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Tsunami político-eleitoral

Rápida virada do PP e articulação de um novo bloco político deixam perguntas no ar: Casagrande reagirá, efetivamente?

Leonardo Sá

As intensas movimentações registradas nos últimos dias na direção de consolidar um novo bloco político no Estado, com a meta de abater os planos futuros do grupo do governador Renato Casagrande (PSB), só confirmam as previsões sinalizadas no mercado tão logo o PP mudou de mãos por aqui, em costura feita por cima, pela Nacional. A única coisa não esperada, talvez, era de que tudo aconteceria tão rápido. O deputado federal Da Vitória assumiu o comando no início de abril, deixando de escanteio o secretário estadual Marcus Vicente, que estava na função há dez anos e tem sido um dos aliados mais fiéis a Casagrande. Com um detalhe nada desprezível: contou como parceiro nessa jogada o bolsonarista Evair de Melo, crítico costumaz do governador. Apesar dos claros indícios de que mudanças estariam a caminho, lideranças vinham refutando qualquer possibilidade de rompimento com o governo, o que agora se torna cada vez mais evidente, e com agravantes. Após tantos anos de aliança consolidada, o PP não só se descola para tomar rumo próprio, considerando o tamanho que ganhou em 2022, mas articula aliança aos opositores ferrenhos do governador, como os representantes do PL, e em menor intensidade, mas com ações semelhantes, o Republicanos. Esse é o trio principal, embora outras legendas orbitem ao redor da mesa de negociação. E aí, as rodas de bastidores querem saber: Casagrande reagirá, efetivamente? E os aliados do PP, não alinhados às decisões de Da Vitória, inclusive com cargos no governo? Como se vê, é só o começo desse tsunami político-eleitoral.

Quero ver…
No caso do trio, tenho lá minhas dúvidas sobre como o PL se agregará, de fato. O presidente estadual da legenda, Magno Malta, sempre coloca seus projetos acima de todos os pedestais, imagina agora, com o resultado do partido no ano passado, que demarcou território amplo no Estado. O casamento do PP e Republicanos, em princípio, parece mais simples de dar liga. PL deve seguir pelas beiradas, aproveitando o caos.

Efeitos
O resultado do bloco, caso de consolide, vai tirar Casagrande da confortável situação de frente ampla, que defendeu e formou, apesar das incontáveis contradições ideológicas. Com um leque mais restrito, vai acabar tendo que assumir posição ao lado do PT, o que não fez nas eleições de 2022 e já sinalizava não fazer em 2024, com a possível candidatura de João Coser à Prefeitura de Vitória, para enfrentar, novamente, Lorenzo Pazolini (Republicanos).

Não encarou
A Capital é justamente um dos pontos do conflito instalado. Após sucessivas reuniões entre Da Vitória e lideranças do Republicanos – Pazolini e Erick Musso -, ecoou o movimento de entrada oficial do PP na prefeitura, com a nomeação do vereador Anderson Goggi para a secretaria de Cultura. A resposta foi negativa, como anunciado por ele nesta quinta-feira (25), mas o “auê” já está feito.

Não encarou II
Candidato à reeleição em 2024, Goggi alegou que o período de oito meses para gestão na secretaria seria insuficiente “para planejar e implementar ações que realmente atendam às demandas e necessidades da Cultura”. Informou, ainda, que o PP não tem outro nome para indicar, uma vez que o convite foi feito diretamente a ele, e agradeceu ao prefeito “pela confiança depositada em meu trabalho e pelo convite honroso”.

Divisões
Goggi é vice-presidente do diretório de Vitória, comandando por Marquinhos Delmaestro, do grupo de Marcus Vicente, que forma a outra ponta do PP. Delmaestro também ocupa cargo no governo.

Cargo II
Interessante nessa história foi que Pazolini colocou na roda a pasta que coleciona problemas, inclusive judiciais. O prefeito já teve motivos para tirar do cargo Luciano Gagno devido às polêmicas e tentar evitar arranhões à imagem, mas jamais cogitou tal medida. No final das contas, Goggi evitou um vespeiro – não há o menor interesse do prefeito em mudar a atual política da área.

Ano após ano
A investida para tirar o PP do governo Casagrande e das mãos de Marcus Vicente já era foco de Evair de Melo e dos bolsonaristas, pelo menos, desde 2021, quando o assunto foi falado publicamente por ele em uma live junto com o ex-deputado Carlos Manato, derrotado ao governo em 2022. A costura, porém, só encontrou o cenário ideal agora, valendo-se do afastamento de Da Vitória e Casagrande e das articulações em âmbito nacional.

2026
No quesito espaço e capilaridade política para projetos futuros, Marcus Vicente não tem condições de disputa interna, mesmo. Ele vem de derrotas à Câmara dos Deputados. Já Da Vitória e Evair se consolidam cada vez mais, e agora rumo às eleições de 2026, quando devem alçar novos voos: Palácio Anchieta ou Senado.

Segue…
Os mesmos cargos são de interesse de Erick Musso, que perdeu a vaga do Senado no ano passado, quando ficou em terceiro lugar. Na disputa de 2026, estarão em jogo as cadeiras de Marcos do Val (Podemos) e Fabiano Contarato (PT).

Primeiro da fila
Sem poder tentar um novo mandato, corre nos bastidores, já há algum tempo, que Casagrande optaria pelo Senado, para encerrar por lá a carreira política. O principal nome da sucessão, como já citei aqui várias vezes, é o vice e supersecretário, Ricardo Ferraço (PSDB), que tem o governo como um projeto antigo – basta lembrar do conhecido episódio “abril sangrento”.

Comporte-se!
Por falar em Do Val, o senador levou um pito do presidente interino da CPI do 8 de Janeiro, Otto Alencar (PSD), na reunião que abriu os trabalhos nesta quinta-feira (25). “Vossa excelência está sendo antiético, interrompendo o seu colega. Aqui não é delegacia de polícia não, se mantenha calado, se comporte como senador, o senhor não tem se comportado como senador em outras datas aqui”. Errado, não tá!

Comporte-se II!
A fala veio após Do Val tentar tumultua e interromper o colega Eduardo Girão (Novo-CE). Otto pediu silêncio, sem sucesso, e reagiu, sendo aplaudido pelos presentes. Em outro momento, o deputado Duarte Jr (PSB-MA) disparou: “Pegue seu pen drive e saia dessa sala, porque o senhor quer tumultuar. Vossa excelência que é investigado por falso testemunho, que tem mais versão do que terno”.

Mulheres
Mais um nome conhecido dos movimentos sociais passa a integrar a Secretaria Estadual de Mulheres, liderada por Jacqueline Moraes (PSB). Trata-se da ativista cultural Stael Magesck Serra, no cargo de subgerente de Inclusão Produtiva e Empreendedorismo. Outro dia, citei aqui a nomeação de Crislayne Zeferina, do Coletivo Beco, que tem atuação no Território do Bem, em Vitória.

Nas redes
“Diariamente nos deparamos com situações racistas no Brasil, mas por que é tão difícil alguém ser indiciado por esse crime? Na hora de ser racista, ninguém tem dúvidas. Na hora de punir, há inúmeras incertezas. Até quando?”. André Moreira, vereador de Vitória pelo Psol.

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