Retorno do Carnaval: susto com a Canarinho fake, escola que sequer entrou na avenida principal, e o “Rei Momo Casagrande”
Depois de dois anos com o samba preso na garganta e sem gingado no pé, as escolas do carnaval político capixaba entraram na avenida dispostas a tudo e mais um pouco para levar o título de campeã da G.R.E.S Espírito Santo. Não faltaram tropeços, puxadas de tapete e tentativas de tacar fogo no barracão adversário, mas Renato Casagrande (PSB) conseguiu manter a chave em suas mãos e o título de Rei Momo. Não tão fácil, porém, como indicavam as cotações iniciais. Entre as escolas concorrentes que tentaram derrubar o governador no desfile principal, deu trabalho a Canarinho fake, verde-amarelo, puxada pelo bolsonarista Carlos Manato (PL). Para convencer os jurados na votação final, agregou as alas municipais de Audifax Barcelos (sem partido) e Guerino Zanon (PSD), e chegou a viver momentos de glória. Mas a confiança em conquistar a maioria dos votos e fazer o público vibrar foi por água abaixo, em um final melancólico. Também se arriscou vendendo muito brilho e disposição, o bloco liderado pelo ex-presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso (Republicanos), mas já posicionada na Cidade do Samba, sequer conseguiu entrar na avenida. Com a “baixa” interna, o retorno nos próximos anos ainda é uma incógnita. Até lá, tome “ziriguidum”, “faraó” e “vixe mainha”.
Samba-enredo
Com a estratégia de não tomar posição, a escolha do samba-enredo para o desfile de Casagrande gerou críticas, mas convenceu a torcida que tinha identificação com as bandeiras do seu principal adversário. O refrão que ecoou, “pode Lula, pode Bolsonaro”, grudou na cabeça dos jurados e levantou boa parte da arquibancada. Ponto para a escola e para o “Casanaro”.
Abre-alas
Para barrar a concorrência, Casagrande reuniu no carro de destaque do desfile integrantes de tudo quanto é ideologia e posição política, numa composição difícil de harmonizar, com 10 grupos. Apesar do samba ensaiado para a apresentação, a contradição foi tão evidente, que a frente ampla não passou batida pelos jurados. Perdeu pontos e agora precisa saber como levar todo esse povo para o desfile de 2026.
Ala das Baianas
Algumas já viveram muitos dias de alegria na passarela do samba, mas desta vez, só fizeram mesmo rodar. E rodaram bonito! Rose de Freitas (MDB), Norma Ayub (PP), Soraya Manato (PTB) e Lauriete (PSC), para tristeza de uns e alegria de outros, estreiam nessa ala da G.R.E.S Espírito Santo. Resta saber o que – e se – irão aprontar nos próximos carnavais!
Fantasia
Integrante fixo na ala, pois passa desfile, entra desfile, e não tira a farda da Polícia Militar, Capitão Assumção (PL) conseguiu emplacar novos integrantes este ano, os amigos de partido Magno Malta e Gilvan da Federal. O trio conseguiu destaque por manter a tradição das fantasias, inspirados pela Canarinho fake, com um toque a mais: armas e quartéis acoplados, chamando atenção da plateia. Apesar do gosto questionável, receberam muitos votos na avenida e devem desfilar ainda por uns bons anos no carnaval capixaba. Nem tudo são flores no mundo do samba.
Comissão de Frente
Frustrando a expectativa de apresentar novidade para os jurados, Renato Casagrande repetiu sua Comissão de Frente, alguns com muitos anos de escola. O discurso do “mandato novo, equipe nova” caiu por terra, assim como a promessa de debater nomes com a sociedade civil organizada que o ajudou no desempenho na avenida. Deixou muito a desejar nos quesitos compromisso e inovação, prejudicando a nota final da escola.
Velha Guarda
O deputado estadual Theodorico Ferraço (PP), sambista conhecido dessa ala, se mantém intacto no seu posto, mas nem sempre satisfeito com os demais integrantes. Desta vez, trabalha com a diretoria para expulsar o recém-chegado Marcelo Santos (Podemos), que ganhou poder no grupo. Embora seu filho, Ricardo Ferraço (PSDB), divida o comando da escola com Casagrande, Theodorico tinha outra indicação, Vandinho Leite (PSDB). Não conseguiu disfarçar nem ao passar pela bancada de jurados.
Harmonia
Erick Musso (Republicanos), sem conseguir desfilar na passarela principal este ano, arrumou outra estratégia, o Senado, mas também arranhou o samba. O então parceiro de projeto político, Felipe Rigoni (União), que encheu a ala de dinheiro, para incrementar o Carnaval, também tropeçou e ficou de fora da Câmara dos Deputados. Rigoni foi para os braços de Casagrande, e Erick agora tenta se refazer para voltar nos próximos desfiles. A harmonia acabou.
Bateria
O prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos) não se cansa de tentar acabar com o ritmo da Capital do Estado. Já acumula decisões equivocadas e contraditórias, mergulha em meio a polêmicas, um expert em puxar batidas fora do tom. Com atuação barulhenta na Assembleia e boa oratória, avançou na avenida para a gestão municipal, mas ao invés de embalar a escola, virou algoz da cultura, do samba, do Carnaval e do povo. Está fora da G.R.E.S Espírito Santo, mas já recebeu convites para embalar micaretas.
Mestre-sala e porta-bandeira
Ensaiado há anos, mais um casal do PT conduz a escola este ano como mestre-sala e porta-bandeira. Saem Helder Salomão e Iriny Lopes, para dar vez a João Coser e Jackeline Rocha. O casal anterior continua na ativa, mas a escola apostou na novidade. Quer dizer, nem tão novidade assim. Coser retornou agora ao desfile, mas já é carta conhecida do samba político. Colou em Casagrande e recuperou destaque na Assembleia Legislativa. Já Jack estreia, de fato, no Carnaval da Câmara dos Deputados, como única mulher do bloco. A dupla, inseparável no quesito articulações no Estado, está longe de acabar.
Conjunto
Assim como no último desfile, em 2020, a base de Casagrande já dá sinais de ruídos, atrapalhando o conjunto da escola. Basta ver os acontecimentos recentes da Assembleia, que já afastaram Vandinho Leite (PSDB) e, agora, de forma mais abrupta, Gandini (Cidadania). A escola de Manato vibra e aproveita o embalo, tentando conquistar a arquibancada. Se o Rei Momo cochilar mais um pouco, corre o risco de não recuperar mais os integrantes da ala.
Evolução
Com muito samba no pé, firmeza e desenvoltura na avenida, o destaque dessa ala este ano só poderia ser a ex-vereadora e agora deputada estadual com a maior votação já destinada a uma mulher, ela mesma, Camila Valadão (Psol)! Apesar das investidas da escola Canarinho, a maioria pesada, é dura na queda. Vida longa no Carnaval e na política capixaba.
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