No dia do anúncio de mais restrições, vereador bolsonarista chama Assembleia de omissa e comunica protesto no sábado
Citando o nome de cada um dos 30 deputados estaduais, seguido de partido, base eleitoral e comentários específicos, o vereador de Vitória, Gilvan da Federal (Patri), realizou uma live nas redes sociais nesta quinta-feira (25), para comunicar “as medidas de reação” ao anúncio do governador Renato Casagrande, que decretou novas restrições até o próximo dia 4 de abril no Estado, devido à situação alarmante da pandemia. Também informou de um pedido de impeachment, que irá protocolar como cidadão, alegando “crime de responsabilidade por impedir o direito ao trabalho”. Até aí, tudo seguia o mesmo enredo conhecido da “Tropa Bolsonaro”, mas não, o foco mudou. Ao invés de protestos nos locais de referência a Casagrande, como vinham fazendo os negacionistas, o alvo agora são os deputados e a Assembleia Legislativa, a quem Gilvan acusou de “omissos” e “muito calados”, por defenderem, segundo ele, os interesses do governador, não do povo. A mudança de estratégia coloca os parlamentares na mira dos próximos protestos realizados pelo grupo, o primeiro deles no sábado (27), às 15 horas, um dia antes de vigorar o novo decreto, em frente ao legislativo. Depois, eles espalharão nas redes sociais um banner com a identificação dos parlamentares, cobrando posicionamentos individuais, para apontarem, como ressalta o vereador: “fulano foi covarde”, “se vendeu para o governador”, e então “divulgar nas eleições de 2022, para derrotá-los”. Passado o período de quarentena, em que a Assembleia se mantém fechada, será a vez de visitar cada gabinete, com o mesmo objetivo. “Não fiquem em casa”, convocou Gilvan, ignorando a gravidade da pandemia e o esgotamento do sistema de saúde devido ao aumento do número de casos e óbitos – mais de 7 mil no Espírito Santo e de 300 mil no País. O vereador e os movimentos de direita, que se reuniram pouco tempo antes da live, defendem que só assim, com pressão aos deputados, o impeachment de Casagrande sai. Esse acirramento com o legislativo estadual pode, na verdade, render polêmica, embate, ânimos exaltados, tudo…menos impeachment! Até porque, não cabe.
Patriota
Filiado ao partido Patriota, Gilvan, ao se referir na lista de deputados ao presidente estadual da legenda, Rafael Favatto, ressaltou: “não tenho medo de me expulsar, não!”. Ele também disparou contra Marcos Madureira, ainda filiado ao partido apesar de ensaios de saída, dizendo que a Assembleia regrediu tanto que tem até “deputado da Era Gratz”.
Mesmo lado
Ele acenou apenas para Capitão Assumção (Patri) e Torino Marques (PSL) e chegou a citar Carlos Von (Avante) e Danilo Bahiense (sem partido) como oposição e possíveis apoios. Somente os dois primeiros, porém, têm feito discursos sistemáticos contra o governador, na meta do seu grupo político de repetir por aqui as posturas do presidente Jair Bolsonaro.
‘Vergonha’
Da bancada eleita pelo PSL, que se desintegrou na Assembleia, o vereador disparou contra Alexandre Quintino, hoje presidente da legenda. “Vai continuar ajoelhado por conta de cargo e de verba? Você, eleitor do coronel Quintino, tinha que ter vergonha. Foi eleito com a base da direita e depois virou as costas, e é aliado do governador”.
Tudo igual
A propósito, as medidas anunciadas pelo governador tiveram reações imediatas dos mesmos personagens políticos de sempre: além de Assumção e Torino, da deputada federal Soraya Manato (PSL) e seu marido, Carlos Manato (sem partido). Todos com protestos e acusações nas redes sociais, inflamando grupos à desobediência civil.
Apoio
Com os seguidores do bolsonarismo atuantes principalmente nesse meio, a internet, desde a campanha que elegeu o presidente, desta vez, para o anúncio de Casagrande, também foi convocada uma “força-tarefa” para fazer frente e apoiá-lo. O chamado, que circulou durante esta quinta, era o seguinte…
Apoio II
…”Pessoal, nosso governador vai anunciar novas medidas de proteção contra a Covid-19, daqui a pouco, e os negacionistas já estão organizados, enviando fake news e se preparando para atacar durante a live. Nós que sabemos que a economia a gente recupera, e as vidas, não, também precisamos nos organizar”. Ao passar o olhos na redes, de fato, estão por lá.
Amarrado
Com a Câmara de Vitória praticamente toda alinhada ao prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), principalmente o presidente Davi Esmael (PSD), que inclusive é seu amigo pessoal, a concessão do auxílio emergencial para a população de baixa renda – 2.328 famílias – foi amarrada para representar bônus para os dois poderes.
Amarrado II
Primeiro, a prefeitura anunciou que o valor seria de R$ 400,00, pagos em duas parcelas. Daí o projeto foi para a Câmara, que aprovou aumentando para R$ 500,00. No final, tanto a gestão municipal como a Câmara fizeram discurso de que a medida foi possível pela devolução de recursos do legislativo, uma antiga prática registrada no Estado para vender o peixe da economia. Iniciativa de apelo popular, todo mundo quer sair bem na foto.
Desnecessária
Por falar em Davi, pouco antes da quarentena, foi levantado no plenário da Câmara a proposta de adotar restrições contra a Covid-19 no próprio legislativo. Ele concordou, em partes, já que foi irredutível sobre as sessões presenciais. Na quarentena, mantém a Câmara aberta, com três sessões por semana. O atual momento da pandemia mostra que a medida é desnecessária e arriscada.
Contramão
No ano passado, a Câmara funcionou no sistema online e os trabalhos seguiram normalmente. A própria Assembleia Legislativa, poder estadual, suspendeu as atividades e tem realizado as sessões 100% virtuais. Davi, desta forma, atua na contramão dos pedidos do governo e dos órgãos de Justiça.
O Ministério Público Estadual (MPES), alinhado ao governo para fazer cumprir as restrições da quarentena, arrumou outro jeito de sensibilizar a população e comerciantes no interior: carros de som. A medida foi adotada em Apiacá e Mimoso do Sul.
Nas redes
“Já não tenho mais palavras para essa tragédia. Que Deus conforte a todos os enlutados e nos proteja e fortaleça diante de tamanho descalabro”. Sergio Majeski (PSB), deputado estadual, sobre a marca de 300 mil mortes por Covid-19 registradas no País nessa quarta-feira (25)
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