Vergonha! Não tem outra palavra pra resumir a eleição da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa realizada nesta quarta-feira (27), que confirma o projeto de poder do presidente Erick Musso (Republicanos) iniciado com uma antecedência absurda, com a elaboração da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) aprovada na noite dessa segunda-feira (25), de forma rápida e “casada” com a Previdência Estadual do governo Renato Casagrande. Uma manobra lamentável orquestrada por Erick com a conivência de outros 23 deputados estaduais, incluindo a base do governo. Apesar dos discursos, que vez ou outra Erick gosta de repetir em plenário para passar a imagem de ter promovido quase uma revolução na Assembleia nos últimos anos, a jogada repete as mesmas práticas da tão condenada velha política, em nome de projetos pessoais e de grupos políticos. Desde que esse assunto veio à tona, no início do mês, já era claro que Erick agia em causa própria, levando com ele os aliados mais próximos. Mas o presidente, que agora tem mandato até 2023 – depois das disputas de 2020 e 2022 -, foi muito mais rápido do que o previsto. A convocação da eleição da Mesa era esperada para o próximo ano, e, mesmo assim, também questionável, considerando que o atual mandato tem validade até final de 2020. O confete jogado por alguns deputados em Erick durante a votação e o pronunciamento do presidente após confirmação de sua eleição, sem disputa (escola Paulo Hartung), nem de longe justificam tamanha manobra. Se Erick é tão bom, pra que tanta pressa? Por que não respeitar o rito normal? O que está em negociação, de fato, para os próximos pleitos? Aos demais deputados do “amém”, nunca é demais lembrar: não tem espaço para todo mundo no “bonde eleitoral de Erick”. A atual legislatura ainda está no começo e o caminho até 2022 promete ser longo, sinuoso e propenso a rasteiras. A conta pode ser alta.
Amarrado
Logo que surgiu a história da PEC de Erick, registrei aqui uma articulação com o governo para a disputa de 2022, com o presidente do legislativo candidato ao Senado e, depois, rumo ao governo. O que ganhou ainda mais força com o resultado das votações dessa semana de interesses de ambos os lados. Casagrande permitiria tanto poder a Erick, assim, caso ameaçasse seu projeto de sucessão, apenas para aprovar a Previdência? Até parece!
Escanteio
Por falar em rasteira, a articulação para compor a chapa única que deu vitória a Erick já registrou uma, ao deputado Luciano Machado (PV). Atualmente primeiro secretário da Mesa, ele sequer foi procurado sobre a eleição inesperada, ficando de fora da composição. E olha que ele ainda assinou a PEC, a pedido do presidente, e votou a favor dela. Quanta consideração…
Escanteio II
Ao se manifestar em plenário sobre a eleição desta quarta, Machado disse que foi surpreendido com uma ligação de fora da Assembleia avisando da escolha da próxima Mesa e destacou, ainda sem entender: “sempre tive uma relação cordial com Erick. Estamos atropelando a história”. Pois é…
‘Nojento’
Quem também se disse chocado e indignado foi Sergio Majeski (PSB). Vou repetir algumas frases, porque é isso tudo e mais um pouco: “armação sórdida, rasteira, pequena e antidemocrática”; “dia de luto para esta Casa”; “tudo tramado para pegar todo mundo de surpresa, muito vergonhoso”; “atitudes pequenas para manter e usufruir do poder”; “nada mais velho, sórdido e encardido da política” e, para fechar: “o termo mais próximo para resumir isso aqui é ‘nojento”.
Dupla dinâmica
Tão favorecido como o aliado Erick na articulação, o vice-presidente da Mesa, Marcelo Santos (PDT), que também permanecerá no cargo até 2023, conduziu a eleição de cima do pedestal. Cortou o microfone dos deputados que reagiram à manobra, rebateu com certo deboche e arrogância, e ainda vendeu que a Casa era democrática, por permitir a criação de uma chapa adversária em minutos, sem qualquer articulação ou conversa.
Mãos atadas
Fabrício Gandini (Cidadania) pediu que Marcelo fosse razoável, para que não configurasse cerceamento, mas de nada adiantou. “Uma série de novidades importantes tem acontecido aqui e estou tentando entender tanta pressa”. O deputado ainda esboçou alguma tentativa de elaborar uma chapa, mas, claro, sem chances de conseguir.
Era Gratz
Marcelo Santos também não deixou Dary Pagung (PSB) repetir suas críticas divulgadas em nota pública à antecipação da eleição da Mesa, quando remeteu a medida à Era Gratz. No momento que Dary chegou nessa parte, depois de afirmar que não só os deputados estavam entendendo como também os capixabas, o microfone foi cortado.
Só cinco
Fora os quatro acima, o outro voto contrário foi da deputada Iriny Lopes (PT), que igualmente se disse surpresa, e pediu o tempo de conversa e articulação que uma escolha dessa importância exige, além de questionar o método adotado e a falta de diálogo. Também foi ignorada.
Piada
Na votação dos favoráveis a Erick, chamou atenção o comentário de alguns deles. Vandinho Leite (PSDB), Lorenzo Pazolini (sem partido) e Rafael Favatto (Patri) repetiram: “voto sim pela independência entre os poderes”. Pazolini foi além: “independência e processo democrático”. Hã?
É o contrário
Dary Pagung e Gandini responderam, em seus votos. “Para reinar a ditadura nesta Casa, voto não”. Já Gandini: “pela independência dos poderes, voto não”.
‘Manual’
Erick Musso, em seu pronunciamento como eleito, afirmou que não havia preparado sua fala, como costuma fazer, e que essa viria de “todo coração”. Só o óbvio. Garantiu a manutenção do apoio ao governo e exaltou o seu trabalho à frente da Casa e sua trajetória política aos 32 anos. “Tem que ter muita humildade, palavra e pezinho no chão”. Ô, se tem!
PENSAMENTO:
“As grandes coisas podem ser reveladas através de pequenos indícios”. Sigmund Freud