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Cinema de graça

Andam dizendo por aí que os jornais – pelo menos no formato tradicional, estão com os dias contados. Nas minhas visitas anuais ao Brasil percebo que jornais e revistas continuam sendo impressos e comprados, com várias pessoas a ler (ou ‘correr os olhos’) cada exemplar. Nesse lado do Hemisfério Norte onde atualmente me escondo, eles ainda são impressos, mas encolhendo em tamanho e tiragens, lidos por leitores cada vez mais velhos. Sobreviverão?
 
O rádio também já esteve na lista das espécies em extinção, mas conseguiu dar a volta por cima e se reinventar. Todos juravam que o cinema o enterraria, mas esse também sofreu abalos, sendo quase  nocauteado pelos vídeos – esses, sim, no final da linha.  Tal como o rádio, o cinema também deu a volta por cima, atraindo o público jovem, enquanto os convencionalmente chamados adultos preferem o conforto da poltrona, com HBO e Netflix.
 
Quem vai ao cinema é a turma jovem, e os acima dos 40 geralmente vão  para acompanhar a pirralhada.  Procuro no Google o primeiro cinema do mundo, e as respostas variam: a) o Salão Indien do Grand Café, no Boulevard des Capucines, em Paris, em 1895, onde os irmãos Lumiere fizeram a primeira exibição pública e paga de um filme; b)  o Teatro Berlin  Wintergarten, em 1895, quando os irmãos Skladanowsky exibiram seu primeiro filme; c) o L'Idéal Cinéma, em Aniche, França, inaugurado em 1905, sendo o cinema mais antigo do mundo ainda funcionando.
 
O primeiro cinema da América foi o Nickelodeon. Em junho de 1905, em Pitsburgo, na Pensilvânia, os donos levaram 96 cadeiras para uma loja vazia, tornando-a a primeira sala de projeção no mundo todo criada exclusivamente para tal fim.  O nome foi tirado do preço do ingresso, um níquel, e a palavra teatro em grego, odeon. O primeiro filme apresentado foi  “O grande roubo do trem”, feito em 1903. Esse também foi o primeiro cinema a passar filmes o dia todo. O sucesso foi imediato, e  milhares de nickelodeons brotaram por toda a América.
 
Mas nem tudo sobre cinema a gente  encontra no Google. Nos meus bons tempos de Alegre tinha um elegante casal que ia ao cinema todas as noites, faça chuva ou lua cheia. Os filmes não mudavam todos os dias, acho que eram dois apenas por semana, mesmo assim, eles compareciam, e muitas vezes eram os únicos na plateia. Mudaram para Vitória, onde tinham mais cinemas e boas opções de filmes, mas nunca mais foram ver um filme sequer.
 
E tem a garota cujo avô era o dono do único cinema local, com um filme por semana. Que ela não via, mesmo não tendo que pagar ingresso, porque odiava cinema! O mundo dá voltas, quem não morre no meio do caminho vira adulto, envelhece, fica no mesmo lugar ou muda para outras paragens. Hoje ela mora em outro hemisfério e não perde os últimos lançamentos, apesar do preço dos ingressos. E sempre que pode, tenta se ‘atualizar’, vendo os clássicos que não viu de graça no cinema do avô.

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