favatto
À medida que a pandemia do coronavírus e seus contornos políticos avançam no Espírito Santo, se acentuam as diferenças gritantes entre os dois correligionários do Patriotas na Assembleia Legislativa, deputados Capitão Assumção, recém-chegado ao partido, e Rafael Favatto, que tanto fez questão de filiá-lo, mesmo sabendo do pacote que abraçaria junto. Lá atrás, pouco depois de um mês da crise, quando Assumção já disparava ferozmente contra o governador Renato Casagrande, chamando-o ladrão pra baixo, mostrei aqui na coluna as contradições. Volto ao tema porque os capítulos se repetem, e embora Favatto trate tudo como normal e defenda a “independência” do militar, fica cada vez mais difícil imaginar os dois levantando a mesma bandeira no palanque da disputa à prefeitura de Vitória este ano. Assumção constrói seu nome em cima da oposição ferrenha, na maioria das vezes desmedida, a Casagrande e ao secretário de Estado de Saúde, Nésio Fernandes. Enquanto ele faz disso seu nicho de votos, sempre se referindo ao presidente Jair Bolsonaro, e repete xingamentos e acusações de corrupção nas sessões virtuais, além de integrar o grupo de parlamentares que declarou guerra ao governo, Favatto, em tom e mandato completamente avessos, protagoniza sucessivos elogios aos dois. Nesta terça-feira (23), o abismo entre os correligionários chegou ao ponto de um bate-rebate nas entrelinhas. Ao ser citado como médico que recomenda o uso da hidroxicloroquina e cloroquina, em mais um discurso raivoso do colega de bancada contra a gestão e destacando Bolsonaro, Favatto entrou na sequência para exaltar a “luta incansável de Casagrande e Nésio na abertura e procura de novos leitos hospitalares” e que os dois “não estão medindo esforços na atual crise”. O presidente do Patriotas no Estado fez referência positiva também ao governo federal, mas disse que “não poderia deixar de esclarecer, falar o que é verdade”, encerrando com um “parabéns, sim, às ações implementadas no Estado”. Até o fim da pandemia e início da campanha eleitoral, a mistura Favatto, Asssumção-Bolsonaro e Casagrande-Nésio, pelo visto, dará de tudo, menos “liga”.
‘Pseudo’
Minutos antes, entre as palavras usadas por Assumção, as de que “não temos governador no Espírito Santo nem secretário de Saúde, mas temos presidente”, “pseudo-governador socialista”, e “médico cubano”, como insiste em usar como tom pejorativo para atacar Nésio.
Segue…
O esbravejo da vez se refere à autorização dada pelo secretário, no último sábado (20), do uso da cloroquina nos municípios, mas destacando que o governo não a recomenda e as responsabilidades civis e criminais dos médicos em caso de evento adverso. Assumção vende a ideia de que o governo esperou acelerar o número de mortes para fazer o que o presidente e ele defendem desde março.
Carona
Vandinho Leite (PSDB), do mesmo grupo da guerra declarada e da ida ao Hospital Dório Silva, na Serra, e ainda das duas representações contra Nésio nos Ministérios Públicos Federal, Estadual e do Trabalho, também pegou carona na fala de Assumção: “só depois da reunião do CRM [Conselho Regional de Medicina] que o governo tomou providências”, afirmou. Ele esteve por lá na última semana, como também contei aqui na coluna, anunciando novas “inspeções”, agora com reforço.
‘Não engaveta’
Outro que se reuniu com o CRM e revolveu novamente se defender na sessão virtual desta terça-feira (23) das críticas sobre a atuação da Comissão de Saúde na Assembleia em relação às denúncias relacionadas aos hospitais do Estado, foi Dr. Hércules (MDB). A Comissão não engaveta nada e não coloca nada debaixo do tapete, avisou, exibindo a capa de um relatório de ações com data de 2011 a 2020.
Quem pode, pode…
A propósito, depois da Assembleia encerrar por dos dias seguidos a sessão mais cedo, Dr. Hércules registrou sua insatisfação e lembrou que o horário é às 18h (nesta terça acabou às 16h30). Está certíssimo.
Positivos
Já somam quatro os deputados estaduais que pegaram Covid-19. Primeiro o presidente Erick Musso e Lorenzo Pazolini, ambos do Republicanos, e desta vez Raquel Lessa (Pros) e Renzo Vasconcelos (PP), que estão internados. A coluna deseja uma rápida recuperação!
‘Gelo’
O presidente do Tribunal de Justiça (TJES), Ronaldo Gonçalves, ignora completamente o ofício encaminhado pelos deputados para uma reunião em busca de soluções conjuntas para o fechamento de 27 comarcas no interior do Estado. “Quero crer que está tendo dificuldades para marcar”, cutucou Theodorico Ferraço (DEM), informando do tempo de espera: “quase 20 dias”.
Sem rua
Como esperado, o Plenário do Senado aprovou, na noite desta terça, Proposta de Emenda à Constituição (PEC nº 18/2020) que adia as eleições de outubro para novembro – dias 15 e 29. Proposta vai agora à Câmara dos Deputados e deve ser referendada logo. Candidatos do Estado que ainda não acordaram para as redes sociais, é bom correr atrás do prejuízo.
Sem rua II
As conversas têm sido feitas com participação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e contrariam interesse da Associação dos Municípios do Estado (Amunes), que pretendia unir os dois pleitos em 2022. Proposta jamais cogitada pelo TSE e Congresso Nacional. Até porque, significaria ampliar os atuais mandatos de prefeito e vereador, o que não tem o menor cabimento.
PENSAMENTO:
“Fazer o pior parece a melhor decisão”. Aristóteles
Guerra declarada
https://www.seculodiario.com.br/socioeconomicas/guerra-declarada-1