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Governo do Estado abre consulta sobre destinação de ‘posto fantasma’ em Mimoso do Sul

Um dos maiores escândalos da primeira Era Hartung, as obras do posto fiscal São José do Carmo, em Mimoso do Sul, volta à tona no terceiro mandato do governador. Nesta segunda-feira (23), a Secretaria de Estado de Gestão e Recursos Humanos (Seger) abriu uma consulta pública atrás de interessados na exploração econômica privada da área às margens da BR-101, que ficou conhecida como “posto fantasma”.  O caso é alvo de polêmicas até hoje, tanto que Paulo Hartung (PMDB) e mais sete pessoas são alvos de uma ação de improbidade na Justiça estadual.

No texto da consulta, o local passa a ser tratado como um novo empreendimento: posto de parada e descanso, voltado aos motoristas que fazem o transporte de cargas e passageiros. Um objeto bem diferente do inicial que era, de acordo com o governo em 2005, a construção de um posto fiscal para melhoria na fiscalização dos caminhões de carga que passavam pela divisa com o Rio de Janeiro. Quase três anos depois, a gestão Hartung considerou o investimento como obsoleto, devido ao advento das notas fiscais eletrônicas e a melhoria na gestão tecnológica, apesar dos gastos com a desapropriação dos terrenos e a realização das obras.

O edital pede aos interessados que indiquem a contrapartida financeira ao Estado pela utilização do imóvel, bem como da exploração comercial do empreendimento. O local foi dividido em três imóveis, que somados têm área de 224 mil metros quadrados. O prazo de concessão é de 30 anos, sendo que as eventuais selecionadas terão 24 meses para concluir as obras, uma vez que não há qualquer edificação no local. A consulta pública vai até o próximo dia 23 de fevereiro. A Seger informou que a “consulta pública não constitui compromisso de contratação”.

Além das nove respostas que deverão ser respondidas pelos interessados – todas relacionadas sobre as formas de aproveitamento da área, custos da operação e estimativas sobre faturamento –, o edital traz ainda imagens atualizadas do local. É possível observar que o local não mudou muito desde que o escândalo veio à tona, em 2013, ainda durante o governo Renato Casagrande (PSB). Na ocasião, o Ministério Público Estadual (MPES) ajuizou uma denúncia de improbidade contra Hartung e mais sete integrantes de seu governo. Naquela época, Casagrande defendeu os atos de seu antecessor, passando a citar as obras – desta vez, de forma pejorativa – quando disputou a reeleição em 2010, quando foi derrotado por Hartung.

O “posto fantasma” também foi alvo de apurações no Tribunal de Contas (TCE) após representação do órgão ministerial junto à Corte e na Assembleia Legislativa, que chegou a cogitar a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). O deputado Euclério Sampaio (PDT) denunciou à época uma tentativa de “maquiagem” nas obras por parte do governo Casagrande. Em relação à ação de improbidade, o governador e os demais envolvidos foram absolvidos no juízo de 1º grau, porém, o Tribunal de Justiça anulou a sentença e exigiu a reapreciação da denúncia – que ainda não ocorreu devido à análise de novos recursos.

Na denúncia inicial (0007690-58.2013.8.08.0024), o MPES acusou Hartung de ter feito suplementações às obras, enquanto os demais são acusados de atuarem diretamente ou terem homologado os contratos relativos à empreitada.  Para a promotoria, os acusados “torraram R$ 25 milhões do erário sem a produção de qualquer utilidade ou retorno social para a população”. No recurso ao Tribunal de Justiça, o promotor Dilton Depes Tallon Neto, autor da ação, classificou a sentença (posteriormente anulada) como um “salvo-conduto” para todos os agentes públicos desperdiçarem recursos públicos.

Na decisão prolatada em março de 2013, a juíza Telmelita Guimarães Alves, então lotada na 3ª Vara da Fazenda Pública Estadual, considerou que não houve o desperdício de dinheiro público nas obras. Ela acolheu a tese da defesa, que sustentou a legalidade das decisões pela construção e sucessiva desativação do posto fiscal. Já o representante do MPES entendeu que a magistrada teria encampado uma “versão insustentável” ao afirmar que não houve prejuízo na obra.

Também foram denunciados os ex-secretários da Fazenda, José Teófilo de Oliveira (que foi sócio de Hartung em um escritório de consultoria), Bruno Pessanha Negris (atual subsecretário da Fazenda); o ex-secretário de Transportes e Obras Públicas, Neivaldo Bragato (atual chefe de Gabinete de Hartung); o ex-diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem do Estado (DER-ES), Eduardo Antônio Mannato Gimenes; além dos servidores Marcos Antônio Bragatto e Dineia Silva Barroso, que faziam parte do Conselho de Administração do DER-ES à época, juntamente com Luiz Cláudio Abrahão Vargas.

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