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O fantástico ES de Hartung

Como sempre acontece em períodos de movimentações eleitorais, PH espalha sua narrativa, ovacionado pelo ninho dos economistas liberais

Leonardo Sá

Como acontece em períodos de intensas movimentações políticas e eleitorais, o ex-governador Paulo Hartung (sem partido) não sai da imprensa nacional. Seja em incontáveis artigos de opinião e entrevistas, seja em repercussões de também incontáveis debates online que têm participado. Sempre exaltado como o suprassumo da gestão pública, sempre pintando um Espírito Santo sob seu comando que beira à fantasia, principalmente quando se refere às relações com a sociedade civil organizada, o funcionalismo público e as classes capixabas menos favorecidas. Parei para ouvir, nessa quinta-feira (4), o podcast “Transformação Política Estadual: o caso do Espírito Santo”, realizado pelo Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças, ninho dos economistas liberais do Brasil. Foram 57 minutos dedicados a colocar Hartung num pedestal e o próprio falando muito confortavelmente de crises tenebrosas do seu governo, como a greve da Segurança Pública, como “cases de sucesso”. O relacionamento com os servidores estaduais, outro ponto que liquidou com o último ano de seu terceiro mandato, também foi destacado por Hartung, só que pelo viés positivo, a ponto de listar ensinamentos, aos quais chamou de vacinas, repetindo várias vezes: muito diálogo, comunicação e transparência. Hartung, que no decorrer do podcast se coloca como um “PHD em liderar ajustes fiscais e também do setor público capixaba e do Brasil”, obviamente, espalhou o conteúdo nas redes sociais e foi ovacionado por figuras como Luciano Huck, do qual foi mentor para uma candidatura à Presidência da República. Com essa narrativa, entra período pré-eleitoral, sai período pré-eleitoral, e o ex-governador é cotado para algum palanque de destaque. Como nunca dormiu no ponto, aproveita a deixa, valoriza mais seu passe, e deixa mistérios no ar sobre suas reais pretensões, que, muitas vezes, não acabam em candidatura alguma. O enredo agora é exatamente igual, só que com a mira no Senado. O ano que vem marcará, de fato, o reencontro de PH com o eleitorado do Estado e sua volta ao mercado, ou é só “mais do mesmo”?

De volta a 2014
Como a meta era exaltar Hartung sem medida, o podcast não fala diretamente de seu principal adversário, Renato Casagrande (PSB), e da gestão atual. No entanto, o ex-governador não deixou de voltar com aquele papo de que deixou muito dinheiro em caixa e encontrou, em 2015, uma “terra arrasada”. O mesmo tom de sua campanha eleitoral, quando liquidou Casagrande vendendo-o como péssimo gestor e apareceu como o salvador da pátria dos capixabas.

‘Mais difícil’
No discurso em que se coloca como o rei do ajuste fiscal, Hartung citou três momentos em que precisou fazê-lo. Ainda na prefeitura de Vitória, depois no seu primeiro mandato no governo, e, por último, em 2015, tratando-o como “o mais difícil” deles. Jogando carga em Casagrande, de novo, nas entrelinhas.

Sem eleições
Em 2018, após desistir da reeleição em decorrência de arranhões na imagem, resultado de sucessivas crises de seu mandato, Hartung chegou a dizer que não disputaria mais cargos eletivos. Arrumou um discurso nobre para comunicar a decisão, mas não colou. Numa nova disputa com Casagrande, não poderia correr o risco de sair derrotado. Mais prudente foi sair antes, migrando depois para a iniciativa privada, área privilegiada de suas gestões e onde também é cortejado.

Aliado antigo
Agora, como já citado aqui, seu nome está no cenário da concorrida disputa ao Senado, em tese, pelo PSD, de Gilberto Kassab e Neucimar Fraga. Se as atuais sinalizações forem adiante, ele formaria uma chapa com um dos seus incensados ao governo, o mais cotados nessa estratégia, o prefeito de Linhares, Guerino Zanon (de saída do MDB).

Pesos pesados
Neste caso, a senadora Rose de Freitas (MDB), que já não está em situação favorável para a reeleição, ficará mais ainda em apuros. Ela tenta se viabilizar junto com Casagrande. Já no campo do bolsonarismo, seria uma briga boa PH versus Magno Malta (PL). Outras candidaturas seguem em construção nessa área, mas as definições, certamente, passarão por essa entrada ou não do ex-governador.

Manobra
Por falar em bolsonarismo, a bancada capixaba da Câmara dos Deputados segue batendo continência aos interesses do presidente. Dos 10 deputados, seis votaram a favor da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) dos Precatórios, manobra do governo federal para furar o teto de gastos e abrir espaço para novas despesas, sob justificativa de atender aos mais podres, com a implantação do Auxílio Brasil, programa criado pelo presidente que resultou no fim do Bolsa Família. Adivinhe os nomes?

Manobra II
…os mesmos de sempre: Amaro Neto (Republicanos), Da Vitória (Cidadania), Soraya Manato (PSL), Evair de Melo (PP), Lauriete (PSC) e Neucimar Fraga (PSD). Faltou nesse bloco a deputada Norma Ayub (DEM) que…correu? Apesar da importância da proposta, ela se ausentou da votação.

Próximo capítulo
Já os deputados do Estado que votaram não foram Helder Salomão (PT), Felipe Rigoni (ex-PSB) e Ted Conti (PSB). O projeto, que repercute em todo o País, dando conta de negociatas, muito dinheiro em emendas e traições, ainda precisa passar por uma nova fase na Câmara, com votação de destaques e em 2º turno, para então ir ao Senado.

Calote
O senador Fabiano Contarato (Rede) já se adiantou nas redes sociais e votará contra a PEC. “É um calote bilionário, sob o falso pretexto de garantir assistência aos mais pobres, empurrando a dívida para as futuras gerações, quando, na verdade, encherá os bolsos de parlamentares fiéis a Bolsonaro em ano eleitoral!”.

Nas redes
“Para quem gosta de ouvir, aprender e refletir sobre a história política e econômica do Brasil, recomendo o podcast da Casa das Garças, no mais recente episódio, uma boa conversa com Paulo Hartung”. Luciano Huck

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